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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
28
Jul20

PEÇO DESCULPA; NEM UM VERSO OUVI... - Coroa de Sonetos

Maria João Brito de Sousa

eu na praia ii.jpg

NEM UM VERSO OUVI... - COROA DE SONETOS

Maria João Brito de Sousa e Custódio Montes

*

1
*

Houvesse, hoje, um versito distraído

Que por aqui passasse por acaso

E que algo murmurasse ao meu ouvido,

Pra poder-vos dar conta deste atraso...

*

 

Fosse de pé quebrado ou mal medido,

Quase a desvanecer-se num ocaso,

Gago que fosse ou tão mal construído

Que em tudo semelhasse ângulo raso,
*

 

Que quisesse ser recto e não se erguesse

Um grauzito sequer que graça desse

A quem o visse ou lesse por aí...
*

 

Mas este que encontrei sem voz, nem dono,

Tudo quanto fará é dar-vos sono;

Peço desculpa. Nem um verso ouvi.
*

 

 

Maria João Brito de Sousa - 24.07.2020 - 14.30h
**

2
*

Também eu não ouvi sequer um verso

Pois fui passar uns dias à aldeia

Sem versos, claro, venho de alma cheia

E este estado assim é bem perverso
*

Trazer a alma toda em anverso:

A alma com poesia sem que leia

O ritmo que entre ela se encandeia

E firmem no conjunto um universo
*

É termos o poema cá bem dentro

E a forma arredada do seu centro

E não o publicar nem o fazer
*

Às vezes fica o mundo frio, escuro

Sem vermos o presente e o futuro

E um verso só bastava para o ver.
*

Custódio Montes

**

3
*

"E um verso só bastava para o ver"

Pois bastaria apenas tê-lo ouvido,

Mas... desta vez escondeu-se, emudecido,

Talvez sentindo medo de morrer,

*

Talvez pensando poder-se perder

Quiçá de si, do seu próprio sentido,

Que entre hospitais se sente já perdido

E nunca tem vergonha de o dizer...
*

A Musa foi de súbito tomada

Por um medinho atávico, ancestral,

E escondeu-se debaixo de uma escada
*

Assim que viu, ao longe, o hospital.

Bem a chamei. Não me serviu de nada...

Estou "desmusada" e a sentir-me mal!
*

Maria João Brito de Sousa - 25.07.2020 - 11.25h

**

4
*

"Estou "desmusada" e a sentir-me mal"

Melhoras lhe desejo a si e à musa

Mas mais a si que esta isso escusa

Doente embora é fenomenal
*

Os versos que ela engendra são sinal

De veia que se mostra bem difusa

Reergue-se depressa e não recusa

Andar correr e ser original
*

Por isso não se queixe, minha amiga

Senão olhe que Deus inda a castiga

Nós não o desejamos nem queremos
*

Doenças têm cura e melhora

E mesmo apenas sã uma só hora

São belos os poemas que lhe lemos.
*

Custódio Montes
**

5
*

"São belos os poemas que lhe lemos",

Poeta que ontem foi à sua aldeia

E dela veio com a bela veia

Que hoje frutificou, como aqui vemos!
*

Entrou na Barca Bela e fez-se aos remos

Sem medo do "mar grande" e da sereia,

Nem do rochedo e dos bancos de areia

Nos quais já tantas vezes perecemos...
*

Chegou e dou-lhe agora as boas vindas

Porque assim se recebem bons amigos

Que foram visitar as praias lindas
*

Que já foram seus berços, seus abrigos;

Desejo felicidades sempre infindas

E poucos ou nenhuns dos meus castigos.
*

Maria João Brito de Sousa - 26.07.2020 - 08.40h

**

6
*

"E poucos ou nenhuns dos meus castigos"

Os seus castigos são materiais

E não como se vê de outros mais

Pois olha e vê bem longe por postigos
*

Que outros pelo ar e com perigos

Tão só divisam coisas bem normais

Sem luas sois ou tardes outonais

Com sonhos ou quimeras como abrigos
*

Ainda para mais desculpas pede

De não ouvir um verso ou melodia

Quando nada se vê de que se arrede
*

E produz seus poemas dia a dia

De toda a realidade a que acede

E isso porque é toda poesia ....
*

Custódio Montes

(26.7.2020)
**

7
*

"E isso porque é tod(a)o poesia"

