Maria João Brito de Sousa
A ILHA III
Disseste que estou só e quero crer
Que acreditas que sim… que absurda ideia!
A minha solidão está sempre cheia
De mundos que nem podes conceber!
A solidão só vem quando eu quiser
E há coisas como grãos de fina areia
Habitando este mar que me rodeia,
Nas ondas das palavras que eu escrever
Podes guardar as penas pr`a depois
Porque eu, ilha assumida e povoada,
Não quero as tuas penas nem procuro
A solidão da vida feita a dois
Tantas vezes pior que não ter nada.
É só que nasço e morro, isso to juro!
Maria João Brito de Sousa -02.11.2010 - 10.44h
O FEITIÇO
Por motivos que nem conceberias,
Enfeiticei-te a vida e não choraste…
Poderia jurar que até gostaste
E reparei, mais tarde, que sorrias
Mas, depois da mudança, entenderias.
Pensei-o, fi-lo e tu… nem te zangaste!
Não sei se o laconismo a que chegaste
Te impediu de mostrar quanto sentias,
Ou se sentir, pr`a ti, era uma coisa
Que surge como um pássaro que poisa
E só muito mais tarde afunda as garras
Enfeitiçado, ou não… a vida é tua!
O meu feitiço é brando e nunca actua
Sobre almas que estão presas por amarras
Maria João Brito de Sousa
A PERSISTÊNCIA DO POEMA
É este o meu destino, eu não duvido!
Em tudo o mais que fiz, não me encontrei
E quando faço a conta ao já vivido,
Só nestoutro presente é que me sei…
Poeta, obedecendo ao que é pedido,
Eu abençoo a hora em que me dei...
Mais tarde, num presente “em diferido”,
Hão-se crescer os frutos que plantei…
Viver, morrer… tudo isto é natural.
Tudo isto, acontecendo, me acontece,
Bem como a todos vós que possais ler-me,
Mas se o Poema nasce, esse imortal
Tão incorpóreo quanto a própria prece,
Persiste e há-de, após, sobreviver-me!
Maria João Brito de Sousa – 01.11.2010 – 14.32h
SONETILHO COM VISTA PARA OS MARES DA LUA
Hoje a Lua está tão perto
Que quase posso tocá-la!
Dela só quero esse incerto
Dos tais mar`s que vão banhá-la
E julgo ter descoberto
Que é desse mar que ela fala,
E é nessas marés, decerto,
Que eu hei-de, um dia, alcançá-la…
Da janela em que repouso
Olho esses mares que mal ouso,
Quando ouso ao longe, avistá-los
E lá por serem lunares
Não deixarão de ser mares
Nem eu vou deixar de amá-los!
Maria João Brito de Sousa – 01.11.2010 – 15.41h
publicado às 09:24
Maria João Brito de Sousa
A ILHA III
Disseste que estou só e quero crer
Que acreditas que sim… que absurda ideia!
A minha solidão está sempre cheia
De mundos que nem podes conceber!
A solidão só vem quando eu quiser
E há coisas como grãos de fina areia
Habitando este “mar” que me rodeia,
Nas ondas das palavras que eu escrever…
Podes guardar as penas pr`a depois
Porque eu, ilha assumida e povoada,
Não quero as tuas penas nem procuro
A solidão da vida feita a dois
Tantas vezes pior que não ter nada...
É só que nasço e morro, isso to juro!
Maria João Brito de Sousa -02.11.2010 - 10.44h
O FEITIÇO
Por motivos que nem conceberias,
Enfeiticei-te a vida e não choraste…
Poderia jurar que até gostaste
E reparei, mais tarde, que sorrias…
Mas, depois da mudança, entenderias…
Pensei-o, fi-lo e tu… nem te zangaste!
Não sei se o laconismo a que chegaste
Te impediu de mostrar quanto sentias,
Ou se sentir, pr`a ti, era uma coisa
Que surge como um pássaro que poisa
E só muito mais tarde afunda as garras…
Enfeitiçado, ou não… a vida é tua!
O meu feitiço é brando e nunca actua
Sobre almas que estão presas por amarras…
Maria João Brito de Sousa
A PERSISTÊNCIA DO POEMA
É este o meu destino, eu não duvido!
Em tudo o mais que fiz, não me encontrei
E quando faço a conta ao já vivido,
Só nestoutro presente é que me sei…
Poeta, obedecendo ao que é pedido,
Eu abençoo a hora em que me dei...
Mais tarde, num presente “em diferido”,
Hão-se crescer os frutos que plantei…
Viver, morrer… tudo isto é natural.
Tudo isto, acontecendo, me acontece,
Bem como a todos vós que possais ler-me,
Mas se o Poema nasce, esse imortal
Tão incorpóreo quanto a própria prece,
Persiste e há-de, após, sobreviver-me!
