Maria João Brito de Sousa
TRABALHO *
Sou um perfeito exemplo do empenho:
Passo dias e noites acordada,
Trabalho quanto posso e, já cansada,
Continuo de pé... e vou... e venho *
Se quero descrever-me, é num desenho
Em que posso falar estando calada,
Nesta infinda tarefa concentrada
Tal qual fosse talhada de um só lenho *
Não paro de pensar! Só o cigarro
Me acompanha nas horas criativas
Porque, afinal de contas, sou humana *
E esta vocação de deus-de-barro
Que me transforma as mãos em rodas vivas
Já nem me deixa tempo para a cama... *
Maria João Brito de Sousa
28.01.2008 - 11.12h ***
NOTA - Refiro-me ao tempo em que ainda pintava e era assim mesmo que, frequentemente, os meus dias e noites se passavam.
publicado às 13:47
Maria João Brito de Sousa
O, Sagesse, seule capable de nous guider à travers de la vie! O toi qui enseignes la vertu et qui domptes le vice, que serions-nous sans toi, nous et tous les hommes?
C`est toi qui as enfanté les villes, en inspirant aux hommes épars l`amour de la société; c`est toi qui leur as fait rapprocher leurs demeures,
contracter des unions saintes, inventer une langue et une écriture comunes. C`est toi qui as dicté les lois, formé les moeurs, civilisé les peuples.
Je cherche un asile auprés de toi; j`implore ton secours. Content jusqu`ici de suivre en partie tes leçons, aujourd`hui c`est tout entier que je me donne à toi. Un seul jour passé dans le bien et selon tes préceptes, vaut mieux qu`une immortalité coupable.
A quelle puissance aurions nous donc recours plutôt qu`a la tienne, ô toi qui nous donnes la tranquilité de la vie et qui nous ôtes la terreur de la mort?
Cícero, Tusc. 5.2.
L`ARBRE ET SON FRUIT
Sois attentif à l`accomplissement de tes oeuvres, jamais à leurs fruits.
Ne fais pas l`oeuvre pour le fruit qu`elle procure, mais ne cherche pas pour cela a éviter l´oeuvre.
Malheureux sont ceux qui aspirent à la récompense!
Bhagavad-Gita
publicado às 14:22
Maria João Brito de Sousa
Deu-me Deus estas mãos de porcelana
Que em breve irão partir-se e ser-me inúteis...
Não as hei-de gastar em coisas fúteis,
Às mãos que são fugazes como a chama...
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Ponho nas minhas mãos o coração.
Nelas me ponho inteira e me vou dando
E nelas me darei sem saber quando
Deixarão de cumprir essa função...
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São, minhas mãos, meu único instrumento,
A gravação do "eu" sobre o papel
De um caderninho azul que alguém me deu
.
E é nesta missão que reeinvento
A minha eternidade e esqueço o fel
Da dor que nestas mãos já se acendeu...
Maria João Brito de Sousa - 12.05.2008 - 13.17h
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À Ki.
publicado às 13:17
Maria João Brito de Sousa
Eu sou quem nunca cala nem consente
Injustiças e humano desamor...
Talvez por assim ser saiba de cor
Aquilo que, afinal, é mais urgente...
Advogo a justa causa de quem sofre,
Denuncio infracções, aponto o dedo
E, venha o que vier, não tenho medo;
Minh`alma é tão segura quanto um cofre!
Advogarei aquilo que puder
Enquanto esta viagem não termina,
Enquanto o corpo breve me durar
Nas fronteiras de um corpo de mulher
Que Deus me quis ceder, mas predestina
Ao fim da mesma causa milenar...
Maria João Brito de Sousa - 10.05.2008 - 12.35h
publicado às 12:35
Maria João Brito de Sousa
Com estas minhas mãos eu ergo um mundo,
Com estas mesmas mãos, planto-lhe amor
E reinvento em mim, pleno de cor,
O mesmíssimo mar em que me afundo...