E merece o respeito e a amizade

De quem a responder-lhe não se evade

E o faz com muitíssima alegria

*

Haja quem nos secunde com mestria,

Que eu, dos meus olhos, sinto já saudade

E ao lume deixo a açorda que, em verdade,

Por um pouquinho mais se queimaria...
*

Alguma coisa ainda vejo, sim,

Mas a cabeça dói-me, os olhos ardem,

E já nem sei o que será de mim
*

Se for em vão que meus olhos aguardem

As cirurgias... mas, até ao fim,

Vou crer que sim, por muito que elas tardem!
*

Maria João Brito de Sousa - 26.07.2020 - 11.29h
**

8
*

"Vou crer que sim, por muito que elas tardem!"

Mas vão chegar depressa isso vão

Aos olhos também fiz operação

E agora vejo bem e já não ardem
*


Que os deuses a protejam e a guardem

E que lhe restituam a visão

Para podermos ter sua lição

Que os médicos se apressem, não aguardem
*

Eu penso que vai tudo correr bem -

Comigo assim foi e eis a prova

Puseram lentes novas e também
*

Se foi a miopia, o que renova

A vista que alcança mais além -

E vai ficar, amiga, como nova.
*

Custódio Montes

(26.7.2020)
**

9
**

"E vai ficar, amiga, como nova",

Diz-me o amigo, muito gentilmente...

Mas eu pergunto quando. É mesmo urgente

E esta quase-cegueira bem o prova.
*

Esforçadamente leio ou escrevo a trova

E tudo faço assim; esforçadamente,

Além do que se exije a toda a gente

E, pior, estando já c`os pés prá cova
*

Já que esperança de vida, pouca tenho

E, se bem que isso encare com bravura,

Melhor fora podarem-me este lenho
*

Que à vida me traz dor e desventura

E darem-me a visão que tive antanho

Pra não andar, das teclas, à procura...

*

Maria João Brito de Sousa - 26.07.2020 - 13.21h
**

10

*
"Pra não andar, das teclas, à procura"

Mas vê bem as palavras, isso vê

Pois nota isso a gente que a lê

Que encontra nelas força e candura
*

Arrojo, sentimento com doçura

E criatividade e os porquês

De tão bem escrever em português

De ser muito vernácula e pura
*

Mas não vou parecer adulador

Que o que se diz às vezes tem um custo

Mas ser omisso outras é pior
*

E eu não tenho peias não me assusto

Afirmo sempre aquilo que é melhor

E aqui o que eu afirmo é tudo justo.
*

Custódio Montes

(26.7.2020)
**

11
*

"E aqui o que eu afirmo é tudo justo"

Mas o que não é justo, com certeza,

Foi deixarem-me, há anos, assim presa

A escrever tudo com tão grande custo!
*

Não será facilmente que me assusto,

Conseguirei manter certa frieza

E por vezes até sair ilesa

Do confronto com quem é mais robusto,
*

Se confronto existir, que o não procuro!

Mas conseguindo ser muito objectiva,

Não tenho medo nem sequer do escuro!
*

Ainda que "pitosga", estou bem viva

Mas devo confessar que é muito duro

De tanta "pitosguice" estar cativa!
*

Maria João Brito de Sousa - 26.07.2020 - 14.25h
**

12
*

"De tanta "pitosguice" estar cativa",

Atrasos sem desculpa e sem valor

Seria menos mau e até melhor

Ir ter ao hospital e aflitiva
*

Dizer a alma aí caritativa

Que tem sua visão má e pior

Que há só escuridão e sente dor

E ser frontal e bem explicativa
*

Eu sei que a poetisa não faz isso

Mas muitos há decerto que lá vão

Conseguem de certeza compromisso
*

De formas pouco lícitas que são

Escuros, tristes modos e por isso

Pratica só quem age em corrupção.
*

Custódio Montes

(26.7.2020)
**

13
*

"Pratica só quem age em corrupção"

Esses truques e manhas, bem o sei...

Para a minha pensão - pensão de rei! -

Duzentos e setenta; mais não são!
*

Para quem sobrevive a tal pensão,

Sem recorrer ao que antes mencionei,

Não está fácil a vida... lei é lei!

