Maria João Brito de Sousa
Bom dia para ti, que me vais ler!
Não sei que horas serão neste momento,
Se o Sol, lá fora, brilha, se faz vento,
Se o céu cumpre a promessa de chover,
Se a Lua se deitou, sempre a esconder
O seu lado invisível, se, ao momento,
Ousou tapar com nuvens que eu invento,
O brilho do que está pr`acontecer…
Desejo, para ti, boa leitura,
Um instante de paz, de reflexão,
Um sorriso, talvez… sabe-se lá!?
O instante de um sorriso, é quanto dura
Este rasto, esta estranha sensação
De, mesmo estando só, ter-te por cá…
Maria João Brito de Sousa - 21.09.2009 - 10.45h
publicado às 10:45
Maria João Brito de Sousa
Ei-la que chora e ri... parece humana!
E veste um vestidinho de algodão...
Cuidado! Não vás tu deitar ao chão,
A bonequinha nova da Joana…
O melhor é pousá-la ali, na cama,
Não vá vir, de repente, a tentação
E a boneca, ao passar de mão em mão,
Estragar-se, ou demanchar-se! Ouviste-me, Ana?
Ó Ana! Larga já essa boneca!
Já lhe partiste um braço?! Eu logo vi!
És mesmo a mais teimosa das crianças!
Puxa que puxa… agora está careca,
Perdeu as tranças e nem faz chichi,
Quando a graça lhe vinha era das tranças...
Maria João Brito de Sousa - 18.09.2009 - 12.16h
IMPORTANTE - Peço, mais uma vez desculpa à Fábrica de Histórias ( a toda ela! :) mas não me foi possível terminar, a tempo, o texto desta semana.
Até à próxima segunda feira e um bom fim-de-semana para todos vós.
publicado às 12:16
Maria João Brito de Sousa
Gaivotas numa praia, quais sereias,
Criaturas de Deus na Criação…
Olhar uma gaivota é condição
De vislumbrar, do mundo, as panaceias.
Deixai-as passear sobre as areias!
Deixai-as ser gaivotas, como são,
Pois têm, como nós, sua função
Nesta poalha cósmica de ideias!
Equilibra-se o mundo de tal forma
Tudo está de tal forma interligado
Que cada passo em falso pode ser
A gota de água a mais que o caldo entorna.
Gaivotas numa praia. Um mundo alado
Em vias de acabar por se perder…
Maria João Brito de Sousa - 14.09.2009 - 11.36h
publicado às 11:36
Maria João Brito de Sousa
Tu sabes lá dos dias que passaram
Sobre aquele outro dia em que eu chorei,
Ou mesmo dos mil sonhos que sonhei
E que outros, como tu, nunca sonharam...
Saberás quantos anos se somaram
Às mil horas reais, se nem eu sei
Se alguma vez soubeste o quanto amei,
Nem quantos me disseram que me amaram?
Agora, se te lembro, é de fugida,
Como a ave que pára por momentos
Num ramo que encontrasse no caminho
E logo voa rumo à sua vida
Sem demorar-se, sem ressentimentos
E sem mais se lembrar do tal raminho…
Maria João Brito de Sousa - 23.09.2009 - 17.04h
Foto tirada com a Webcam do 2008 e, após grandes malabarismos informáticos, trazida para o poetaporkedeusker.
publicado às 17:04
Maria João Brito de Sousa
Julgava-se imortal. Mesmo imortal.
Isento das noções de “mal” ou “bem”,
Dependente de nada e de ninguém,
Um ser dif`rente, muito embora igual.
Jamais aceitou ser um animal.
Julgou ser mais e ninguém soube quem
O ensinou a “ser” ou se houve alguém
Que decretou, enfim, o seu final…
Morreu há muito tempo. Agora jaz
Num qualquer cemitério, transmutado
No húmus do que em si nunca aceitou.
Pobre imortal que assim alcança a paz
Na negação do próprio enunciado
Com o qual definiu o que o negou…
Imagem retirada da internet
publicado às 16:29
Maria João Brito de Sousa
Nessas mãos intocadas, intocáveis,
Retalhadas por longos sulcos fundos,
Desenham-se as promessas de mil mundos
Sobre a ausência de afectos mais duráveis.
Há medos, nessas mãos, há insondáveis
Abismos que prometem ser profundos,
Segredos dos mais duros, mas fecundos
Projectos, ambições, sonhos prováveis...
São essas mesmas mãos, assim magoadas,
Tão cobertas de rugas e memórias,
De tudo tão vazias, `stando cheias,
Que se erguerão, embora decepadas,
Para se revelarem nas mil glórias
Das mais surpreendentes epopeias…
Maria João Brito de Sousa, 2.08.2009 - 14.08h
(reformulado - Setembro, 2016)
Imagem retirada da internet
publicado às 14:08
Maria João Brito de Sousa
Olha o comboio-das-desilusões!
