Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

poetaporkedeusker

poetaporkedeusker

UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
21
Set23

UM PASSEIO COM CUSTÓDIO MONTES

Maria João Brito de Sousa

COM A ARVORE DA BORRACHA (4).jpg

UM PASSEIO COM CUSTÓDIO MONTES
*
Coroa de Sonetos
*

1.
*

Ao andar, a tristeza vai-se embora

Que vejo lindas moças a passar

Também cravos e rosas ao olhar

E vem-me uma alegria acolhedora
*

Desenvolvo, ao andar, força motora

Que me faz ir mais longe a caminhar

Fortalecem-se os músculos a andar

Sentindo-me melhor a cada hora
*

Vejo cravos e rosas, raparigas

Que me inspiram no verso e nas cantigas

Ao olhar o seu rosto e o seu seio
*


Vejam bem o que ganho, pois remoço

Ao andar sem cansaço e pouco esforço

E a ver coisas lindas no passeio
*

Custódio Montes
19.9.2023
***

2.
*

"E a ver coisa lindas no passeio"

Apesar dos tropeços e dos sustos,

Sou tentada a espreitar entre os arbustos

De onde emana um dulcíssimo gorgeio
*


Um melro distraído em seu recreio

Consigo vislumbrar sem grandes custos

E sinto-me a mais brava dentre os justos

Por ter vencido incómodo e receio!
*


Correm crianças junto do canteiro

Nestes cinquenta metros do carreiro

Que vai da minha porta ao cafezinho
*


Mas não fora a bengala que me ampara,

Nem esse quase nada eu avançara

Que é cada vez mais duro o meu caminho...
*

Mª João Brito de Sousa

19.09.2023 - 16.00h
***


3.
*
“Que é cada vez mais duro o meu caminho”

Porque já avançou a minha idade

E mesmo que eu siga com vontade

As pernas já me cansam um pouquinho
*


Mas para mostrar força ao vizinho

Na rua vou com mais velocidade

Levanto o peito impante com vaidade

E para não sofrer vou com jeitinho
*

Faço por parecer que sou um jovem

E para que os que passem o comprovem

Eu ando com um ritmo bem veloz
*

Mas quando chego a casa já cansado

Deito-me a descansar um bom bocado

E só mostro a fraqueza quando a sós
*


Custódio Montes
19.9.2023
***

4.
*
"E só mostro a fraqueza quando a sós"

Me encontro com meus versos... mas sem Musa

Porque ela odeia ver-me assim, contusa,

E ainda que me tolha dor atroz
*

Monta no seu cavalo e vai veloz,

Sem qu`rer sequer ouvir a minha escusa,

Pra onde o corpo meu se me recusa

A tentar alcançar, ficando nós
*


Eu e a dor que maldigo e me maldiz,

Achacada talvez, não infeliz,

Que sempre acabo assim, nem mal, nem bem:
*


Acostumada à dor já eu vou estando

E se uma musa parte cavalgando,

Outra qualquer ressurge e me sustém!
*


Mª João Brito de Sousa

19.09.2023- 20.00h
***

5.
*
“Outra qualquer ressurge e me sustém”

E assim eu vou andando devagar

Sento-me na parede, volto a andar

A musa às vezes vai atrás também
*


Por norma inspiração ela contém

Pensa, escreve, corrige sem parar

Eu tomo as minhas notas e a olhar

Caminho mais um pouco e o verso vem
*

O tempo passa, anda mais depressa

A musa vai-se embora e regressa

Outras vezes amua e vai embora
*

Quando chego a casa já nem sei

Se o verso se compôs e se rimei

Ou se o poema vem ou se demora
*

Custódio Montes
20.9.2023
***

6.
*

"Ou se o poema vem ou se demora",

Eis o que a toda a hora me espicaça

A alma, sob a velha carapaça

Do corpo estropiado no qual mora
*


E enquanto envelhecendo, hora após hora,

Esta estranha incerteza me trespassa,

Vou-me enchendo de rugas porque a traça

Se faz pagar bem cara... mas valora!
*


Passeio - mais por dentro que por fora-

E nasce em mim a fauna e cresce a flora

Que o tempo em mim semeia enquanto passa
*


E quanto mais o tempo me decora,

Mais este corpo gasta e det`riora,

Mas mais a minha Musa aumenta em graça!
*


Mª João Brito de Sousa

29.09.2023 - 14.30h
***

7.
*

“Mas mais a minha musa aumenta em graça!”

Porque tem lá por dentro o pensamento

Que extravasa cá fora de momento
*

E apanha com élan tudo o que passa

Depois juntando a musa à sua raça

Envolve o seu poema com talento
*

Que a gente sabe bem ser um portento

E cobre-o de beleza e assim o enlaça
*

Andar é bem preciso para mim

Porque se não andasse julgo, enfim,

Que a minha musa nunca me ajudava
*

A dar um lindo enfeite ao meu poema

E para o escrever era um dilema

Porque estando eu parado ela amuava
*

Custódio Montes
20.9.2023
***

8.
*

"Porque estando eu parado ela amuava"

Tal como a minha amua se eu, teimando,

Me esforço para andar e tropeçando

Caio e nem sequer saio de onde estava...
*


Porém, não sendo dela mera escrava,

Posso bem dispensá-la... ao meu comando

Irá meu coração, mesmo mancando,

Cobrar da Musa o que ela me cobrava
*

Se o cavalo-de-fogo é meu também,

Se somos filhas de uma mesma mãe

E de um só corpo estamos dependentes
*

Somos apenas uma, tu e eu...

