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Tela de minha autoria
A VISTA - Coroa de Sonetos
*
Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa
1.
*
A vista contempla de olhos abertos
Prossegue o caminho sem se deslocar
Ao ver bem ao longe e tudo divisar
Até adivinha amores encobertos
*
Os voos das aves pelo céu libertos
A vista os alcança e ao vê-las voar
Sente a liberdade e passeia no ar
E fica contente com sonhos despertos
*
Mas não vê o cego, adivinha o caminho
Sem vista indaga, sente-se sozinho
Não se vê sem ela, sem vista há cegueira
*
Olhando em frente vê-se a paisagem
O amor, a beleza e tanta imagem…
Que bom ter-se vista, tê-la a vida inteira
*
Custódio Montes
31.10.2021
***
2
*
"Que bom ter-se vista, tê-la a vida inteira"
Pois nem a canseira que surja ou que exista
Lhe dirá, - Desista destoutra carreira!
Já não há maneira de o parar. Se a vista
*
Permite que invista, siga à dianteira,
Vá de feira em feira, resista, resista,
Que eu sigo-lhe a pista, fico à sua beira,
Não passo rasteira, só peço que assista,
*
Sou quase uma artista do tempo que avança
E alcança, se alcança, uma meta qualquer
Nas coisas do ser e nas voltas da dança
*
Veja à confiança pois, haja o que houver,
Filho de mulher nunca nega uma esp`rança
E eu pago-lhe a fiança se a esp`rança perder!
*
Maria João Brito de Sousa
31.10.2021 - 12.00h
***
3.
*
“E eu pago-lhe a fiança se a esp`rança perder!”
Eu vejo aqui poema encadeado
Mas nisso lhe digo não sou afamado
Tal como o primeiro lhe vou responder
*
Tenho a esperança de a não ofender
Não pague fiança que estou descansado
Não me deve nada meu muito obrigado
E dê a resposta como lhe aprouver
*
No soneto é livre, a João é que sabe
Eu mantenho a forma que a mim não me cabe
Mandar-lhe palpites como o moldar
*
Também desse modo se vê a grandeza
A forma e a graça e à volta a beleza
Ficando a coroa com outro brilhar
*
Custódio Montes
*
31.10.2021
***
4.
*
"Ficando a coroa com outro brilhar"
Capaz de encantar e ficando tão boa
Que quase atordoa quem venha a passar
Se acaso a olhar e ouvir como soa
*
E ao vê-la a pessoa terá de parar
Pois é singular e nada em si destoa;
Do Minho a Lisboa, num vaivém sem par,
Vamos conversar até que a voz nos doa!
*
Se o verso ressoa e nos corre nas veias
Em suaves colcheias mas sempre a correr,
Quem o vai deter? Estas vagas vão cheias,
*
Moldem-se as areias como se entender!
Já consegui VER as antigas sereias
E então convoquei-as pra virem cá ter
*
Mª João Brito de Sousa
31.10.2021 - 14.00h
***
5.
*
“E então convoquei-as pra virem cá ter”
Sereias poetas? Nunca tinha visto
Mas vejo agora e então não resisto
De vir ao poema para as poder ver
*
A vista de facto está a prometer
Ter esta visão é bonito, insisto
Outro patamar a olhar eu conquisto
Que ao redor a vista já dança a correr
*
Somos dançarinos num belo salão
Menina uma dança ? Vai ver que verão
Um par campeão com todos a olhar
*
A prega da saia e os cabelos ao vento
E nós dançarinos com todo o alento
Todos com inveja deste lindo par
*
Custódio Montes
31.10.2021
***
6.
*
"Todos com inveja deste lindo par"
Tentam melhorar um nadinha que seja
Que se assim se almeja, tudo irá mudar;
Dança-se a voar no canto que nos reja!
*
Roda e rumoreja quem queria dançar
E fica a olhar aquele que se proteja
Da dança vareja que zumbe no ar...
Depois de acabar, chega o que a corteja;
*
Chegou tarde, veja, mas não chore, não,
Que outras mais virão e, se não for embora,
Pode entrar agora que não entra em vão!
*
Não tem dimensão e nasce a qualquer hora
A dança/cantora. Eis a sedução
Que desta canção se fez compositora...
*
Mª João Brito de Sousa -
31.10.2021 - 16.00h
***
7.
