Maria João Brito de Sousa
SEM MÃO QUE A CONDUZA E SEM MUSA QUE A HABITE *
"Do luar grisalho que há nos meus cabelos"
Fiz uma bandeira que elevei aos céus
Qual imensa pomba de traços singelos
Mas prenhe de anseios tão meus quanto seus *
Um vento mais forte levou tais anelos
Pra longe, tão longe que estes olhos meus
Não mais a reviram... Que sonhos tão belos
Partiram sem rumo e sem dizer adeus... *
Do Sol que hoje queima os meus olhos cansados
Colho agora um raio que os mais são escusados
E aponto ás alturas a luz que ele emite *
Mas sinais não vejo da pomba/bandeira
Que o vento de um sopro levou toda inteira
Sem mão que a conduza e sem musa que a habite. *
Mª João Brito de Sousa
23.03.2024 - 12.39h ***
Soneto criado a parir do verso final do soneto "Sol e Vida" da autoria de MEA
publicado às 13:23
Maria João Brito de Sousa
"E nasce outro dia de sonhos, de esp`rança"
Desta gasta noite de desilusões
Que vence o cansaço, que traz a bonança
Que à beira do palco conduz multidões...
Cantemos que o mundo ainda é criança!
Crianças, nós todos, rumando às paixões
Que o soneto acende... e enceta-se a dança
Que o cria e partilha sem mais concessões!
Vai ficando escuro... do escuro da sala,
Um verso que nasce espontâneo se exala
Das pontas dos dedos, geladas, geladas...
Conversas que passam, mas nada nos cala;
Se um verso nos chama, passemos à fala
Que ao escuro da sala nos trouxe as chamadas.
Maria João Brito de Sousa - 19.12.2017
NOTA - O primeiro verso - entre aspas - é da autoria do poeta Joaquim Sustelo
publicado às 14:29
Maria João Brito de Sousa
PORQUE SÓ AMAR É PODER SEGURO
Há quem do poder faça seu amor
Numa entrega total quase paixão
Impondo-se pla força e sem pudor
Não se aceitando amar nem ver razão...
Mas que importa o poder sem o calor
E o carinho dum só toque de mão
Dum beijo e abraço dados com ardor
Sentindo bater forte o coração?
Se poder é o mando que dispõe
E que ímpio obriga e logo impõe...
Onde estará o amor real e puro?...
Não me peçam então que ame o poder
Nem sequer pra com ele conviver
Porque só amar é poder seguro...!
MEA
30/11/2017
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PODER(es)
Tão-pouco essa obsessão pelo Poder,
Alguma vez senti, ou entendi,
Por muito que o tentasse perceber,
Nunca pude, ao Poder, trazê-lo aqui.
Dissecá-lo – a mão firme e sem tremer... -,
Lamento confessar, não consegui,
Mas isso não bastou pra nel` não crer,
Porque, apesar de tudo, bem o vi,
Brutal na sua forma de exercer
A funesta paixão que se acender
Em todo o que o trouxer dentro de si.
Eu pouco posso e nada quero ter
Para além do que posso e que é escrever,
Mas, se algum dia o quis, nem o senti.
Maria João Brito de Sousa -30.11.2017 -16.20h
publicado às 17:47
Maria João Brito de Sousa
É LÁ NESSE LUGAR QUE A VIDA HIBERNA
Lá no alto onde o tempo se calou
Onde há nuvens que choram sem querer
Pra onde a lua foi e não voltou
E há estrelas acabadas de nascer…..
Lá no alto onde o tempo já brilhou
Quando o sol lá nasceu sem se esconder
Lá onde o azul do céu se misturou
Com as cinzas das estrelas a morrer
Fica o lugar mais belo, mais sereno
Onde a paz é maior o vento ameno
E a luz, eu direi mesmo que é eterna
Onde o sonho renasce e permanece
Quando a idade já nos entardece
…É lá nesse lugar que a vida hiberna!
