Maria João Brito de Sousa
(Em decassílabo heróico)
Quando o sol nos teus olhos se reflecte
E pasmos, inocentes, me procuram,
Nas pupilas, quais setas que perfuram,
Rendido, aquece o gelo e se derrete…
Cada olhar, feito sol, me compromete
Vazios e escuridões, quando perduram,
E quantos medos restem se me curam
Nesse olhar que os desmente, se os repete…
Há sóis nas finas setas que me lanças,
Há notas de harmonia, há ternas danças,
Há silêncios solar´s, serenos, castos...
Há meu felino irmão, mil setas d`oiro
Que, em cúmplice feitiço, em suave agoiro,
Me devolvem, brilhando, os dias gastos…
Maria João Brito de Sousa – 30.12.2012 – 15.11h
Reformulado - Maio 2016
Ao Sigmund Freud, o mais amado dos meus amigos gatos
publicado às 13:19
Maria João Brito de Sousa
NOS TEUS DOIRADOS OLHOS
Nos teus olhos doirados convergiam
Todas as transparências da alquimia
E do brilho velado que emitiam
Nascia um luar novo, em pleno dia...
Insinuações,quais sombras, permitiam,
Ao meu humano olhar que os inquiria,
Carícias mil que, a mim, me transmitiam
Sempre que o meu olhar os pressentia…
Iluminando a noite, assim, seguros
De encontrarem os meus à sua espera,
Aproximam-se mais das mãos que estendo…
Teus olhos são doirados… os meus, escuros,
Abertos, não distinguem – quem me dera… -
Senão um linguajar que sempre entendo…
Maria João Brito de Sousa – 03.07.2010 – 22.15h
Ao Sigmund, o mais amado dos meus gatos.
DESLUMBRAMENTO III
Deslumbra-me essa absurda persistência
Da vida a começar, sempre tão linda,
Dos astros que, em perfeita transparência,
Se desenham num céu que nunca finda,
Das ínfimas coisinhas que não vemos,
De todas as que, vistas, nos transcendem,
Do muitíssimo pouco que sabemos
E das coisas sabidas que nos prendem…
Se neste encantamento deslumbrado
Se me cumprem os dias que aqui canto,
Ninguém pode arrancar-me um só lamento
Até que este planeta, já cansado,
Se decida a quebrar o tal encanto
E se finde este meu deslumbramento…
Maria João Brito de Sousa – 04.07.2010 – 19.18h
ERA UMA VEZ...
No tempo em que os poemas comandavam
Os destinos do mundo e dos ser vivo(s),
Os ponteiros do Tempo até paravam
E, do espanto, tornavam-se cativos …
Das fábulas que as aves me contavam
E que, hoje, retirei dos meus arquivos,
Renasceram-me as rosas que plantavam
Em canteiros lunares, sempre intuitivos…
Essas rosas cantavam, tinham vozes,
Como as mansas sereias do meu Tejo,
E asas de tão vasta dimensão
Que semelhavam estranhos albatrozes…
Nas corolas de seda, um só desejo;
Fazer, da minha língua, uma canção...
Maria João Brito de Sousa – 04.07.2010 – 14.36h
publicado às 10:26