*
“Que desta canção se fez compositora…”
Compôs muito bem cada vez com mais brilho
Mas eu não componho que arranjo sarilho
Mas vou aprumar a minha voz cantora
*
Treino um minuto depois meia hora
E volto à mesma sigo o mesmo trilho
Eu cantar adoro cantar é rastilho
Engrandece a alma fá-la sedutora
*
Formamos um grupo, grupo de primeira
Compõe a João e eu à sua beira
Afino a voz e dou tom à canção
*
Corremos as feiras e os campos em flor
Com muita alegria e cheios de amor
Que faz bem à alma e gosta o coração
*
Custódio Montes
31.10.2021
*
8.
*
"Que faz bem à alma e gosta o coração"
De quanta paixão possa levar-lhe a palma
Enquanto o acalma e equilibra a tensão,
Como a actuação sobre um palco de Talma
*
Não me falta a alma, mas tenho a impressão
De faltar-me o chão se não rimo com calma
E aqui se me espalma o talento. A razão
É a reacção à palavra que acalma,
*
E volta-se à alma que já desgatada
Pouco dança ou nada pois não se conforma
Com a fuga à norma. Retoma agastada
*
A roda e... coitada, pensa na reforma...
Mas a dança amorna e já mais consolada
Esquece a falta dada, não mais se transtorna.
*
Mª João Brito de Sousa
31.10.2021 - 17.15h
***
9.
*
“Esquece a falta dada, não mais se transtorna”
Corre sempre em frente, corre rodopia
A dançar esbelta com muita alegria
Quer no passo dado quer como se adorna
*
Anda pela pista de volta a contorna
E cresce em grandeza, cresce em fantasia
O povo a olhar toda aquela magia
Num passo de dança com que ela retorna
*
Se a vista parasse não podia olhar
Este rodopio dum doce bailar
Quem vê não é cego vê bem e não mal
*
Vê as maravilhas duma bela dança
Olha sempre em frente, olha e não se cansa
Vê a dançarina vai ao arraial
*
Custódio Montes
31.10.2021
***
10.
*
"Vê a dançarina vai ao arraial"
E nem leva a mal quando ela desafina;
Se ela desatina, porém, é normal
Tornar-se formal e esquivar-se à ladina.
*
Dança ou não, menina? Quem dança afinal,
Neste virtual? A sentir não se ensina,
Mas a bailarina surge tão real
No palco ideal que esta dança domina...
*
Já desce a cortina mas é cedo ainda
E a dança não finda enquanto um de nós
Tiver garra ou voz e se a voz for bem vinda
*
Estamos na berlinda mas não estamos sós;
Seremos avós da canção que se alinda
Ao tornar-se infinda, suave e tão veloz?
*
Mª João Brito de Sousa
31.10.2021 - 19.20h
***
11.
*
“Ao tornar-se infinda e suave e tão veloz?”
E a fugir tanto parece uma ave
A voar os céus ao longe sem entrave
Os sons se ouvindo em canto de alta voz
*
E nessa orquestra cantando só nós
Destoando o canto como é suave
Baixamos o tom e mudamos a clave
E ninguém nos ouve cantamos a sós
*
Estamos malucos com esta vaidade
Mas o sonho avança por qualquer idade
Que poeta e louco qualquer pode ser
*
Tendo disso um pouco vamos avançar
Cada dança nova deve-se dançar
Andemos na roda sem nos esconder
*
Custódio Montes
31.10.2921
***
12.
*
"Andemos na roda sem nos esconder"
Da chuva a bater e do vento e da poda
Que é cáustica soda que nos faz arder...
Andemos a ver, pois, se esta festa toda
*
Deixa de ser moda pra quem entender
Que um` outra qualquer bem melhor se acomoda
Pra dar azo à boda sem surpreender
Quem nela estiver e quem ainda a açoda.
*
Se alguém se incomoda porque as notas soam
Altas que atordoam, paciência! Amanhã
Volta o nosso afã das canções que atroam
*
E estas notas voam numa dança sã
Como uma romã. E se hoje se me escoam,
Sei que me perdoam; não sou um titã...
*
Mª João Brito de Sousa
31.10.2021 - 21.00h
***
13.
*
“Sei que me perdoam; não sou um titã...”
