REDE(S) DE VELUDO
REDE(S) DE VELUDO
*
(Soneto em verso alexandrino)
*
A minha sede é mastro, encima a escuna antiga.
Quando o vento a castiga e ao Norte perde o rasto,
Orbita como um astro, acende-se em cantiga
E depressa me instiga a deitar fora o lastro.
*
Se em vez de escuna é castro e a sede me mitiga
No berço em que se abriga o pouco que lhe gasto,
Ergue-se em alabastro, assoma-me à postiga
E o certo é que me obriga em gesto suave e casto
*
A dar do que me basto um nada... e quase tudo;
Este meu espanto mudo e ainda uma outra sede
Que só o verso mede... e se hoje ao verso aludo,
*
Com espantos não me iludo inda que os não arrede,
Que o verso mais me pede e não sei se lhe acudo
Ou se o prendo em veludo, embora o solte em rede.
*
Maria João Brito de Sousa - 01.07.2020 - 20.00h