17
Mar21
PÁSSAROS DE PANO
Maria João Brito de Sousa
PÁSSAROS DE PANO
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Trago no peito um pássaro de pano
Que anseia por voar mesmo sem asas
E vê gaiolas onde se erguem casas
A estiolar de pasmo e desengano.
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Nos olhos, outro pássaro que, insano,
Vai esvoaçando sobre acesas brasas
Que são as sobras destas marés vazas
Que entraram na vazante há mais de um ano.
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Dois pássaros são, pois, dos que não voam
Se não por dentro da sua loucura
E enquanto sonham, dos mais não destoam
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Já que o pano que envergam tem textura,
Bom corte e até botões dos que abotoam...
Se teimam em voar, quem mos segura?
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Maria João Brito de Sousa - 15.03.2021 - 15.00h
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