DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXX
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"A Morte de Safo" - Miguel Carbonell Selva
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DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXX
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Formosos olhos, que na idade nossa
Mostrais do Ceo certissimos signais,
Se quereis conhecer quanto possais,
Olhai-me a mim, que sou feitura vossa.
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Vereis que do viver me desapossa
Aquelle riso com que a vida dais:
Vereis como de Amor não quero mais,
Por mais que o tempo corra, o damno possa.
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E se ver-vos nesta alma, emfim, quizerdes,
Como em hum claro espelho, alli vereis
Tambem a vossa angelica e serena.
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Mas eu cuido que, só por me não verdes,
Ver-vos em mim, Senhora, não quereis:
Tanto gôsto levais de minha pena!
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Luís de Camões.
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Tal como pelo Céu, por vós aspiro
Não tão serena quanto imaginais
Porquanto inda de vós não vi signais
E em minha solidão por vós suspiro
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Tão queda estou, Senhor, neste retiro
Onde mal chega o canto dos pardais
Que não posso entender porque julgais
Que dessa vossa pena gôsto tiro
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Não podendo fugir de penas tantas
Suplico-vos, Senhor: Não me julgueis
Sem que antes tenhais vindo confirmar
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Que presa à terra vivo como as plantas
E só almejo o dia em que volteis
Para nos vossos olhos me mirar.
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Mª João Brito de Sousa
03.05.2024 - 10.530h
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O soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita