Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) e autora no Portal CEN, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores.
...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
Tanto ou mais do que os longos anos de fumo e os eventuais erros alimentares, penso que a colecção de pielonefrites que me tem massacrado nos últimos anos, deve ter tido uma importante palavra a dizer neste enfarte seguido de ruptura da coronária. Já não consigo recordar-me se foi a esquerda ou a direita, embora estivesse com os olhos postos no monitor, já que, em mim, a curiosidade científica parece ser mais forte do que o medo de morrer e até do que a dor extrema.
O que eu considero mais estranho é o facto de estar, na altura, com uma pielonefrite e nem sequer ter dado por ela. Mas estava mesmo e, pela primeira vez em toda a minha vida, a bacteriazinha hiper-resistente que há muito foi referenciada como bactéria hospitalar, andava a fazer das suas no meu organismo sem que eu - mea culpa - recorresse a auxílio.
Por ela fiz uns bons dias de isolamento e voltei a repetir o protocolo por duas vezes, por causa da gripe A. O primeiro isolamento foi ainda em Santa Cruz e o segundo (muito rigoroso) no hospital de Egas Moniz, depois de me ter sido diagnosticada uma pneumonia, bem como nova positividade no muco das zaragatoas para pesquisa do vírus da tal malvada gripe A.
A dor toráxica ficou. Menos forte, mas facilmente exacerbada por pequenos esforços e posições. Penso que não seja muito comum, mas os casos de ruptura da coronária também não devem ser muito comuns, sobretudo quando se lhes sobrevive.
Todas as manhãs, sem excepção, me arrasto pela casa durante horas com uma sensação de lipotimia iminente e, por muito que tente que assim não seja, toda a minha combatividade fica concentrada em mim mesma. No meu corpo. Na sua incapacidade de fazer as pequeninas coisas que, dantes fazia, automaticamente.
Peço esculpa por não lhe ter ainda telefonado. Irei agora ler a sua produção poética de ontem.
Realmente as pielonefrites de repetição costuma ser um calvário , essencialmente nas mulheres que fazem infecções urinárias de repetição, mais por razões anatómicas que por razões de género. Quando têm a sua etiologia em agentes causais de origem hospitalar, pior, porque a resistência aos antimicrobianos é frequentíssima, face a tantos doentes infectados que ali se encontram e trazem os seus "bichinhos" para tratamentos que também são tratados por múltiplos fármacos, aos quais vão adquirindo resistência. Depois transmitem-se de hospedeiro para hospedeiro, daí que os hospitais sejam os maiores centros e agências de infecções transmissíveis a quem os frequenta. São as chamadas infecções nosocomiais. Mas tratam-se, embora muitas vezes já sejamos portadores inócuos, mas quantas vezes com isolamentos de contacto nos vários internamentos necessários. Penso que o seu enfarte do miocárdio (deduzo pelo exposto) não terá correlação com as pielonefrites, pois trata-se de uma patologia isquémica, mais ligada aos factores de risco cardiovascular, como hipertensão arterial, dislipidemias, diabetes, hábitos tabágicos, etc... no entanto há causas que por vezes acabam por ser sinérgicas dos efeitos nefastos. Quanto à dor de esforço, tratar-se-á com toda a probabilidade do angor (angina) resultado da isquemia, ou seja, tecidos musculares cardíacos (neste caso) que deixaram de ser irrigados e, por isso mesmo, isquemiaram. É como uma horta viçosa em que algum cantinho fica sem rega e seca (permita-se a comparação). Essa dor de esforço e o cansaço, serão pois a "angina de peito" que fica pós isquemia (enfarte). Desejo-lhe as melhoras, até porque nesta coisa das isquemias, há sempre a hipótese de uma ligeira revascuarização por reaparecimento de novos vasos sanguíneos (chamada angiogénese) que serão supletivos, embora não façam o milagre de regeneração de toda a área isquemiada. Desculpe a delonga, mas os médicos treteiros são assim, quando tentam explicar as coisas, mesmo que vagamente. Um beijo de amizade
revascularização e não revascuariazção...com a pressa de escrever nos joelhos ficaram alguns lapsos , mas emendo este que dá muita confusão a quem não conhecer o termo. minhas desculpas.