SÁBADO, DOMINGO E SEGUNDA FEIRA III
UM POETA NA ESQUINA
Poeta numa esquina, sem alento,
Que não choras nem pedes a quem passa
A esmola da atenção ou essa graça
Do merecido pão do teu sustento
[As asas que perdeste... esse talento
Que o mundo destruiu, como uma traça
Que devorando tudo te desfaça
E te não deixe mais que desalento...]
E, cruelmente alheia, a populaça
No seu vaivém, correndo contra o vento,
Não percebe, sequer, quanta desgraça
Te prende àquela esquina, desatento
Das coisas deste mundo e desta raça
Que assim te condenou não te entendendo...
MISTÉRIO
Que mistério em teu corpo se engendrou,
Maria, se não foste de ninguém?
Que mistério, Maria, te fez mãe
De um menino que tanto nos marcou?
Que Maria foi essa que alcançou
Honra tão grande e tão imenso bem?
Maria e só Maria foi alguém
Em quem o próprio Espírito encarnou…
E terá sido assim que aconteceu?
Terá sido o menino que nasceu
Igual a todos nós, nascido em dor?
Porque se assim não foi… quem serei eu
Para inquirir sobre quem já morreu
E em tudo vive ainda em puro amor?
QUE PENA...
Que pena, meu amor! Eu sei lá quando
As hostes da vontade irão render-se
E o corpo, desistente, converter-se
A escravo, meu amor, do teu comando…
Eu sei lá, meu amor… mas juraria
Que a linha que percorro, vertical,
Não há-de quebrar nunca… este ideal
É jamais desistir de uma ousadia!
Tantas vidas na vida! `Inda há pouquinho
Percorria, na estrada, outro caminho
E, no palco, um papel numa outra cena…
Agora, bem mais longe e tão mais perto,
Termino estes acordes do concerto.
[e, às vezes, tenho até alguma pena…]
IMAGEM RETIRADA DA INTERNET