Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores.
...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
NOTA - Acabo de ser contactada pela autora que me alertou para o facto de os versos originais terem um erro. É um erro claramente induzido pela minha quase cegueira e não posso modificar o soneto ou deixaria de fazer sentido, mas aqui fica a correcta transcrição dos dois versos; "Há momentos em que a palavra/ É pedra e cal[a]."
Não trago mezinhas, nem vos trago nada Que ando já cansada de ver que sozinhas Bocejam vizinhas, qual a mais trancada, Qual mais alquebrada de esfregar cozinhas, *
De espanar coisinhas, de ficar deitada... Aqui, confinada, escrevo cantiguinhas Muito levezinhas. Versão mais pesada É bem complicada e eu suo estopinhas *
Pr`adoçar-lhe as linhas ou dar-lhe a toada Mais apropriada, tal qual as gavinhas Que moldam as vinhas a qualquer latada. *
Hoje, atordoada, só de coisas minhas Encho estas cestinhas de palha entrançada; Vou em revoada, como as andorinhas! *
Tudo pondo em questão, duvido sem parar Da placidez lunar até à suspeição Com que encaro a fissão de teor nuclear, Não vá ela levar o mundo à perdição... *
Sou fiel como um cão, mas sou gato a sondar Tudo quanto encontrar espalhado pelo chão; Ignoro a frustração e afasto-a se chegar A mim sem me enlevar, nem me pedir perdão. *
Duvido por sistema e não deixo de crer Num versito qualquer que aspire a ser poema Seja qual for o tema a que se propuser, *
Portanto, mal puder, desfaço o tal dilema E não há voz suprema ou espada de aluguer Que me force a ceder se o verso em mim já rema. *
Por que fomes passaste, companheiro Feito de pó de estrelas como eu? Que sede insaciável te bebeu Sonho, sangue e suor do corpo inteiro?
*
Por que alto mastro ou por que chão rasteiro Passaste a vida que te anoiteceu Enquanto um velho sonho te prendeu À pulsão de ir ao mar sem ter veleiro?
*
Assim te vejo. Assim me aconteceu, Velho ou menino, casado ou solteiro, Lembrar-te ou inventar-te enquanto réu
*
De imaginário tribunal costeiro, Entre barcas com velas azul-céu E ondas moldadas em rodas de oleiro.