Nem tenho que o ser, dançarei ao meu jeito
Na rua em casa ou quando me deito
Vou dormir agora mas volta amanhã
*
Vejo a dançarina como uma irmã
Discuto com ela muito me deleito
Porque é minha amiga, amiga do peito
E dança comigo com todo o afã
*
Com olhos a vejo e assim me regalo
Vou calar me agora e amanhã lhe falo
Também fecho os olhos mas quero-a ver
*
A dançar no baile toda enfeitada
É bom que a veja que é engraçada
Melhor tê-la à vista que ela se esconder
*
Custódio Montes
31.10.2921
***
14.
*
"Melhor tê-la à vista que ela se esconder"
Sem deixar-se ver e por muito que insista,
Perdê-la na pista pra me não perder...
- Eu pude escolher. Que uma Musa me assista
*
Na rota imprevista em que lanço o meu ser
De olhos inda a arder. Sendo a protagonista,
Sinto-me optimista, não me vou render;
Se Morfeu me quer, que espere ou que desista!
*
Cantemos a vista qu`inda bem despertos
Estão meus olhos certos de irem num repente
Até mais à frente fazer uns acertos
*
E vão, entre apertos, até onde a mente
Concede ou consente; bosques ou desertos
"A vista contempla de olhos abertos".
*
Mª João Brito de Sousa
31.10.2021 -23.00h
***
"Sem Título" - Tela de minha autoria
SONETO
DA
INTEMPORALIDADE
*
Aqui não há passado nem futuro;
O presente é fieira que não finda
E não tem de passar por nenhum furo
Embora a agulha disso não prescinda
*
E disto estou seguro, tão seguro
Quanto de não haver ninguém que cinda
A ponta que se afasta e que conjuro
Como se o tarde cedo fosse ainda...
*
Onde não há princípio nem há fim
Sou tudo e não sou nada. Este ínterim
É somente ilusão. Paradoxal?
*
Talvez sim, talvez não, talvez talvez,
Já não quero saber de outros porquês;
Quem mede esta meada intemporal?
*
Mª João Brito de Sousa
01.11.2021 - 10.30h
***
Sonetos da Matrix
SONETO FANTASMA
*
Da memória do signo renascido
Venho agora por trilhas de mistério
Espalhar este meu sal de deus perdido
Que em tempos sonhou ser um deus a sério.
*
Se te fizer sentido, faz sentido,
Se te não faz sentido eu ser etéreo
Serei um deus em cacos destruído,
Caído, como cai qualquer império.
*
Não sei bem se estou morto ou se estou vivo,
Se sou, ou não, impulso criativo
Que recusou a morte e que prossegue.
*
Vigio-vos ainda, inda vos prendo
A tudo o que analiso e compreendo;
Vivo de ir assombrando o que me negue!
*
Mª João Brito de Sousa - 01.11.2021 -09.30h
***
Sonetos da Matrix
SONETO
DO
TODO-PODEROSO MERCADO
*
Venho roubar-te, ó Arte, a eternidade!
Tudo o que ousaste ser te cobro agora,
Excepto, talvez, o que de ti se evade
E depressa se evola e se evapora...
*
Deixo-te uma ilusão de liberdade,
Que só essa ilusão por cá vigora;
Levo-te o leito, a casa e a cidade
E até o tempo roubo, hora por hora.
*
Vesti a tua pele inacabada,
Qual terrorista, não te deixo nada
Senão o que do nada fores criando
*
Na condição de te fazer saber
Que tudo o que concebas vai morrer
Às mãos do Tempo que o vai devorando.
*
Maria João Brito de Sousa - 30.10.2021 - 11.00h
***
Sonetos da Matrix
(Em decassílabo heróico)
Pr`a quê cantar a jovem Primavera
Que nos não traga, acesa, a claridade
Que emite, lá no alto, a rubra esfera
Assim que se ergue e brilha em liberdade?
De que terá servido a longa espera
Se a chuva nos roubar, pela metade,
Um céu que esconde um sol que mal tempera
Um dia que nasceu sem qualidade?
