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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
28
Nov22

FOI NUM NATAL MUITO FRIO

Maria João Brito de Sousa

foi num natal muito frio.jpg

FOI NUM NATAL MUITO FRIO
*

I
*
Era o Inverno mais frio

De que podia lembrar-se,

Mas nem tentou lamentar-se:

Se gritou, ninguém ouviu
*


Corressem-lhe, embora, a fio

As águas, a agigantar-se

Cada dor até soltar-se

O filho que então pariu...
*


Era o vento que soprava,

E era a chuva que, impiedosa,

Açoitava o velho quarto
*


Mas só no filho pensava

Quando sobre a colcha rosa

Suportava as dores do parto
*

II
*

Nunca teve anjo, nem estrela

Que a viesse iluminar,

Só o menino a chorar,

Num cestinho à luz da vela
*


A criança, o cesto e ela,

O improviso de um lar

Onde ela o põe a mamar

Sob um céu que a agride e gela...
*


Não veio nenhum rei mago

Trazer-lhe ouro, incenso e mirra,

E nem sequer José veio
*


Fazer-lhe um pequeno afago

Na desmedida barriga

Nem dar-lhe um pão de centeio
*

III
*

Nesse Dezembro gelado,

Nem vaquinha, nem burrico,

Só da chuva algum salpico

Saudou o recém chegado
*


Pequenino ali deitado,

Tão pobre e de amor tão rico

Quão emocionada fico

Por havê-lo aqui citado...
*


Mas esse menino existe!

Citá-lo é citar milhares

De crianças sem futuro,
*


Ou na situação mais triste

Que, sem esforço, imaginares

Se o teu coração for puro.
*

 

Mª João Brito de Sousa

27.11.2022 - 18.30h
***


Poema em sonetilhos inspirado no título do poema de Dália Micaelo

"Era o Inverno Mais Frio..."

 

 

26
Abr12

QUATRO SONETILHOS A CATARINA EUFÉMIA

Maria João Brito de Sousa

 

I

A ceifeira, nos trigais,
Traz nas mãos sonhos negados
E os dedos bem calejados
De quem já ceifou demais…

Flancos doendo, agachados,
Entre mil gestos iguais
Evoca uns pontos errados
Destas questões laborais…

Essa ceifeira não chora,
Mas começa a acreditar
Que pode bem estar na hora

De que quem assim a explora
Também se deva agachar
Tal como ela o faz agora…


 
II


Já não sonha, as dores são tantas
Que só pode trabalhar
Se as abafa nas mil mantas
Que inventa pr`ás disfarçar…

Faltam horas, umas quantas,
Pr`á ordem de “despegar”
E as ceifeiras, como as plantas,
Podem, às tantas, murchar…

Vai longa a jorna, ceifeira!
Já esgotada da labuta,
Tão no auge da canseira

Depois de uma tarde inteira,
Pensa enfim: - Antes a luta
Que viver desta maneira!



III



Reúne os seus companheiros
Da labuta dos trigais,
Fala dos dias inteiros
Sol a sol, sem poder mais,

Lembra a escassez dos dinheiros,
Diz que os patrões, sendo iguais,
Os tratam como aos carneiros
Que abundam nos seus currais…

É dessa reunião,
Que lhes nasce, firmemente,
Uma justa decisão

De exigirem mais do pão
Que é devido a toda a gente
Mas só não falta ao patrão…



IV

Vão em grupo e vão em paz
Falar da fome que sentem
Pois pela fome se faz
Quanto os fartos não consentem…

Encontram o capataz,
Dizem ter fome… e não mentem,
Só o não sabem capaz
De matar os que o enfrentem…

Soa um disparo… a ceifeira
Cai por terra; - O que se passa?
Catarina, à dianteira,

Jaz morta sobre uma leira
Por ter negado a mordaça
De humilhar-se a vida inteira!

 

 

 

 

 

 

Maria João Brito de Sousa – 26.04.2012 – 19.11h



IMAGEM - "A MORTE DE CATARINA EUFÉMIA" - Gravura de José Dias Coelho, retirada da net


 

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