QUINTA, SÁBADO, DOMINGO E SEGUNDA FEIRA
A PALETA
(A minha paleta, à luz da Biopsicografia)
Em azuis e magentas me descrevo.
Em verdes e castanhos vou vivendo
Porque o sol se levanta num crescendo
Aspergindo outros tons sobre este enlevo
E nunca sei se devo ou se não devo
Cobrir-me desse negro a que me prendo...
Mas, enquanto não sei, eu vou sabendo
Que mesmo sendo cor, eu sempre escrevo
Pois sou uma paleta das ideias:
Sou apenas um leito de grafismos
E a matriz da palavra em gestação!
É som, o que me corre pelas veias,
O que vai dando cor aos silogismos
Que nascem porque bate um coração...
Maria João Brito de Sousa - 2009
A VARANDA DE DEUS
Deus tem uma varanda junto ao mar.
Eu, que nela nasci, vou descrevê-la;
Essa varanda é como uma janela
Onde Deus se debruça p`ra sonhar.
E é, essa varanda, um doce lar
Para que possa qu`rer descansar nela.
É pequena, a varanda, mas é bela
E cabe nela o mundo... se mudar.
Caberá nela quem vier por bem,
O que foi perseguido e quer abrigo,
Aquele que já pecou e quer perdão,
O que venha sonhar como Deus vem,
O que venha esquecer cada castigo
E o que jamais condene o próprio irmão.
Maria João Brito de Sousa - 2009
UM BRILHOZINHO NOS OLHOS DE UM COMETA
Era um brilho nos olhos de um cometa
E eu, que partilhava tudo, tudo,
Rodei sobre o sofá, num gesto mudo,
Fugindo à posição da linha recta.
E sorri, eu também, enquanto ouvia
O que disseste em tom coloquial
Naquela peçazinha cultural
De um minutinho, só, de Astronomia.
Foi o deus dos acasos? Foi a vida?
Já não pergunto mais e tudo aceito
Sem me sentir, sequer, muito intrigada,
Como se a história fosse então cumprida,
Como se tudo ali fosse perfeito
E eu fosse finalmente retratada.
Maria João Brito de Sousa - 2009
O PRESÉPIO II
Que frio que estava ali, que frio fazia…
E, no entanto, a luz que então brilhava,
Aquecia, por dentro, e semelhava
Um sol pequeno e pleno de magia.
Nas palhas, um menino que sorria…
Era p`ra ele que a luz se desdobrava
Como se tudo, tudo o que ali estava,
Nos enchesse de súbita alegria.
Tantos meninos, tantos, já passaram.
Tantos viveram e nos cativaram
Com obras geniais, vidas notáveis
E é, no entanto, aquele menino pobre
Que a luzinha, brilhando, nos descobre,
Quem nos desvenda as coisas improváveis.
Maria João Brito de Sousa - 2009
NOTA - Peço desculpa por esta anarquia gráfica que não consigo remediar de forma nenhuma... acho que a minha pen se incompatibilizou de vez com o 2008... hoje nem sequer consegui copiar os sonetos do fim de semana e tive de usar alguns que eu penso (?) ainda não ter publicado e que estavam, por acaso, na dita pen...