Maria João Brito de Sousa
Aonde eu alcançar, haverá mundo,
As ondas sonharão, farei poemas
E encher-se-á o mar de novas penas
Mas não das mil marés de que me inundo!
E se acaso avistar, lá bem no fundo,
As algas que se agitam, quais melenas,
Por elas cantarei as mais pequenas
Das rimas singulares em que me afundo…
Eu mesma serei água e, a quanto mar
Possa sequer pensar em submergir-me,
Tentando diluir-me esta vontade,
Resguardando o meu estro de luar,
Direi ter-lhe entregado, ao diluir-me,
Tudo menos tão estranha identidade…
Maria João Brito de Sousa
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publicado às 12:15
Maria João Brito de Sousa
SOZINHO
Falaste-me de ti e eu ouvi-te
Com a mesma atenção que dispensei
Às coisas que mais amo. Então pedi-te
De volta esses minutos que te dei
Bem mais do que falar, era um convite
Para um sonho comum que eu te entreguei.
Seduziste-me assim. Eu seduzi-te
Com as verdades – tantas! - que contei.
Falávamos, tão só, de outro Poeta,
De alguém que nos fascina e nos deixou
U m rasto de palavras e um caminho
Sou apressada, eu sei… a minha meta
É agora, é enquanto por cá estou.
Mais tarde falarás só tu. Sozinho.
Maria João Brito de Sousa – 28.0.2010 – 13.41h
Posso não estar muito segura da qualidade e da oportunidade daquilo que digo mas estou, sempre, firmemente convicta de que devo dizê-lo.
SHEHERAZADE
Amanhã nascerá a nova história
Que, agora, nem sequer vou preparar.
Depois, farei bom uso da memória,
Do que lhe for capaz de acrescentar,
Pois, se um dia falhar, vai-se-me a glória
Dessa infinita história de encantar
E nunca poderei cantar vitória
Porque o velho sultão vai-me matar,
Mas, enquanto eu viver, a cada dia
Dependo mais e mais da minha fé;
Por cada estória, engendro uma conquista!
Acusam-me de quê? Monotonia?
Isso é se se não cria; nunca é
Cuidar de que o carrasco não resista.
Maria João Brito de Sousa – 2.08.2010 – 19.00h
A BOLA DE CRISTAL
Tentaste confundir-me. Eu percebi
E emprestei-te a bola de cristal
Pr`a que pudesses tê-la só pr`a ti
E não tentasses mais deixar-me mal
Mas, mesmo disfarçando, eu bem senti
Que, com bola ou sem ela, és sempre igual
E não volto a pedir-te o que pedi
Não vás tu encontrar forma ideal
De confundir-me e seres bem-sucedido...
Eu ando por aqui para mostrar-te
Que a própria confusão é produtiva
Pois se a bola mostrar ter-me entendido
Nas minhas concepções de engenho e de arte,
Terá adivinhado que estou viva.
Maria João Brito de Sousa – 28.08.2010 – 19.57h
publicado às 12:23
Maria João Brito de Sousa
Ouvi o teu rugido. O teu percurso,
A lonjura polar de um mar qualquer…
Depois, interrompendo o teu discurso,
Olhaste e viste em mim uma mulher...
Muito embora assustado, eras um urso
E eu, que vinha em paz, sem já saber
Como explicar-te o que nem mesmo um curso
Poderia ajudar-te a perceber…
Pensei, então, dizer-te que nem todos
Os bípedes primatas, como eu sou,
Te irão desrespeitar ou destruir
Mas em vez de o dizer, chorei a rodos…
Por trás de mim, alguém que disparou,
Calou-te sem te dar tempo a fugir…
Maria João Brito de Sousa
IMAGEM RETIRADA DA INTERNET
publicado às 14:07