Maria João Brito de Sousa
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QUE MAL, SE ME ALIVIA? *
Ao fundo há um rapaz que canta, canta, canta,
E me embala e me encanta até que fique em paz
Com quanto vem atrás. Não, não sou essa santa
Que sempre se suplanta e de tudo é capaz *
Sou a que a lhe subjaz e, às vezes, pinta a manta:
Transmuto-me e sou planta assim que Amor me traz
Num pequeno cabaz, um não sei quê que espanta
Por ser tão pouca - ou tanta? - a visão que me apraz... *
Talvez seja incapaz, talvez seja excessiva
Mas se aspiro a estar viva e alcanço um novo dia,
Presumo que a avaria ou mesmo a recidiva *
Destrua esta cativa e assuma que a recria...
Que importa se utopia ou céu que se me esquiva,
Ou louca, ou fugitiva... que Mal, se me alivia? *
Mª João Brito de Sousa
22.12.2024 - 23.45h ***
Soneto em verso alexandrino com rima duplamente entrançada
publicado às 13:48
Maria João Brito de Sousa
ESTRANHAS VOLTAS DA VIDA
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(Soneto em verso alexandrino)
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"E entardeço na luz que me vem do carinho"
Desmaio sob o sol erguendo-me a seguir,
Cubro os passos que dei de mel e rosmaninho
E expando-me depois, mas sem de mim sair.
*
Sempre que um passo dou, desconstruo o caminho
Mas dou um passo atrás para o reconstruir
Que isto de ser-se só, de se escrever sozinho
Ganha pernas pr`andar se se souber fruir. *
Entre uma volta e outra há passos não perdidos
Enquanto os dias são contados ou medidos
Até que finde o tempo o espaço a caminhada. *
Vai sendo muito longa a minha curta estrada
Por três vezes cortada em todos os sentidos;
Pra retomá-la dei três passos revertidos.
*
Maria João Brito de Sousa - 12.06.2020 - 11.59h
NOTA - Soneto criado a partir de um verso alexandrino de MEA (Maria da Encarnação Alexandre)
Foi-me impossível fazer download de imagem
publicado às 16:09
Maria João Brito de Sousa
FRUTOS DA TERRA E DO MAR
(Soneto Alexandrino)
Num verso me quis dar, versos fui semeando,
Como se ao verso amando, eu mais pudesse amar,
Ou se isto de criar fosse como ir podando,
Sem saber até quando, hastes de algum pomar
Que vai frutificando onde, em verso, brotar
Pronto pr` amadurar, o que eu estava buscando...
Se o sonhei, foi sonhando outra forma de estar
Que acabei por murchar. E o verso... medrando.
Quando em sal, marinando, esse fruto é do mar.
Que me importa o lugar se lá chego nadando
E só mesmo salgando eu o sei preservar,
Ou talvez devorar, a mim me preservando?
Qual de nós vai sobrando a nós dois, se eu pensar;
Eu, ou ele a medrar? Ele, ou eu... definhando?
Maria João Brito de Sousa – 09.07.1018 -20.04h
publicado às 08:39