Maria João Brito de Sousa
(Em decassílabo heróico)
Porque hoje se acrescenta e se agiganta
A chama dos valores jamais vencidos
Que acende outro amanhã que cresce e canta
Nas brasas da fogueira dos sentidos,
Que ascende, que conforta, que acalanta,
Que faz nascer, cá dentro, indesmentidos,
Os cravos de outro Abril que nos garanta
Direitos e razões quase perdidos,
Eu hoje cantarei… se tempo houver,
Porque o tempo se escoa, um cravo morre
E eu não posso jurar poder, sequer,
Prender não sei o quê, que tanto corre,
Que espreita e que se quer deixar colher,
Mas não tem flor que eu veja, ou pé que eu dobre…
Maria João Brito de Sousa – 25.04.2014 – 17.37h
publicado às 19:20
Maria João Brito de Sousa
(Soneto em decassílabo heróico)
Relembro um rio que em gesto resoluto
Cresce em caudal e soma em quantidade
A mesma urgência com que agora eu luto
E me dá força enquanto houver vontade;
Porque um poder perverso e dissoluto
Se nos impõe, esmagando a dignidade,
Sejamos fio de outro qualquer soluto
Que, em nos enchendo, engendre outra vontade!
Relembro o sangue em veias indomadas
E esta emergência em nós, sempre crescente,
Que nos transforma as mãos mais desarmadas
Em espada erguida sobre o prepotente
Que ensombra as águas vivas, libertadas,
Duma outra força antiga e sempre urgente!
Maria João Brito de Sousa – 15.04.2014 – 10.39h
Ao povo que, desobedecendo a uma ordem directa, invadiu as ruas em Abril de 1974 e transformou um golpe militar numa verdadeira revolução.
A todos nós!
Imagem retirada do Google, sem autoria visível.
publicado às 14:06
Maria João Brito de Sousa
Sem agasalho, quando o frio lho pede,
Nem acessórios, quando necessários,
Não diz palavra em causa que não mede,
Assim que os ventos sopram mais contrários
*
E se ergue o punho contra os salafrários
Ou espuma as raivas que a razão concede,
É por ter mil razões contra os salários
Que só lhe compram fome e pagam sede
*
Passa, invisível, sobre o dia-a-dia,
Vai, devagar, morrendo em contra-mão,
Arremedando a velha alegoria
*
Que, honrando a letra de uma melodia,
Em coro nasça de uma multidão
Que venha, erguida, impor-se à tirania.
*
Maria João Brito de Sousa – 03.09.2013 – 19.51h
Imagem do 25 de Abril de 1974 - Partido Comunista Português
publicado às 00:33
Maria João Brito de Sousa
ESPANTO(S) ou
Lembrando os Fios *
Diz-me o espanto que a lua irá tardar, Que a tarde se toldou, que o céu cinzento Lh`impôs um manto espesso e turbulento Qu `irá manter escondido o véu lunar… *
Diz-me este espanto que não sei calar Que ao que me for roubado o reinvento E brota-me o poema enquanto tento Que o espanto me não deixe de espantar *
Por força de entender que nada espanta O verso que, em repouso, se decanta E depois, ao jorrar, se alarga em rio *
Que em breve se reforça e se agiganta, Mudou-se o fio num mar de força tanta Que me espanta lembrá-lo enquanto fio... *
Maria João Brito de Sousa – 13.03.2013
IMAGEM - Desenho de Álvaro Cunhal
publicado às 12:52
Maria João Brito de Sousa
Nasceu-me agora Abril, quando sonhava…
Mas não é por Abril me ter nascido
Que eu deixarei morrer o que me é querido
Ou que me esquecerei do que cantava
Nasceu-me de uma corda que vibrava
Num trinado qualquer, mal pressentido,
De um verbo a vacilar no desmentido
De outro que era menor mas que o calava.
E o que é feito de Abril no novo Abril
Em que se redefine outro perfil
Para este meu país tão castigado?
E vibra-me outra corda… e já são mil
As cordas que, vibrando em tom subtil,
Me falam desse Abril sempre negado.
Maria João Brito de Sousa
Imagem retirada da internet
publicado às 17:12
Maria João Brito de Sousa
Abril estava tão longe… era Janeiro
Ou outro mês qualquer dessa invernia
Que nos cobria o céu a tempo inteiro,
Que afastava de nós toda a alegria…
Estava tão longe Abril, mas o primeiro
Sorriso que, brilhando, em nós crescia,
Enfrentava esse inverno derradeiro
Cumprindo o renovar que prometia…
Nunca seria fácil ser de Abril
Que Abril sempre exigiu trabalho, voz
E a vontade que alguns não sabem ter
Desfez-se – tanta vez… - em águas mil,
Mas volta a ser Abril em todos nós
Se a alma nos conjuga o verbo querer!
Maria João Brito de Sousa
publicado às 12:20