Pra corrupta não trago vocação!
*

E agora que escrevi a bom escrever,

Que lhe falei de (algumas) desventuras

E que aqui me fui dando a conhecer,
*

Vou tomar um café; estou com tonturas

E a tensão está de novo a prometer

Descer de lá do topo das alturas
*

Maria João Brito de Sousa - 26.07.2020 - 16.38h
**

14
*

"Descer de lá do topo das alturas"

Mas tem que o fazer bem devagar

Senão pode cair e se aleijar

Perdendo os sentidos com tonturas
*


Beber café é sim uma das curas

Para a tensão poder remediar

Melhor seria não subir/baixar

E não ter de curar essas rupturas
*


Desejo-lhe as melhoras, fique bem

Merece ser feliz e ver vencido

O mal que a rodeia e que contem
*

Estando bem, aposto, convencido

Brincava certamente aqui também,

"Houvesse, hoje, um versito distraído"...
*

Custódio Montes


(26.7.2020)

 

 

29
Mar10

SÁBADO DOMINGO E SEGUNDA FEIRA VIII

Maria João Brito de Sousa

 

 

A HORA DO SORRISO

*

 

Tendo a vida virada do avesso

E estando já tão perto da partida,

Tenho, afinal, aquilo que mereço

Porque assim se define a própria vida

*

 

E, se a glória vier, caso demore,

Que nunca tenha pressa de chegar,

Só para que, depois, ninguém me chore

Apenas por fingir saber-me amar.

*

 

Agora, se sorrir, estarei mentindo

Porque me dói, no corpo, a alma inteira,

Porque me assumo humana e pensadora

*

O que me irá, decerto, permitindo

Ir-me reinventando. A brincadeira

Não me imporá sorrir a toda a hora.

*

 

Maria João Brito de Sousa - 2010

 

 

 

UMA TAREFA LENTA...

 

 

Não tenho tempo, irmãos, que o Tempo voa;

Quem vê, na Poesia,  distracção,

Não é poeta e nunca foi senão

Alguém que por aí verseja à toa…

*

 

Lá longe, muito ao longe, o verso ecoa,

Aproxima-se mais, pede atenção

E não lhe posso já dizer que não

Quando, vindo de longe, em mim ressoa.

*

 

Flutua e vai pousar. Quedo-me atenta

E espero o exactíssimo momento

Em que consiga ouvi-lo e dar-lhe voz.

*

 

Pode a tarefa parecer-vos lenta,

Mas esta simbiose exige tempo,

Por mais que o Tempo, assim, fuja de nós.

*

 

Maria João Brito de Sousa - Março, 2010

*

 

 

O QUE TU QUEIRAS

*

 

 

Vá, faz de mim - de nós… - o que tu queiras!

Inventa mil passados, mil futuros,

Constrói mil pontes ou derruba muros,

Diz de tua justiça em mil maneiras.

*

 

Cresceste aprisionado entre fronteiras,

Numa urgência de ver claros-escuros

Bem própria dos que vivem (in)seguros

E tentam fazer bem, fazendo asneiras.

*

 

Sonha à tua maneira e sê feliz;

Futuro é um passado por passar

Por um presente que nem mesmo existe

*

 

Aquilo que mais queres, nunca eu o quis;

Houve um dia em que a vida quis parar

E eu só reparei que estavas triste.

*

 

Maria João Brito de Sousa - Março, 2009

*

 

 

 

"L`IMPORTANT C`EST LA ROSE", Maria João Brito de Sousa, 1999

08
Set09

PRENÚNCIOS DE OUTONO

Maria João Brito de Sousa

 

Veio a lua espreitar sobre os beirais

A ver se vislumbrava as andorinhas

E eis que se zangaram as vizinhas

E o sol se foi deitar cedo demais…

 

Quando o sol se deitou, houve sinais

E prenúncios de noite sobre as linhas

Que os poetas traçavam. Estas minhas

Tornaram-se douradas, outonais…

 

Amanhã ou depois as noites crescem,

A lua vai brilhar por mais um tempo

E a chuva vai cair sobre os terraços…

 

São prenúncios de Outono antes que fechem

As horas deste meu entendimento

Gerado na matriz de outros abraços…

 

 

Imagem retirada da internet

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