O DESVIO e UM ESPAÇO AO PÉ DO MEU...
Porque me fica a boca assim amarga
E os olhos, embaçados, se me cerram
Se saio desta casa onde me entregam
Poemas e animais? A minha carga.
Porque será que me não sei mover
Senão neste meu espaço sem fronteiras?
Porque razão me sinto uma estrangeira
Onde possa estar longe de só ser?
E, no entanto, aonde os outros vão,
Onde as coisas se fazem é que são
Os espaços benditos pelo mundo.
E eu, mais uma vez, dobro a vontade,
Me curvo a essa estranha realidade
E me desvio da luz de que me inundo...
UM ESPAÇO AO PÉ DO MEU...
E faço e raspo e limpo e vejo e esfrego,
Depois volto a limpar e a esfregar
Neste vaivém do eterno-começar
Ao qual dedico a vida a que me entrego...
Já mal me sobra tempo pr`ó que escrevo
E quase nenhum tempo pr`a pensar!
Se tempo `inda me resta pr`a sonhar
Nenhum me sobra já pr`a ter sossego...
E escovo e subo e desço e nunca paro
Neste cuidar do muito que me é caro
E nem sei se parando `inda sou eu...
Nem mesmo enquanto durmo eu fico em paz!
Quase sempre um dos "meus" é bem capaz
De lutar por um espaço ao pé do meu...
Imagem retirada da internet