DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXVI
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DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXVI
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DOCES E CLARAS ÁGUAS DO MONDEGO
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Doces e claras águas do Mondego,
Doce repouso de minha lembrança,
Onde a comprida e perfida esperança
Longo tempo apos si me trouxe cego,
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De vós me aparto, si; porém não nego
Que inda a longa memoria, que me alcança,
Me não deixa de vós fazer mudança,
Mas quanto mais me alongo, mais me achego
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Bem poderá a Fortuna este instrumento
Da alma levar por terra nova e estranha,
Offerecido ao mar remoto, ao vento.
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Mas a alma, que de cá vos acompanha,
Nas azas do ligeiro pensamento
Para vós, águas, vôa, e em vós se banha.
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Luís de Camões
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Também pra mim, Senhor, esse Mondego
Tem tantas graças, tão doces mistérios
Que o ouço a marulhar nos céus etéreos
Nos quais passeio o meu desassossego
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Ó rio que és de meu pai, nada te nego
E, se os tivesse, dar-te-ia impérios
Dos que, feitos de amor, são deletérios
Pra todo o que ao amor se mostre cego...
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Ponho-te ao lado do meu Tejo manso
E se recordo, agreste, o velho Douro,
Três sois, se está correcto o meu balanço:
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Tu, meu Tejo moreno, és o meu mouro,
Tu, Douro, a minha garra e o seu remanso
E tu, Mondego, o meu gentil calouro.
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Mª João Brito de Sousa
20.04.2024 - 10.00h
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Memorando o poeta António de Sousa, por Vitorino Nemésio apodado de "poeta dos três rios" por ter nascido no Porto, estudado e casado em Coimbra onde o meu pai nasceu, e vivido os seus últimos anos junto ao Tejo, no Concelho de Oeiras.
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O soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita