SIGAMOS MAIO AFORA - Mª João Brito de Sousa e Joaquim Sustelo
Eu e Joaquim Sustelo fotografados por Cida Vasconcelos
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SIGAMOS MAIO AFORA
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Coroa de Sonetos
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Mª João Brito de Sousa e Joaquim Sustelo
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1.
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Sigamos Maio afora confiantes
Sabendo, embora, quanto nos espera,
Sejamos mais do que o que fomos antes
Em cada Maio e em cada Primavera,
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Que Maio sempre fez de nós gigantes
Diante da malícia de uma fera
Que nos tem por dispersos, vãos, errantes
Cavaleiros do sonho e da quimera.
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Sigamos Maio afora; Junho e Julho
Esperam por nós, de nós terão orgulho,
Tal como cada mês que está por vir
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Nos há-de abrir os braços, finalmente,
Quando o futuro se tornar presente
De quanta gente em Maio o construir!
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Maria João Brito de Sousa - 02.05.2020 - 08.39h
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2.
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"De quanta gente em Maio o construir!"
Esse futuro por agora tenso
Que o mês de Maio irá fazer surgir
Envolto em sonhos bons tal como penso
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Junho há-de com mais força também vir
A força de vencer, que me convenço
Depois deste "maduro Maio" florir
Irá florir o mundo ao qual pertenço
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Confio em ar mais puro... a atmosfera
Irá consolidar a primavera
Nos campos e nas almas desta gente,
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Que agora ainda está na incerteza
Mas que depois verá com mais clareza
Todo um futuro alegre e sorridente.
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Joaquim Sustelo
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3.
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"Todo um futuro alegre e sorridente"
Há-de chegar um dia, não duvido,
Mas ainda haverá que fazer frente
A um tempo difícil e dorido.
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Sou optimista, não inconsciente
Dos riscos do caminho já escolhido
E tu, que és meu irmão, terás em mente
Que há que roer este osso... bem roído!
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Não se pode sonhar... sonhando apenas
Como se o tempo fosse de açucenas
E apenas nos bastasse acreditar
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Que há pão na mesa que vemos vazia
Ou música se sopra a ventania...
Também há que lutar, lutar, lutar!
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Maria João Brito de Sousa
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4.
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"Também há que lutar, lutar, lutar"
E nessa luta haver vários reveses
Não basta nós ficarmos a esperar
Pelo Maio passar e mais uns meses
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Só muitos, muitos mais a ajudar
Mas em tempo contínuo e não às vezes
Muit'água pelos rios há-de passar
Há-de pregar-se em muitas dioceses
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Mas sempre com querer, com confiança
Que a última a morrer é a esperança
E o homem quando quer pra melhor muda
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Então vamos fazer, nós, todo o povo,
Que nasça brevemente um mundo novo
Que quase em horizonte nos saúda.
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Joaquim Sustelo
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5.
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"Que quase em horizonte nos saúda"
Pois nunca poderemos lá chegar
A menos que uma coisa mais graúda
Nos lance, de repente e sem tardar...
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Não espero que minha alma inda se iluda,
Já que tem a razão para a amparar,
Mas, meu irmão, às vezes fica muda
De tanta coisa estranha contemplar...
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Mas, não, nunca descri dos amanhãs
Que hão-de falar de coisas menos vãs
Cantando alto e bom som, ou sussurando,
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Que há justiça na Terra para os povos!
Não será para nós, para os mais novos,
Pró homem, prá mulher que vão chegando!
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Maria João João Brito de Sousa
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6.
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"Pró homem, prá mulher que vão chegando!"
Talvez ele até venha um mundo novo
Com calma a pouco e pouco se implantando
Com grande f'licidade em todo o povo
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Eu creio. E nessa fé cá vou pensando
No que será... Por vezes me comovo
Quando se adensa o sonho, ou seja quando
Mais forte o sinto em mim e o renovo
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Nós não estaremos cá, vamos de "férias"
Porém não penses que isto é tudo lérias
Pois tenho até uma forte convicção!
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E vamos passo a passo, rua a rua
Num sonho que por ora continua
A adentrar-me a alma e o coração.
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Joaquim Sustelo
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7.
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"A adentrar-me a alma e o coração"
Como se um bando de aves me adentrasse
Gerando vida, espanto, evolução
Que a morte nunca visse, nem sonhasse...
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Sonhar é também ter a convicção
De mais tentar, ainda que bastasse
À nossa muito humana condição
Um nada de ambição que um desenlace
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Mais ou menos feliz, desse à função,
Dessa existência, quando se apagasse
A pequenina chama da razão
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Talvez, depois, a fome já não grasse
Nem a doença, nem a frustração
Com que o tempo nos brinda neste impasse...
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Maria João Brito de Sousa
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8.
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"Com que o tempo nos brinda neste impasse..."
Que afeta todos nós em mais ou menos
Mudando a cada dia a nossa face
Por nossos pensamentos não serenos
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Como se este Covid não bastasse
Os tempos que aí vêm, nada amenos,
Nem fazem com que a gente aqui já trace
Tão boas plantações pelos terrenos...
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Porém, se o pensamento em nós já lavra,
Sabemos ser a força da palavra
Aliada a um crer, forte... eficaz,
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Duma forte mudança, o seu fator
E do ressurgir pleno do Amor
Que até hoje não trouxe ainda a paz.
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Joaquim Sustelo
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9.
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"Que até hoje não trouxe ainda a paz"
Pela qual tanto, tanto nós pugnamos
E que tão grande falta ao mundo faz
Embora o contradigam grandes amos...
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Talvez a nossa voz seja incapaz
De se fazer ouvir, mas bem tentamos
E há sempre uma vozita mais audaz
Que sobe ao alto dos mais altos ramos
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Ou que grita mais alto, embora atrás
Dos que já se destacam, entre humanos,
Perecíveis... que importa se subjaz
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Esta vontade imensa? Longos anos
Faltarão pra sabermos que nos traz
O tal futuro que hoje lobrigamos
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Maria João Brito de Sousa
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10.
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"O tal futuro que hoje lobrigamos",
Não vem em nosso tempo nem lá perto
Por ele há muito tempo que lutamos
Mas o caminho é... inda algo incerto
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Porém fazer por ele sempre vamos
No campo da poesia, neste "aperto",
Em que a nossa vontade apregoamos
Se bem que o chão se mostre algo deserto
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Virá o Junho, o Julho e o Agosto
Virão os outros meses e aposto
Que sempre alguma coisa vai mudar
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"Se nós mudarmos todo o mundo muda" (*)
Ah que ninguém se fique e nem se iluda
Pois este mundo velho há de cessar.
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Joaquim Sustelo
(*) frase do dr. Lair Ribeiro
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11.
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"Pois este mundo velho há-de cessar"
E havemos de tomar um novo rumo
Sem que haja sempre alguém a cobiçar
Do fruto humano a polpa, o próprio sumo
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Um mundo bem mais justo, um mundo-lar
Do qual cada um seja o fio-de-prumo,
No qual a luz do sol possa brilhar
E onde se não morra envolto em fumo.
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Nisto, sei que vou sendo idealista...
Talvez o que aqui sonho nunca exista,
Talvez não passe de uma outra utopia
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Mas não me peças nunca que desista
De te falar do sonho. Cada artista
Compõe conforme sente a melodia...
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Maria João Brito de Sousa
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12.
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"Compõe conforme sente a melodia..."
E toca consoante o instrumento
Indo todos criar a sinfonia
Que se for bem tocada dá alento
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Tocar muito melhor, sim, eu queria
Se bem que à melodia esteja atento
Porém há sempre um toque de mestria
Que não vou atingir, se bem que tento...
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Somos uns idealistas? Não faz mal
Todos devemos ter um ideal
E este é dos melhores que há na vida
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Imaginar a estrada especial
Pugnar por ela vir de pedra e cal
Assim atapetada... assim florida...
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Joaquim Sustelo
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13.
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"Assim atapetada... assim florida"
Como se jardim fora, ou astro errante
Soltando a cabeleira colorida,
Coberta de poeira flamejante...
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Irmão, juntei ao astro a cor da vida
E vi, ou julguei ver, por um instante,
A humanidade menos dividida,
Mais forte, mais feliz e mais pujante;
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Poetas e também trabalhadores
Cantavam, lado a lado, os seus amores
Como se nada, nada fosse em vão
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Mas, nesse mundo que mal vislumbrei,
Não pude ver que houvesse qualquer rei,
Nem vi que a alguém faltasse tecto ou pão.
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Maria João Brito de Sousa
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14.
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"Nem vi que a alguém faltasse tecto ou pão"
Havia um equilíbrio, uma equidade
Que todos adquiriram a noção
De a ter de pôr em prática. Em verdade,
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Ganhavam dia a dia o seu quinhão
Pelo que produziam, não metade
Do que cabia à mesa do patrão
Que açambarcara dantes com maldade
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Fosse sonho ou não fosse o que tu viste
Uma etapa feliz já coloriste
Pintando-a de cor negra que era dantes
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A pouco e pouco iremos... e sorrindo
Sabendo que esse tempo ele é bem-vindo
"- Sigamos Maio afora confiantes."
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Joaquim Sustelo
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NOTA - Coroa de sonetos dialogada a quatro mãos e terminada em menos de doze horas.
Poema registado ao abrigo dos direitos de autor.