Maria João Brito de Sousa
SEM TÍTULO VII *
Num verso me quis dar, em versos me fui dando,
Como se em verso amando eu mais pudesse amar,
Ou como se cantar fosse ir-me, a mim, doando
Nunca sabendo quando insistir... ou parar. *
Depois de a mim me achar, quiçá, frutificando
E em tudo me adequando a quanto ousei cantar,
Talvez reflicta o mar, talvez vá naufragando
E vá o mar cantando os versos que eu calar... *
Se pareço falar de mim, tão só de mim,
Não vos direi que sim, nem vos direi que não,
Mas esta embarcação transmuta-se em jardim *
E não há espaço em mim para a tripulação
Que dela fez seu chão e nela viu seu fim:
É, afinal, assim que não se embarca em vão. *
Mª João Brito de Sousa
16.11.2022 - 11.00h ***
Soneto em verso alexandrino com rima dupla (intercalada)
publicado às 11:18
Maria João Brito de Sousa
COISAS QUE SÓ EU SEI *
(em verso alexandrino) *
Não canto essoutro amor cantado à exaustão
Que é fruto da paixão que irrompe como a flor
Quando, no seu esplendor, garante a gestação
A cada geração que seduz pra se impor. *
Cantá-lo por favor, a mim, não me imporão
Que eu moro na canção que eu entender compor
E não ando ao dispor da velha tradição;
Nada faço à traição, nem guardarei rancor *
Porque é com despudor que afirmo que cantei
Coisas que só eu sei e outras que, não sabendo,
Tentei ir aprendendo assim que aqui cheguei; *
A Amor nunca neguei, que o vivi no crescendo
Que a vida foi tecendo enquanto o que sonhei
Cá dentro sufoquei. De amar não me arrependo. *
Maria João Brito de Sousa - 26.02.2021 - 11.35h
publicado às 11:37
Maria João Brito de Sousa
A MÃO QUE O VERSO CRIA
*
(Em verso alexandrino com rima encadeada)
*
Vem quase tudo quando um nada já me chega
Disto que não se nega e cresce em descomando
De encantos se encantando ao ver-me assim tão cega
Que bem mais se me apega assim que, cega, abrando.
*
Disto me vou queixando aquando mal sossega
A mão que tudo agrega e que me vai faltando
Quando mais precisando estou da mão que entrega
Que, hoje, tudo delega até sei lá eu quando...
*
Um nada sobraria e tudo, de uma vez,
Sem comos nem porquês caindo à revelia
Do que ela escandiria ao compasso de um mês,
*
Parece-me, talvez, pedir em demasia...
Mas quem impediria o verso, um descortês,
De aninhar-se onde o fez a mão que o verso cria?
*
Maria João Brito de Sousa – 13.07.2018 – 13.11h
*
publicado às 08:00
Maria João Brito de Sousa
(Soneto em verso alexandrino)
Adoro, ao pôr-do-Sol, ver a noite cair
Sobre esta minha rua, esta rua onde moro,
E por sobre a calçada amada ver surgir
Em raios de luar a luz com que a decoro.
Amanhã, se acordar, hei-de vê-la a florir!
Há sempre um “se” eu sei, mas nunca, nunca choro,
Tal como nunca sei se irei, ou não, mentir,
Dizendo não pedir, pois nunca nada imploro.
Passa a noite a correr. Nem dei por que passasse
Conquanto a sono solto um sonho cavalgasse...
E, quanto à rua amada, amor, vejo-a sem ti,
Pois por mais que no sonho ansiosa o procurasse
Não mais vi, nesta rua, abrigo que abrigasse...
Rua da qual gostasse, amor, não mais a vi.
Maria João Brito de Sousa – 12.09.2017 – 08.29h
publicado às 12:06