Maria João Brito de Sousa
MOAXAHA IV
Aos que em tudo acreditam me dirijo.
Corrija quem puder. Eu não corrijo!
Erros de paralaxe. O que serão?
Há que ter disso a mínima noção
E não acreditar de modo vão
Em tudo o que se vê nestas paragens
Onde se (des)constroem mil imagens.
Escorços, pontos de vista, perspectivas,
Visões em túnel, falsas narrativas
E crenças, serão como arestas vivas
Que muitas vezes saltam das mensagens
E te enredam na farsa das miragens.
“Mas a vida é uma coisa imensa, que não cabe numa teoria, num poema, num dogma, nem mesmo no desespero inteiro dum homem.”
Citando Miguel Torga, in DIÁRIO, 1941
Maria João Brito de Sousa – 18.05.2018 -12.33h
publicado às 13:04
Maria João Brito de Sousa
MOAXAHA III
AO PÃO
Há quem cozinhe o pão da sua ceia
Na brasa incandescente de uma ideia.
Por vezes, nada, nada nos sacia
Esta fome, esta sede, esta agonia,
Este desassossego, esta avaria
Que, ao consumir-nos, sempre se acrescenta
Ao verso cuja massa em nós fermenta.
Outras vezes, ficamos em pousio
A levedar um pão bem mais tardio.
Sem brasas. Só tições no forno frio
E um nada, um quase nada que alimenta
Quanta razão de um nada se sustenta.
“Não tem asas
a vitória terrestre:
tem pão sobre os seus ombros,
e voa corajosa
libertando a terra
como uma padeira
levada pelo vento.”
Citando Pablo Neruda in “ODE AO PÃO”
Maria João Brito de Sousa – 09.05.2018 – 13.40h
Imagem - The Bread Carrier - Pablo Picasso
publicado às 08:49
Maria João Brito de Sousa
MOAXAHA
Eis o meu fruto. Foi este e só este
O que te alimentou enquanto o leste.
Poderá ser-te doce ao paladar
Ou, ao contrário, pode-te amargar,
Mas certa estou que te há-de alimentar
Ainda que a acidez o torne agreste.
Alimentou-te, e bem, quando o mordeste!
Outros não posso dar-te, que os não tenho;
Só estes brotam deste velho lenho
Que embora frágil, tortuoso e estranho,
Te fará recordar o que esqueceste,
Se acaso te esqueceres de que os comeste.
"Pelos seus frutos os conhecereis"
*Citando a Bíblia – Novo Testamento - Mateus 12:33
Maria João Brito de Sousa – 29.04.2018 - 23.28h
Gravura de Manuel Ribeiro de Pavia
publicado às 09:14