Com estas minhas mãos que não descansam,
Que morrem devagar, mas que não param,
Eu escrevo os mil poemas que ficaram
Enredados nas mãos que aqui os lançam...
Com mãos cheias de vida e de certeza,
Com estas duas mãos que Deus me deu,
Reabro uma janela, afasto a dor
E exijo, ao próprio sonho a que estou presa,
Quanto, por minhas mãos, se reergueu,
Quanto nelas cresceu de humano amor...
Maria João Brito de Sousa - 27.04.2008 - 12.22h
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publicado às 12:22
Maria João Brito de Sousa
Eu já chamei o sol quando menina...
Cantava, acreditava e... ele lá vinha!
Não sei se era outro dom dos tais que eu tinha,
Ou se era por ser tão, tão pequenina...
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Assim que o sol chegava, as flores abriam
E havia um cheiro novo no jardim
De terra aberta à flor que havia em mim
(por obra do que os sonhos permitiam...)
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Mas... se nada mudou, s`inda acredito
Naquilo que em menina acreditava,
Se ainda sei sonhar, s`inda me espanto,
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Talvez chamando o sol no que foi escrito
Por estas mesmas mãos com que eu pintava,
Possa ainda alcançar tão estranho encanto...
Maria João Brito de Sousa -10.04.2008 - 11.13h
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09.04.08 - 13.00h
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Dedicado à minha amiga ZoOm e ao Manuel Ribeiro de Pavia, o meu primeiro - e único... - mestre no carvão e na tinta-da-China.
publicado às 11:13
Maria João Brito de Sousa
Eu, obra do meu mar em maré alta,
Sou rocha em erosão, matéria-prima,
E vejo além do sol e voo acima
De um horizonte ao qual sei fazer falta
Porque obreira do pão que há num poema
Que gasta muito pouco ou quase nada
Nestas palavras, quando sou poupada...
Posso não ser herói...(mas tenho pena!)
Idosa quanto baste... Ó pobre imagem
Gritando em voz bem alta aquela idade
Que a pátina do tempo enfeitou já;
Cinquenta e cinco anos de viagem!
E nem vislumbro, ainda, a qualidade,
Ou Estado que não chore o que me dá...
Maria João Brito de Sousa - 26.03.2008 - 11.56h
(No comboio, à vinda do Centro de Emprego...)
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publicado às 11:56
Maria João Brito de Sousa
TANTOS POEMAS POR CRIAR...
*
Importam-se de não falar de mim?
Serei sempre o que digo nestes versos
Por mais que soprem ventos tão adversos
Que, a cada sopro, di tem o meu fim.
*
Também o bravo lírio cresce assim
E tudo é natural, porque os inversos
Se tocam e se tornam controversos
Ecos de Colombina e de Arlequim.
*
Eu, nesta eterna pressa de criar,
Correndo pelos dias, pelas horas,
Num tempo que ao chegar é já passado,
*
Não peço pena! Deixem-me passar,
Que já não tenho tempo pra demoras
E o que está por criar quer ser criado!
*
Maria João Brito de Sousa - 29.01.2008 - 12.39h
publicado às 12:39
Maria João Brito de Sousa
AUTONOMIA
*
Segue em rota frontal de colisão
Com a minha vontade de ser eu,
Na polpa do poema, o que escreveu
Esta determinada, incauta, mão.
*
Não volto atrás, nem nego a decisão!
Tão livre é o poema que nasceu
Que, sendo por mim escrito, não é meu
Pois me ultrapassa em determinação.
*
Cá fico, neste cais de terra e mar,
Olhando essa insensata autonomia
Que, mesmo partilhada, segue em frente
*
Nas asas de um mistério por sondar
Que dá vida ao poema que só qu`ria
Um pouco da atenção de muita a gente.
*
Maria João Brito de Sousa - 25.012008 - 11.58h
publicado às 11:58