NESSA CASA
Nessa casa
Os dias eram maiores...
As coisas eram, invariavelmente, vivas
E os vivos eram, pontualmente coisas.
Os medos e as revistas da novela
Arrumavam-se, sempre,
No quarto da criada
E as patologias
Dentro dos livros
Havia sempre livros
Nunca demasiados, contudo,
E as paredes
Eram cúmplices
Dos meus infantis murais.
A enorme janela da sala
A poente
Convidava
A vespertinos arroubos
Da criação
Que seria, sempre,
A Senhora da casa.
Depois havia mais casas
Parecidas, mas muito diferentes
A seguir era o Tejo
Aonde encontra o mar.
O Sol
Punha-se, sempre,
A nascente dessa casa,
Onde nasciam os abrunheiros.
As memórias
Tomavam chá connosco
E jogavam às cartas
Nessa casa.
Para além dela
O mundo era diferente...
No fundo
O mundo era apenas
Uma consequência dessa casa
Nessa casa.
Nessa casa escrevi,
Pintei e desenhei
Como hoje desenho,
Pinto e escrevo
Sempre que reinvento essa casa
Nesta casa onde sou
Consequência de mim
Nessa casa.
Poema dedicado à Ligeirinha
Imagem retirada da internet
A todos os amigos que hoje tiverem a bondade de me visitar, gostaria de pedir que não saíssem sem passar pelo jardinzinho interior http://mumbles.blogs.sapo.pt/
Obrigada!