E, sob intensa chuva, a tarde fria
De que hoje vou falar, nem sei porquê,
Faz crer que o próprio verso se arrepia
Se, na estrofe final, disser que crê
Que mais depressa brilha um novo dia
Pr`a quem, no que se vai, tanto mal vê…
Maria João Brito de Sousa – 27.03.2014 – 17.37h
(Soneto em decassílabo heróico)
Garante-me o dorido, insone dia,
Um momento qualquer de insurreição,
Um vislumbre de clara epifania,
Um grito de revolta ou de paixão,
Mas sei que tanto faz! Tanto daria
Dizer ou desdizer… contradição
Seria querer extrair desta agonia
Labor que merecesse a criação.
Buscando, no mais fundo de quem sou,
Razão pr`a me lembrar do que restou
Dos mil versos vibrantes que criava,
Redescubro, na força que os gerou,
Um gesto pontual que se lembrou
De eclodir sob a forma de palavra.
Maria João Brito de Sousa – 06.03.2013 - 18h
IMAGEM – “The Weeping Woman”, Pablo Picasso, 1937
Mil protestos `spontâneos, mas sábios,
Vêm desde o mais fundo de mim
Sem que os vá “recortar” de alfarrábios,
Sem sonhar se os lerão mesmo assim…
Meus protestos são feridas gritadas
Sobre a crosta arrancada dos dias,
A correr, por aí, de mãos dadas
C`o prenúncio do fel de agonias!
Sabereis quanta gente aqui morre
Sem ter leito onde encoste a cabeça?
Cuidareis, todos vós, dos “sem nome”?
Qual de vós, “milionários”, discorre,
Sem que uma autocensura o impeça,
Sobre o mal desta impúdica fome?
Maria João Brito de Sousa – 21.11.2012 – 18.22h
Imagem retirada da net, via Google, sem registo de autor
Debulho-me em palavras… nunca choro
Senão estes sinais de tinta preta
Que traço quase sempre em linha recta,
Cuja meta me escapa e nem decoro.
Se pelas gargalhadas me demoro,
De novo outros sinais, traçando a meta,
Se impõem mal o riso me intercepta
E, atrás, surgirão mais, fazendo coro…
Se sinto – e tudo sinto intensamente! –,
São aos milhares, pulando, à minha frente,
Esses infindos signos do sentir
Que imprimem no papel, profusamente,
As mesmas emoções que tanta gente,
Sem tempo pr`ás provar, deixou fugir…
Maria João Brito de Sousa – 17.10.2012 – 19.41h
Abreviada a voz, repenso o gesto
E ressurge a palavra indesmentida
Exactamente aonde a mão estendida
Recolhe o claro fruto e aparta o resto.
Sorrio enquanto estendo o velho cesto
Na direcção da coisa pressentida
E vislumbro, entre folhas, bem escondida,
A forma de um soneto franco, honesto.
Assim contemplo, colho e guardo acasos,
Esperando cada um de olhos já rasos,
Cumpridos sem temor, sem loucas pressas
E, garanto, esse acaso então parece
Estar pronto a responder-me à estranha prece
Sem ter feito, sequer, quaisquer promessas…
Maria João Brito de Sousa – 04.10.2012 – 16.06h
Trago nas mãos o mesmo que tu trazes,
Uns pós de um quase nada que não usas,
Um punho, erguido aos dias mais audazes,
E um punhado – infalível! - de recusas…
Grito nas ruas, escrevo-me em cartazes
E exalto-me na cor de tantas blusas
Que ninguém sonhará a quantos “quases”
Reconduzo estas lutas inconclusas…
Devo, porém, dizer-te que fraquejo,
Que, embora corpo e alma, o meu desejo
Seria ir muito além do que consigo…
Que importa?! Ele surge sempre um novo ensejo;
Se me parece pouco o que em mim vejo,
Sempre há-de ser maior por estares comigo!
Maria João Brito de Sousa – 23.09.2012 – 19.14h
Das pétalas me irrompe uma só pressa;
Estender-me, transparente, intacta e pura,
Entre outras flores que a morte não segura
Antes que a Primavera se despeça…
Não sei se é pertinente, ou vos interessa,
Que fale de quem sou, nesta loucura
Em mim, tornada “eterna enquanto dura”,
Mas que, em murchando, em mim se reconheça.
Interesse, ou não, só nela me defino!
Sou ponte a florescer sobre um destino
Que pode, ou não, ser meu… pouco me importa!
Persigo-me a mim mesma em desatino
E só sei serenar se me imagino
Comemorando a flor, depois de morta.
Maria João Brito de Sousa – 19.09.2012 – 21.03h
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