A FLOR E A ARMA
METAMORFOSE
“Tenho alma de papoila;
mal se toca, mal se agita,
caem-lhe as pétalas todas
e fica morta, despida
noutras vezes, a papoila,
só por força do dever,
transforma-se em rocha dura
resiste à dor, à tortura,
nada a pode comover
mas, rocha bruta ou papoila,
no palco fica a Mulher;
eu, metamorfoseada
em anjo ou alma-penada,
ora papoila, ora fraga,
conforme vos convier”
Maria João Brito de Sousa - 1993(?)
Poema introdutório, escrito por mim no Verão de 1993
A FLOR E A ARMA
*
Dei-vos a flor das armas que não tinha
- ou tinha e quereria nunca usar... -
E a dupla imensidão desta alma minha
Num corpo que a mal sabe resguardar,
*
Entreguei-vos a espada, sem bainha,
Na baioneta, pronta a disparar,
E ninguém reparou que ela, sozinha,
Se transformava em flor pr`a vos cantar
*
Por isso já não sei se arma, ou se flor,
Mas seja ela aquilo que ela for,
Ninguém pode negar-lhe a dupla vida
*
E, ao entregá-la com tão grande amor,
Com ela disparei, sem mágoa ou dor,
Um verso em flor por pétala caída.
*
Maria João Brito de Sousa – 17.07.2011 – 16.29h
Imagem - Eu, em 1956