A PINTORA
Devorava sentidos proíbidos
Na captura das formas e das linhas.
Falava pouco ou nada com vizinhas.
Dizia-se da cor dos seus vestidos.
Abraçava-se aos gestos repetidos
Que sobreamontoava, quais sardinhas,
Recriando ilusões e adivinhas
Onde antes eram vãos os seus sentidos.
Criava como quem retrata a vida
Que dantes conhecera, repetida
Por muitos que ela nunca conheceu
E roía os caroços de outros frutos
Supondo partilhar os seus produtos
Até ao próprio dia em que morreu.
Maria João Brito de Sousa - 2007
Pormenor de "Escorço - Grande Pintora a Lápis de Cor"