Vai agora a passar à nossa porta…
Pode descarrilar… a linha é torta
E as carruagens vão aos abanões…
É desastre eminente! As aflições
Daquela pobre gente meia-morta!
Não gosto dessa imagem! Corta! Corta!
É melhor esvaziar já os vagões!
Vai filmando o comboio-de-ideais
Que passou mesmo agora e não parou.
Olha! Não estás a ver? Ali ao fundo…
Mas, se ainda o não vês… não filmes mais!
O primeiro `inda não descarrilou
Nas retorcidas linhas deste mundo…
Imagem retirada da internet
publicado às 13:32
Maria João Brito de Sousa
Ó louco, absurdo, obsceno, insano amor
Que nem sequer amor chegou a ser,
Mas que se fez cumprir no renascer
Dum tão precocemente imenso ardor.
Ah! Quantas ilusões e quanta cor,
E quanto acreditar, quanto não ver
Que já está condenado, irá morrer
Nos últimos alvores da nossa dor.
[Schopenauer escreveu – e muito bem –
Sobre este estranho amor inevitável
Tão típico de nós e tão comum
Que ao condenar-nos tanto nos convém.
Paradoxos da vida! … O improvável
É passar pela vida sem nenhum…]
Imagem retirada da internet
COMETAS
"Quando os aerólitos formam um grupo, vivendo em sociedade, constituem a parte principal de um cometa. O núcleo, ou seja, a parte central mais brilhante da cabeça do astro, é formado por milhões de aerólitos viajando agrupados."
In "Viagens Maravilhosas às Terras do Céu" de César dos Santos.
Lisboa, 1950
publicado às 12:25
Maria João Brito de Sousa
Apeteceu-me agora um malmequer,
Um raio de luar, um céu estrelado,
Um castelo de luz, imaculado,
E um vestido de rendas…de aluguer.
Apeteceu-me agora ser mulher,
Suspirar pelo príncipe encantado
Que vem buscar-me num cavalo alado…
Apeteceu-me ser outra qualquer!
Para mim, que me sei como me sou,
Antes um sapo numa poça de água,
Antes uma casinha de madeira!
Umas calças de ganga e já cá estou!
Não há sonhos reais e nem a mágoa
Fará de mim princesa e prisioneira!
Imagem retirada da internet
publicado às 11:34
Maria João Brito de Sousa
Esconde-se, desvelada em mil segredos…
Depois, se a lua-cheia a vem beijar,
Revela-se no céu, põe-se a brilhar,
Livre dos infundados, loucos medos.
Tento agarrá-la, então, entre os meus dedos
E ela foge de mim, sempre a brincar
Por entre os brancos raios de luar,
Por cima do mar bravo e dos rochedos…
Ninguém jamais a viu, ninguém a teve,
Ninguém sabe dizer de que cor é,
Qual é a sua forma, o que contém…
Passa por mim e eu quero que me leve
Até ao limiar da minha fé
E ainda, depois disso, um pouco além!
Imagem retirada da internet
publicado às 11:46
Maria João Brito de Sousa
Luar de Lua-nova em que descansa
Um homem que perdeu sonhos de mundo.
Debruçou-se e caiu. Lá foi ao fundo
Sem ter vara de pesca, rede ou lança.
Foi girando em espiral. Que estranha dança
Dançou ao mergulhar no mar profundo!
Não sabia estar sujo e estava imundo,
Coberto de desonra e de abastança.
Depois sentiu-se bem, ficou lavado
De impurezas reais e do pecado
De ter sido banal, inútil, bruto.
Eternidades mil terão passado
E esse homem voltou muito mudado,
Despido do seu estranho, obsceno luto.
*
Maria João Brito de Sousa - Agosto, 2009
publicado às 12:01
Maria João Brito de Sousa
Homem que dedicaste a vida inteira
Ao sorriso, ao sabor da gargalhada,
Recebe esta homenagem declamada
Que aqui te deixo, à hora derradeira.
Foi rica, a tua humana sementeira!
Se contigo não levas mesmo nada
Serás mais rico. Foi-te consagrada
A honra mais sublime e verdadeira…
Jamais te esquecerão! Jamais serás
Uma coisa passada e já sem uso
Que alguém possa dizer que não faz falta.
Que Deus te tenha agora em sua paz!
P`ra ti estas palavras que conduzo
Entre os mais que te viram na Ribalta…
Imagem retirada da internet
publicado às 14:04