Maria João Brito de Sousa – 01.11.2010 – 14.32h
SONETILHO COM VISTA PARA OS MARES DA LUA
Hoje a Lua está tão perto
Que quase posso tocá-la!
Dela só quero esse incerto
Dos tais mar`s que vão banhá-la
E julgo ter descoberto
Que é desse mar que ela fala,
E é nessas marés, decerto,
Que eu hei-de, um dia, alcançá-la…
Da janela em que repouso
Olho esses mares que mal ouso,
Quando ouso ao longe avistá-los
E lá por serem lunares
Não deixarão de ser mares
Nem eu vou deixar de amá-los!
Maria João Brito de Sousa – 01.11.2010 – 15.41h
publicado às 22:41
Maria João Brito de Sousa
(Soneto em decassílabo heróico)
De mim, não esperes “mágicos cansaços”,
pois não me sobra tempo prós sentir,
nem me urge a languidez, nem sonho abraços
e muito menos tento seduzir
Algo que não palavras, gestos, traços...
A quem mos tente impor sem deduzir
que me nascem de dentro e, como laços,
me abraçam, por si só, sem me mentir,
Falarei dos poemas - nunca escassos... -
dos sons, do que me leva a descobrir
as melodias, quanto aos seus compassos,
E de algo que não posso definir
senão voando... E, mesmo de olhos baços,
aguardo e fico atenta ao que surgir.
Maria João Brito de Sousa – 26.07.2015 -22.47h
publicado às 16:22
Maria João Brito de Sousa
O ARROZ MALANDRINHO
Cebola, um grão de sal, folhas de louro,
Bem douradinhos num pouco de azeite…
Deixa a colher de pau de ser enfeite
Pr`a tornar-se, no tacho, o meu tesouro!
Depois trago o arroz, limpo e escolhido,
E vou-o alourando na mistura
(vai começando a ser uma aventura
fazer um arrozinho bem estrugido…)
Deito a água a ferver... alguns minutos,
São quanto irá bastar ao meu petisco!
Depois é só tapar, manter quentinho,
E, assim que doseados, os produtos
- muito embora correndo um certo risco -,
Servir-vos-ei arroz ... bem malandrinho!
Maria João Brito de Sousa - 2009
AS ERVILHAS COM OVOS
Hoje vou preparar umas ervilhas
Guizadas, com dois ovos bem escalfados,
Sem deixar de falar dos mil cuidados
Que aqui dedico a estas maravilhas;
Sobre aquilo a que chamo um estrugidinho,
Deito as ervilhas, logo as vou mexendo
Até que cozam bem, sempre fervendo,
Ao ponto de ficar tudo tenrinho,
Depois os ovos, sem esquecer tempero,
Pr`a que fique o pitéu mais apetente,
E rectifico, quase no final...
O único segredo está no esmero
De trazê-las pr`á mesa e servir quente,
Pedindo a Deus que vos não façam mal.
Maria João Brito de Sousa - 2009
O JOGO DE XADREZ COM O PC
Tem uma Excalibur que nunca falha!
Refaz-se essa inocência quase morta
Que tantas vezes vem bater-lhe à porta
E de si faz Cavalo de batalha…
É nos Peões, porém, que é mais fraquinha;
Nos Bispos e nas Torres, vai teimando,
Mesmo que perca - só não sabe quando - ,
Vê que, às duas por três, foi-se a Rainha...
Falta-lhe o tempo... os dias passam lestos,
Mas tudo aceita sem grandes protestos
E prossegue travando o seu combate,
Porque em tudo o que faz põe teimosia
Consciente de que nada a salvaria
Se alguém lhe arquitectasse um xeque-mate.
Maria João Brito de Sousa - 2009
Aos 25 rápidos jogos de xadrez que o 2008 me ganhou em cinco dias... e aos 380 que lhe ganhei eu, em quatro anos e meio :)
Imagens retiradas do Google
publicado às 23:37
Maria João Brito de Sousa
… e, às duas por três, tão de repente
Que o próprio coração se lhe abalava,
Ouvia-se um trovão e lá brilhava,
No estro do Poeta, o verso ardente…
Assim nascia cada apelo urgente
Que ninguém, senão eu, testemunhava,
De cada vez que o verso ribombava
Anunciando a vinda da semente…
Não houve um só momento, um só segundo,
Em que, calando aquele apelo fundo,
Lhe não surgisse o Verbo! Uma só vez!
Não soube se era, ou não, do nosso mundo
Mas, quando ouvir de novo, eu não confundo
Aquele clamor do; “Às duas por três!”…
Maria João Brito de Sousa – 19.01.2011 – 21.
publicado às 10:45
Maria João Brito de Sousa
Fez-se tarde e não foi por mero acaso
Que o Sol se pôs mais cedo nesse dia;
Talvez fosse outro, o mundo que surgia
Depois desse imprevisto e estranho ocaso,
Ou talvez fosse a Noite, num atraso
Que nenhum desses dois lhe preveria,
Que, não qu`rendo abrir mão do que sentia,
Teimou em não cumprir o justo prazo,
Mas, fosse por que fosse, aconteceu
Que a noite se acendeu num louco céu
Que ninguém poderia ter explicado,
Que o coração mais forte lhes bateu
E quase lhes parou quando irrompeu
A Lua, que entoava um velho fado.
