Maria João Brito de Sousa
SILÊNCIO(S)
*
Silencioso é o tempo enquanto passa;
Silenciosa, a voz que mal murmura
o verso que nos fende e nos perfura
mal nos toca e em silêncio nos abraça.
*
Silencioso é o gesto em que se traça
o verso da alegria ou da amargura
que, em silêncio, nos cava a sepultura
mas, quando chega, nos acende em graça...
*
Em silêncio se morre as mais das vezes,
em silêncio se lê, se escreve e cria,
em silêncio as semanas somam meses
*
E, às vezes, passam-se anos num só dia
de angústias, de amarguras, de revezes
que raramente um grito denuncia.
*
Maria João Brito de Sousa – 01.09.2018 -14.28h
Imagem idenficativa da obra "The Silence of the Lambs", esperando que Hollywood e Thomas Harris me não processem.
publicado às 06:30
Maria João Brito de Sousa
O SILÊNCIO FALA E GRITA
Por vezes o silêncio fala e grita
De modo tão intenso tão feroz
Que quando ele aparece e nos visita
Faz-nos acreditar que ganha voz
Disfarça-se a rigor qual parasita
E expressa-se de modo tão atroz
Que entre seus brados sente-se a desdita
Cingir-nos e tomar conta de nós
Porém se a madrugada esparge luz
Logo o silêncio foge e se conduz
À plena fantasia dos sentidos
Surge então do silêncio a quietude
Que se quer nos proteja ampare e escude
Em momentos pra nós mais doloridos
MEA
10/09/2017
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EM SILÊNCIO
“Às vezes o silêncio fala e grita”
Tornando-se um tirano prepotente
Mas, noutras, surge harmónico e suscita
Uma viagem nova ao que se sente.
“Disfarça-se a rigor qual parasita”,
Ou despe-se de véus e, de repente,
Ouvimos, dessa voz que nos habita,
Aquilo que, no fundo, nos faz gente.
“Porém se a madrugada esparge luz”,
Ocorre outro silêncio; o que traduz
A esp`rança do nascer de um novo dia.
“Surge então do silêncio a quietude”
E, em silêncio, se atinge a plenitude,
Ou se morre, num espasmo de agonia...
Maria João Brito de Sousa – 11.09.2017 – 13.36h
publicado às 14:10
Maria João Brito de Sousa
Neste silêncio triste embalo os mortos
Entre asas fracas, flácidas, pendentes,
E sobre este regaço, os mesmos hortos
De onde ervas emanavam, persistentes,
Cobrem-se já de caules secos, tortos,
Negros, mirrados, quase transparentes,
Quais longos mastros nos distantes portos
Da rota imaginária dos ausentes...
É outra, no entanto, a minha rota,
E se hoje reavivo a estranha frota,
Razões bem fortes tenho pr`a fazê-lo,
Pois muito se assemelha ao que descrevo
A angústia de não ter para o que devo,
Embora eu mude o esboço a cada apelo.
Maria João Brito de Sousa - 06.02.2017 - 13.23h
publicado às 19:10
Maria João Brito de Sousa
Eu vou desabrochar! Eu sei que vou…
Mas só nestes silêncios que transformo
Na luz primordial a que retorno
Quando aos silêncios eu me entrego e dou.
E que me importa “estar” se mais me der
Onde, de nunca estar, me sei melhor?
Se ascender ao silêncio, aonde eu for,
Serei tanto e tão só quanto eu puder!
Silêncio! Faz-se noite nos meus dias…
É hora de partir, de diluir-me
Nas coisas que ficaram por pensar…
É a hora do sonho… as sintonias
Chegaram noutras asas p`ra pedir-me
O silêncio dos tempos de criar.
IMAGEM RETIRADA DA INTERNET
http://www.avspe.eti.br/indice.htm
http://www.avspe.eti.br/biografia2010/MariaJoaoBritodeSousa.htm
publicado às 11:39