Maria João Brito de Sousa
Eu não te estendo a mão; estendo os poemas
Que tu tentas fazer, mas não consegues
E digo coisas mil que mal percebes
Mas que englobam, também, os teus problemas.
Julgas que sou pedinte e sou apenas
Quem te vai dando mais do que o que pedes
Pois também tu pediste – não o negues!
Por horas menos árduas, mais serenas…
Sabes lá que trabalhos e que esforços
Fazem de mim quem sou, embora tu,
Te atrevas a jurar que fazes mais…
Mas sei que, lá no fundo, tens remorsos;
Revolta-se-te a alma e fica a nu
O rigor com que julgas teus iguais…
Maria João Brito de Sousa
NA FOTO - Eu, ao colo da avó Lylice, o avô poeta e a minha mãe, com a Paloma ao colo.
publicado às 12:04
Maria João Brito de Sousa
PAIDEIA
Ar, água, terra e fogo, entreteceram
O teu grandioso corpo e, na verdade,
Tu não surgiste isento da vontade
De que tantos de nós já se esqueceram.
Pequenos grãos de vida em ti cresceram
Na absurda insensatez de quem te invade,
De quem te pinta, ó mundo cor de jade,
Do sol dessas manhãs que te aqueceram…
Eu não te sei explicar, mas sei sentir-te!
Eu sei sentir-te em mim e, se me sentes,
Ó meu planeta Terra, ó cais de areia,
És mais “eu” do que eu mesma! Vou pedir-te
Que digas a verdade. Se me mentes,
Sou eu que minto à minha própria ideia…
Maria João Brito de Sousa – 07.05.2010
UMA ERVINHA NO CANTEIRO DO JARDIM
De quanto grão de mundo existe em mim
Em átomos pulsantes de energia,
Eu serei sempre a soma do meu fim
Com o raio de sol que me aquecia…
Em verdade te digo; ser assim
Jamais me decepciona ou contraria.
Não mais do que uma haste de alecrim,
Nem menos do que a própria fantasia…
Se te pareço estranha – e sei que sim! –
Espera um pouquinho mais porque a alegria
Está quase a despontar e, qualquer dia,
Terás visto, na terra do jardim,
Uma ervita do campo que subia
Mais alto do que a flor do teu jasmim…
Maria João Brito de Sousa
08.05.2010 – 17.53h
COORDENADAS PARA UM ARCO-ÍRIS
Ao longe, um arco-íris. Se o alcanço,
Se lhe provo o sabor – que apetecível… –
Se um dia me aproximo e, nesse avanço,
O tocar e ele estiver `inda visível…
Porém se, tanto passo e tal balanço
Provar que é realmente inatingível,
Mostrar que, trabalhando sem descanso,
Mesmo assim, alcançá-lo é impossível,
Eu ficarei mais perto um tudo-nada…
Talvez quando eu estiver menos cansada,
Talvez quando ele mudar de posição…
É sempre uma questão de persistência,
De nunca desistir porque a aparência
Nem sempre corresponde à situação…
Maria João Brito de Sousa
08.05.2010 – 17.23h
IMAGEM - A TECEDEIRA DE BARCAS, Maria João Brito de Sousa,
Pastel de Óleo sobre Fabriano montado em tela
publicado às 11:35