Maria João Brito de Sousa
Imagem gerada/processada
pelo ChatGTP
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SONETO - 6 *
Pedem-me uma carta, uma carta de amor
Que eu saiba de cor sem dela estar já farta...
De três se me aparta a memória em torpor:
Só me trazem dor e temem que as reparta *
Sigo para a quarta. Não lhe encontro ardor
E a quinta é pior: vem de seda e de marta
Mas como a lagarta, rói, não tem valor
Seja pra quem for... Pró raio que a parta! *
Muito se descarta quando se procura
Uma tessitura que de tão vulgar
Se pode ir buscar em qualquer altura *
Mas que, porventura, pode não se achar
Em nenhum lugar... E o que me assegura
Que a antiga amargura me não vá magoar? *
Mª João Brito de Sousa
05.01.2025 - 23.00h ***
publicado às 23:40
Maria João Brito de Sousa
Fotografia de Carlos Ricardo
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SONETO -5 *
A Terra roda e todos nós rodando
Passamos pela Vida. Uns, apressados
E outros a vacilar, quase parados
Que os anos percorrido vão pesando... *
Curioso é perceber que até travando
Rodamos sem parar, somos levados
Não creio que pr` Além sermos julgados,
Mas porque Aqui nos fomos desgastando... *
Passe o tempo que passe até à meta
Passámos, nesse tempo, a vida inteira,
Que é sempre assim que a Viagem se completa... *
Ninguém, ao Tempo, toma a dianteira:
Tão velozmente corre o grande atleta
Quanto o que aguarda imóvel na cadeira. *
Mª João Brito de Sousa
01.12.2024 - 14.00h *
Sonetos da Contagem Decrescente ***
publicado às 14:57
Maria João Brito de Sousa
Imagem Pinterest
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SONETO - 4 *
Morou no meu olhar há muitos anos...
Não sei por que partiu mas foi-se embora
Sem dar aviso nem causar-me danos
Quando entendeu chegada a sua hora *
Na mala levou risos, desenganos
E aquela lucidez que o enamora...
Mas nunca mais voltou, cobriu de panos
Olhos e rosto. Jura que não chora! *
Quanto a mim, fugaz pouso do seu brilho,
Vi-o partir como quem olha um filho
Que sempre soube não lhe pertencer *
Morou-me no olhar? Morou em mim,
Mas todas as viagens têm fim
E - enfim! - é mesmo assim. Ou tem de ser. *
Mª João Brito de Sousa
29.11.2024 - 22.00h ***
Sonetos da Contagem Decrescente ***
publicado às 22:38
Maria João Brito de Sousa
"SEPARAÇÃO", Edvard Munch
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SONETO - 3 *
Se te propões vestir a cota em malha
E se a espada poliste, precavido,
Dá atenção ao escudo: se esquecido
Não te irá proteger desta batalha... *
Os pontos (IR)radiantes da metralha
Matar-te-ão muito antes que o ouvido
Os tenha detectado e deles fugido
E um míssel, meu amigo, nunca falha! *
Se a hora finalmente se aproxima
E tudo o que te resta é a paixão
Ou o rancor por quem os teus dizima *
Sobe à garupa do teu alazão
E uiva ou ruge a raiva que te mina
Pra que não morras sem dizer-lhe - Não! *
28.11.2024
Mª João Brito de Sousa ***
Sonetos da Contagem Decrescente ***
publicado às 15:59
Maria João Brito de Sousa
Tela de Luís Rodrigues
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SONETO -1 *
Não sei se terei forças pró fazer,
Mas tentarei partir como quem planta
Um cravo por abrir na terra santa
Onde, ao desabrochar, passou a ser *
Não sei se terei voz para o dizer
Mas tentarei cantar como quem canta
Com risos ou revoltas na garganta
Aquilo que sentir e que souber *
Que assim caminham vidas e mais vidas
Até, já desgastadas, se apagarem
E pela terra serem consumidas *
Mas se eu chorar plos vivos que ficarem
À mercê de tiranos genocidas,
Que o saiba quem me ouvir: é pra que os parem! *
Mª João Brito de Sousa
20.11.2024 - 20.30h ***
Sonetos da Contagem Decrescente
publicado às 20:39