UM SONETO A SANCHO PANÇA
UM SONETO A SANCHO PANÇA
*
Foge-me o pensamento do soneto,
salivo e penso em pão. É mesmo assim,
pois quando a fome aperta não prometo
pugnar pelo soneto até ao fim
*
Embora seja um crime o que cometo
se o frémito ao passar me toca a mim
e, por me achar famélica, o remeto
pra depois de uma sopa e de um pudim...
*
São as coisas mesquinhas que o esqueleto
impõe a todos nós, neste ínterim
da crise que nos faz ver tudo a preto...
*
Absurdo, amigos meus, seria, enfim,
esquecer que o corpo cede ao que é concreto
e troca por um pão Musa e espadim.
*
Maria João Brito de Sousa
23.06.2015 – 15.01h
***
(Do meu baú das finíssimas ironias)