MEA
28/11/2017
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TAMBÉM NESSE LUGAR NASCE A POESIA
“Lá no alto onde o tempo se calou”
E os astros pulsam ao sabor do espanto
Cadências de um quasar que começou
Há milhões de anos sem que o desencanto,
“Lá no alto onde o tempo já brilhou”,
O impedisse de ir espraiando um manto
Sobre o vazio de um espaço que inundou
De química, primeiro, e... depois tanto,
“Fica o lugar mais belo, mais sereno”
De todos os locais que um ser terreno
Pode engendrar, se sonha e fantasia;
“Onde o sonho renasce e permanece”,
Cresce o Homem que ainda desconhece
Quanto de si é Ciência... e Poesia.
Maria João Brito de Sousa – 29.11.2017 – 18.10h
publicado às 18:27
Maria João Brito de Sousa
ALI...NO CAIS DO SODRÉ
ALI... NO CAIS DO SODRÉ
Ali onde o Tejo parecendo o mar
Vem bem de mansinho encostar-se no cais
E em sua dormência fica a suspirar
Aos pés de Lisboa seus factos reais
Com doces meneios a quer abraçar
Faz juras de amor, dizendo que jamais
Em dia de sol ou noite sem luar
Deixará de vir murmurar-lhe seus ais
E ela enamorada vem cantar-lhe um fado
Num doce clamor num tom apaixonado
E com ar brejeiro vai mostrando o pé
E o Tejo promete,que num gesto eterno
Virá sempre dar-lhe aquele abraço terno
Ali, bem juntinhos, no Cais do Sodré
MEA
1/11/2017
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AQUI, NA BARRA
Aqui, onde o Tejo, deixando pr`a trás
Todo o manso espanto que o prende à cidade
E, avançando sempre, às ondas se faz
Deste mar imenso e, tenso, o invade
Sem medos, nem freios, ainda que em paz
O mar o receba – que o Tejo é saudade
que o mar nunca esquece por não ser capaz -
Num fraterno abraço, sem qualquer maldade,
Só mesmo as gaivotas se fazem ouvir
Mais alto que as ondas do mar que, a rugir,
Com elas faz coro e desgarra, desgarra...
Ouvindo o seu coro, não sei senão ir
Atrás desse som que não sei produzir,
Mas que ecoa em mim e por toda esta Barra!
Maria João Brito de Sousa – 01.11.2017 – 16.44h
(Portuguesa, natural de Oeiras e S. Julião da Barra)
publicado às 17:03
Maria João Brito de Sousa
(Soneto em verso hendecassilábico e rima intercalada)
Já estás perdoado, mas sempre te digo
Que amante ou amigo não deixo de lado;
Cometes pecado? Prometo castigo,
Mas esqueço e prossigo... já estás perdoado!
Só peço cuidado, de resto... nem ligo
E apenas consigo dar-te outro recado,
Este, mais pensado, pr`a nunca haver pr`igo
De, estando eu contigo, ser logo olvidado;
Sou, tal como tu, tenho veias com sangue
E se fico exangue partirei de vez...
Depois, não me vês, nem me afagas no mangue,
Pois carne sem sangue nunca aceita arnês,
Tem os seus porquês e tão pronto se zangue,
Esconde-se no mangue, perde a languidez...
Maria João Brito de Sousa -30.10.2017 – 11.35h
publicado às 15:10
Maria João Brito de Sousa
NA PENUMBRA PINTADA PELA LUA
É teu corpo um soneto que imagino
Que escrevo tantas vezes e, adormeço
No verso que o percorre peregrino
Por curvas e caminhos que conheço
Outros versos me levam ao destino
Quando as horas me acordam e te peço
Que completes um tal verso ladino
E dês ao meu poema recomeço
Na penumbra pintada pela lua
Crescem versos da rima quente e nua
Que fazem a beleza dessa escrita
Sem haver da manhã sequer vislumbre
Declamo cada verso com deslumbre
Quando de mim se abeiram em visita
MEA
23/10/2017
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NUM RECANTO QUALQUER DO MEU PASSADO
“É teu corpo um soneto que imagino”
Recolhido num berço, eternizado
Pela minha memória, meu menino,
Num recanto qualquer do meu passado.