Maria João Brito de Sousa – 19.01.2011 – 20.52h
publicado às 10:48
Maria João Brito de Sousa
TALVEZ SEJA APENAS POESIA
Talvez não haja um mar dentro de mim
E a tempestade venha - se vier… -
De cada vez que um dia chega ao fim
Nesse universo que é cada mulher
Por outro lado, à míngua de um jardim,
Talvez invente um mar pra renascer
E tudo surja assim por ser assim
Que toda e qualquer vida deva ser
Porém, de quanto disse, não retiro
Uma única palavra, um verso só,
E ocorre-me dizer que não sou nada
Senão as mil questões com que me firo
Quando o verso desata cada nó
Que , fio a fio, me enreda na meada.
Maria João Brito de Sousa – 18.01.2011 – 21.03h
publicado às 14:40
Maria João Brito de Sousa
Segue-se este poema que não chora
Mas, desse mesmo sal que tens nas veias,
Faz hino à sensação que se demora
Por dentro do tecido das ideias
Numa emoção telúrica, infractora,
Que nega uma ilusão de panaceias
E que irrompe do fel de cada hora
Com ânsias de quem rompa mil cadeias.
Mas… segue-se um poema! Ou terei feito
Um abrigo qualquer, sem dar por nada?
Talvez, não sendo um ´bunker`, me proteja
E aquilo que se segue, por direito,
Seja a mesma revolta estrangulada
Que se acrescenta até que se oiça e veja.
Maria João Brito de Sousa– 17.01.2011 – 19.53h
publicado às 14:17
Maria João Brito de Sousa
Por dentro de mim corre um longo rio
De seiva, ao por do sol de um campo arado
E a ceifeira, que ceifa ao desafio,
Esquecida de o ceifar, passou-lhe ao lado.
Talvez volte amanhã, se fizer frio,
Ou se o vento, ao soprar, tiver lembrado
O leito das razões que nele desfio
Na seiva em que o descrevo humanizado
Entretanto, outras foices de ceifeiras
Passaram já por ele de outras maneiras
Mas nunca desaguaram nessa foz
Que, a jusante de mim, beija as ribeiras
Quando elas se lhe oferecem, sempre inteiras
E recomeça o mar dentro de nós.
Maria João Brito de Sousa – 14.01.2011 – 22.00h
publicado às 10:18
Maria João Brito de Sousa
... e, de então em diante, o Universo,
Como se por magia se calasse,
Roubar-me-ia todo e qualquer verso
Que pela vida fora eu encontrasse
Deixando-me, na troca, o seu inverso,
Negando-se, fugindo ao novo enlace...
O resto todos sabem... se é perverso
Melhor fora um poema que o negasse...
Do rebanho que guardo ou como o faço,
A ninguém devo contas ou promessas,
Senão a quem me fez tal como sou!
De tudo o que nasceu deste cansaço
Nas horas a que já nem deito meças,
E ao que está por nascer... Deus mo legou!
Maria João Brito de Sousa
publicado às 11:42
Maria João Brito de Sousa
Não sei mais o que faço, nem se o faço
Porque o quero fazer, ou porque o devo,
Só sei que é forte e dúctil como o aço
A força que me nasce como o trevo.
Ao que dela surgir, junto o meu traço,
Mas de ingénua que sou, porquanto o escrevo,
Revelo-me na rota desse abraço
Mesmo quando a assumi-lo não me atrevo.
Não há tédio - não há! - que me resista,
Nem há indecisão que não desista
Quando me toma, inteira, a criação
E, melhor ou pior, preencho a lista
Daquilo que me prende, me conquista
E engendra esta imparável propulsão.
Maria joão Brito de Sousa - 12.01.2011 - 14.19h
Imagem retirada da internet
publicado às 16:34
Maria João Brito de Sousa
Hoje qualquer palavra serviria,
Desde que desvendasse a compulsão.
Qualquer uma, do “sim” até ao “não”,
Mesmo a contradição de uma ironia
Me faria tão bem, me encantaria
Bem mais do que uma alegre ilustração,
Mais, nesta minha humana dimensão,
Do que a sublime essência da alegria!
Palavras, só palavras me acorrentam
Aos universos que elas representam
Quando nelas alcanço esse seu céu,
Porque só as palavras me contentam,
Só elas me conhecem quando tentam
Prender-me a este estranho encanto meu.
Maria João Brito de Sousa – 10.01.2011– 19.05h
publicado às 11:23