AMOR E DOR - Trilogia
"Amor e Dor", Edvard Munch
AMOR E DOR
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Trilogia
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AMOR E DOR NAS FALDAS DO ARARATE
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Chegando ao Ararate, Amor e Dor,
Sentaram-se, cansados da jornada.
Olhando o Monte, a Dor ficou sanada
E, de contente, quis curar Amor:
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Repara, Amor, que eu estava bem pior
Antes de iniciar a caminhada,
Que olhei o Monte e foi-se-me a pontada
E sinto despontar força e vigor!
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Vem ver, para que o mal nunca te chegue,
Para que a praga, ao ver-te, se te negue,
E não possa haver peste que te mate!
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Ouviu-a, Amor. Olhou. Perdeu-se olhando.
Voltou sozinha a Dor, de dor chorando
Por se perder de Amor no Ararate.
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Maria João Brito de Sousa
10.05.2018
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AMOR E DOR II.
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Amor e Dor, brincando se entrechocam
E enredam-se num fio que acaba em nó...
Até então Amor vivera só
E Dor, lá nas lonjuras que se evocam.
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Moram juntos agora e, mal se tocam,
Sentem um pelo outro um mesmo dó:
Amor, que era imortal, desfaz-se em pó
E Dor sucumbe à dor que os nós provocam.
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Nesta paradoxal (des)união,
Sente Amor pela Dor tal compaixão,
Que cega, pra não vê-la sucumbir
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E Dor, que vendo Amor, o julga são,
Mais se enreda nos nós, mais sem perdão
Se obriga a não deixar Amor partir.
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Maria João Brito de Sousa
13.05.2018
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AMOR E DOR
Epílogo
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Pra rematar a saga, Amor consente
Tomar a Dor por esposa e companheira
E já que sendo ainda inexp`riente,
Não sabe o que é passar a vida inteira
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Lado a lado com Dor, que impenitente,
Inflige a Amor insónias e canseira:
Amor está cego e Dor, sendo inocente,
Não pode pressupor ter feito asneira
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Deu-se este enlace em tempos tão remotos
Que nem posso evocar que estranhos votos
Uniram para sempre este casal
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Mas garanto que afirmam ser felizes,
Que deram fruto, tiveram petizes
E se amam. Para o bem e para o mal!
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Maria João Brito de Sousa
14.05.2018
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In "... Até a Neve Chorará Num Dia Quente..."
Euedito, 2018
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