“Outros versos me levam ao destino”
Desse bercinho em mim cristalizado,
Mas sempre que te evoque, pequenino,
Estarás presente, embora em tempo errado;
“Na penumbra pintada pela lua”,
Abres porta e sais comigo à rua
Num gesto rotineiro e natural.
“Sem haver da manhã sequer vislumbre”,
Espero que o sono volte e me deslumbre,
Passando, em vez de sonho, a ser real...
Maria João Brito de Sousa – 23.10.2017 – 17.05h
Imagem - "Le Berceau", Berthe Morisot
publicado às 17:14
Maria João Brito de Sousa
DEI VOZ ÀS MINHAS MÃOS
Dei voz às minhas mãos num fim de tarde
Quando o sol ao cair no azul do mar
Parece que se ateia e depois arde
Nas águas onde prendo o meu olhar
Vestiram gestos mansos sem alarde
E falando ao teu corpo devagar
Numa voz calma quase que cobarde
Por ele se deixaram encantar
Libertados que foram os seus medos
Sussurraram palavras e segredos
Bailando no silêncio da atmosfera
Já no horizonte o céu enegrecia
Porquanto o sol ali se despedia
Calou-se então a voz que às mãos eu dera
MEA
2/10/2017
A CAMINHO DO INEVITÁVEL FIM DE TARDE
Por muito que adiasse a voz crescente,
por muito que, hoje ainda, eu a resguarde,
a voz do sonho ousou passar-me à frente,
“Dei voz às minhas mãos num fim de tarde”
E nunca mais, de mim, tornada ausente,
que a voz das minhas mãos não mais retarde
palavras mil, que tão precocemente
“Vestiram gestos brandos sem alarde”
Livres do pseudo-sonho que os tolhia
enquanto, passo a passo, eu mal crescia,
“Libertados que foram os seus medos”,
Deixaram de iludir-se. São brinquedos,
ilusões de uma infância. Mal nascia,
“Já no horizonte o céu enegrecia”.
Maria João Brito de Sousa -04.10.2017 – 11.01h
publicado às 11:28
Maria João Brito de Sousa
O SILÊNCIO FALA E GRITA
Por vezes o silêncio fala e grita
De modo tão intenso tão feroz
Que quando ele aparece e nos visita
Faz-nos acreditar que ganha voz
Disfarça-se a rigor qual parasita
E expressa-se de modo tão atroz
Que entre seus brados sente-se a desdita
Cingir-nos e tomar conta de nós
Porém se a madrugada esparge luz
Logo o silêncio foge e se conduz
À plena fantasia dos sentidos
Surge então do silêncio a quietude
Que se quer nos proteja ampare e escude
Em momentos pra nós mais doloridos
MEA
10/09/2017
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EM SILÊNCIO
“Às vezes o silêncio fala e grita”
Tornando-se um tirano prepotente
Mas, noutras, surge harmónico e suscita
Uma viagem nova ao que se sente.
“Disfarça-se a rigor qual parasita”,
Ou despe-se de véus e, de repente,
Ouvimos, dessa voz que nos habita,
Aquilo que, no fundo, nos faz gente.
“Porém se a madrugada esparge luz”,
Ocorre outro silêncio; o que traduz
A esp`rança do nascer de um novo dia.
“Surge então do silêncio a quietude”
E, em silêncio, se atinge a plenitude,
Ou se morre, num espasmo de agonia...