Sofrerá uma o que outra já sofreu,

Chorando um dia e, noutro, sorridentes.
*


Mª João Brito de Sousa

20.09.2023 - 20.20h
***

9.

*
“Chorando um dia e, noutro, sorridentes”

Porque a alma e a musa em unidade

Andam, mesmo paradas, na cidade

Trabalham como moiras permanentes
*

Não descansam e até mesmo doentes

Andam a magicar, pois, na verdade,

Não param no seu reino a majestade

De musa e alma tão eloquentes
*

Mas eu transporto a musa a passear

Que ela segue contente a me inspirar

E se a sinto cansada então descanso
*

Sentamo-nos num banco e encostados

Fica-nos livre a mente e abraçados

Mais facilmente a ideia eu alcanço
*

Custódio Montes
20.92023
***

10.
*

"Mais facilmente a ideia eu alcanço",

Mais esta tresloucada e velha Musa

Correndo se me escapa e me recusa

Do verso o suave e pendular balanço...
*


Ainda agora, qual touro não manso,

Tentou mudar de ritmo... e eu, confusa,

Vi-me aflita, lhe juro, que ela abusa

E não segue o compasso em que eu avanço!
*


Uma única vez me aconteceu,

Vê-la muito mais forte do que eu,

Mudar-me um hemistíquio todo inteiro,
*


Impor-me as cinco sílabas sonoras

E deixar-me um vazio que durou horas

Nas teclas e na tinta do tinteiro!
*


Mª João Brito de Sousa

20.09.2023 - 22.30h
***


11.
*
“Nas teclas e na tinta do tinteiro”

Ficou-me o pensamento a fraquejar

A ideia foi-se embora e a baralhar

A palavra ficou sem paradeiro
*

Andei a procurá-la o dia inteiro

Foi-se a manhã e a tarde a procurar

A noite apareceu e ao acordar

Encontrei-a bem junto ao travesseiro
*


Falei com ela, amei-a, fiz-lhe festas

Ficou muito feliz, limou arestas

Levou-me à porta, então, da poesia
*

Palavra harmoniosa, obrigado

Encontrei o teu rumo e encontrado

Deixaste-me inundado de alegria
*

Custódio Montes
20.9.2023
***

12.
*

"Deixaste-me inundado de alegria"

O coração que quase me parou

Quando senti que alguém me sequestrou

O dom de dominar a melodia
*


E já só me restava o que saía,

Qual disco velho que outro alguém riscou...

Sim, meu amigo, o susto já passou

E serenou-me a mão que então tremia,
*


Mas não me sinto ainda bem segura

De nunca mais viver esta loucura,

Esta impotência face à poesia
*


Este não conhecer-me em quem eu era

E a sensação de ser eterna a espera

A que me condenou esta avaria!
*


Mª João Brito de Sousa

21.09.2023 - 00.00h
***
13.
*

“A que me condenou esta avaria!”

Mas andar faz-me bem ao coração

Alivia-me a mente e a tensão

E vejo cravos, rosas, harmonia
*


Inspira-me a vereda que me guia

A ver e encontrar o pontilhão

Que atravesso com toda a atenção

E chego logo ao cais da poesia
*


Salto dentro, onde encontro a palavra

E vou lançando a ideia e sigo a lavra

Com harmonia, gosto e com carinho
*

Descanso, sinto cheiros, vejo flores

E penso, nessa altura, nos amores

Fazendo-lhes poemas no caminho
*


Custódio Montes
21.9.2023
***


14.
*
"Fazendo-lhes poemas no caminho"

Está o nosso passeio quase findo

E devo-lhe dizer que foi bem lindo,

Embora me pareça, a mim, curtinho...
*


Ainda que eu não tenha um passo asinho

E me atrapalhe para o ir seguindo...

Outro virá e eu esperarei sorrindo

Que da próxima vez não vá sozinho
*

Porque embora tolhida e vagarosa

Quero poder ver uma ou outra rosa

Dessas que brotam da terra onde mora
*

E passo a passo, ainda que me assuste,

Sei que o que diz não é nenhum embuste:

"Ao andar a tristeza vai-se embora"!
*


Mª João Brito de Sousa

21.09.2023 - 13.15h
***

 

Na fotografia, eu com a minha saudosa Ficus elastica, nos alvores deste século

14 comentários

Comentar post

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Em livro

DICIONÁRIO DE RIMAS

DICIONÁRIO DE RIMAS

Links

O MEU SEBO LITERÁRIO - Portal CEN

OS MEUS OUTROS BLOGS

SONETÁRIO

OUTROS POETAS

AVSPE

OUTROS POETAS II

AJUDAR O FÁBIO

OUTROS POETAS III

GALERIA DE TELAS

QUINTA DO SOL

COISAS DOCES...

AO SERVIÇO DA PAZ E DA ÉTICA, PELO PLANETA

ANIMAL

PRENDINHAS

EVOLUÇÃO DAS ESPÉCIES

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE POETAS

ESCULTURA

CENTRO PAROQUIAL

NOVA ÁGUIA

CENTRO SOCIAL PAROQUIAL

SABER +

CEM PALAVRAS

TEOLOGIZAR

TEATRO

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D

FÁBRICA DE HISTÓRIAS

Autores Editora

A AUTORA DESTE BLOG NÃO ACEITA, NEM ACEITARÁ NUNCA, O AO90

AO 90? Não, nem obrigada!