Maria João Brito de Sousa – 11.09.2017 – 13.36h
publicado às 14:10
Maria João Brito de Sousa
QUERIA SER POEMA
Queria ser poema, não poeta
Poema que espalhasse afecto e amor
Por todos os recantos do planeta
Onde se dita a guerra, se faz dor
Poema que escorresse da caneta
De qualquer presidente ou ditador
Que ao assinar metesse na gaveta
Tal decreto com fim exterminador
Queria ser poema no luar
Para poder à noite iluminar
Quem nada tendo dorme na calçada
Poema só com versos de amizade
De alegria, prazer felicidade
Lidos em cada triste madrugada
MEA
14/08/2017
UNOS, AINDA QUE SÓS
“Queria ser poema, não poeta”,
E tantas, tantas vezes o sonhei
Que acabou por ser essa a minha meta
Quando, ao último verso, enfim cheguei.
“Poema que escorresse da caneta”
Como sangue da carne em que o gerei,
Que me deixasse grávida e repleta
Do tanto que perdi quando me dei.
“Queria ser poema no luar”,
Ou verso apenas, sob a luz solar,
Mas sempre sob um sol de todos nós.
“Poema só com versos de amizade”
Que nunca nos negasse a liberdade
De sermos unos, mesmo estando sós.
Maria João Brito de Sousa – 23.08.2017 – 10.21h
(Imagem retirada do Google)
publicado às 13:41
Maria João Brito de Sousa
UM BARQUITO NO TEJO
Lá ao longe nas águas cor de prata
Onde o sol se refresca ao fim do dia
E onde o Tejo convida uma fragata
Vai um barquito, só...sem companhia
Vai sereno na sua passeata
Deslizando em reflexos de poesia
Sob a ponte onde a água é mais pacata
Quando a tarde é já cor de fantasia
Parece quedo ali ao meio do rio...
Somente o balouçar lento e macio
Denota que ele vai a navegar
De vela içada segue o seu destino
E ao leme leva um sonho de menino
Feito de sol de brisas e de mar
MEA 20/08/2017
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JANGADA DE SONHOS
“Lá ao longe, nas águas cor de prata”,
Flutua uma jangada aventureira
Humilde, porque toda se recata,
Sem âncora, sem rumo e sem fronteira.
“Vai sereno/a na sua passeata”,
Ao sabor das marés voga ligeira;
Só nas cristas das ondas se retrata
E só no azul do céu se espelha inteira.
“Parece quedo/a, ali, ao meio do rio”,
Onde não passa mais nenhum navio;
O mar que a espera é seu, de mais ninguém!
“De vela içada segue o seu destino”
Deixando atrás de si o rasto fino
Do sonho com que ousou deixar Belém.
Maria João Brito de Sousa – 21.08.2017 – 10.44h
publicado às 10:57
Maria João Brito de Sousa
COLHI CACHOS DE SOL
Colhi cachos de sol já à tardinha
E juntei-lhe uma fruta bem madura
Com água, gelo e gim. Fiz caipirinha
Que fui bebendo em copos de ternura
No olhar ficou em jeito de adivinha
O fulgor que o sol pôs nesta mistura
Senti-me ao fim da tarde uma rainha
Dourada como a mais bela escultura
Já a lua vestia de cambraia
Descalça entrei nas ondas duma praia
E apanhei nelas véus de renda fina
Cobri o rosto e andei sem rumo exacto
Pensamento vazio olhar abstracto
Nos pés descalços asas de menina
MEA
22/07/2017
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FAMILIAR(IDADES)...
“Colhi cachos de sol já à tardinha”,
Gomos de lua cheia e reluzentes
Bagos, desses que brotam duma vinha
De que outros se embebedam, desistentes...
“No olhar ficou um jeito de adivinha”;
Sabes, de saber feito, ou só pressentes,
De mim, quanto era meu? Que me mantinha
Assim, perseverante, entre indif`rentes?
“Já a lua vestia de cambraia”
Quando, no horizonte, o sol desmaia
E, fascinada, então, pelo poente,
“Cobri o rosto e andei sem rumo exacto”
Encontrando um irmão em cada gato
E, em cada cão sem dono, outro parente...
Maria João Brito de Sousa – 26.07.2017 – 11.25h
publicado às 11:47