Maria João Brito de Sousa
Fotografia de António Pedro Brito de Sousa
*
MÃE
* Soneto Bordado a Linho Sobre Cetim *
Nestes versos que engomo a ferro quente
sem uma ruga que ensombre, no fim,
este lembrar-te quando, estando ausente,
te não recordas, nem sequer de mim, *
Neste auscultar-te como se presente
te mantivesse, eternizando assim,
doce, a memória, quando é tão dif`rente
de ver-te viva, bordar-te em cetim... *
Neste dizer talvez nada sabendo
- suave inocência dos momentos tristes -,
nesta ilusão que sei, mas nunca entendo, *
Te afirmo que, apesar de tudo, existes:
Estás nas palavras em que aqui te prendo
e na certeza de que em mim persistes. *
Maria João Brito de Sousa
03.05.2015-02.48h ***
In Antologia Horizontes da Poesia VII
publicado às 13:18
Maria João Brito de Sousa
MÃE
*Soneto Bordado a Linho Sobre Cetim *
Nestes versos que engomo a ferro quente
sem uma ruga que ensombre, no fim,
este lembrar-te quando, estando ausente,
te não recordas, nem sequer de mim, *
Neste auscultar-te como se presente
te mantivesse, eternizando assim,
doce, a memória, quando é tão dif`rente
de ver-te viva, bordar-te em cetim... *
Neste dizer talvez nada sabendo
- suave inocência dos momentos tristes -,
nesta ilusão que sei, mas nunca entendo, *
Te afirmo que, apesar de tudo, existes:
Estás nas palavras em que aqui te prendo
e na certeza de que em mim persistes. *
Maria João Brito de Sousa
03.05.2015-02.48h ***
In Antologia Horizontes da Poesia VII
publicado às 10:54
Maria João Brito de Sousa
MÃE
Sei-te velha menina inacabada
Com asas de papel de seda e espanto
Que adejam sobre tudo e sobre nada,
Deixando-te encantada em qualquer canto,
Sorrindo muito, ainda que magoada,
Muitas vezes rendida à beira-pranto
De olhos tristes, de lágrima arrancada
Ao livre choro que te tece um manto.
Vi-te de punho erguido pelas ruas,
Vi-te multiplicada em tantas luas
Quantas as marés-vivas te inspiravam
E vi-te, antes de ver-te, à beira Tejo,
Olhando o mesmo espelho em que me vejo,
Tecendo os sonhos que os demais sonhavam.
Maria João Brito de Sousa – 06.05.2018 – 09.06h
publicado às 09:12
Maria João Brito de Sousa
(Em decassílabo heróico)
Nestes versos que engomo a ferro quente, sem uma ruga que ensombre, no fim, este lembrar-te quando, estando ausente, te não recordas nem sequer de mim,
Neste auscultar-te como se presente te mantivesse, eternizando assim, doce, a memória, quando é tão dif`rente de ver-te viva, bordar-te em cetim,
Neste dizer "talvez", nada sabendo - suave inocência dos momentos tristes -, nesta ilusão que sei, mas nunca entendo,
Te afirmo que, apesar de tudo, existes nestas palavras em que aqui te prendo e na certeza de que, em mim, persistes...
Maria João Brito de Sousa – 03.05.2015- 02.48h
publicado às 14:57
Maria João Brito de Sousa
No dia da criança,
venho dizer-te bom-dia, mãe,
e olhar o teu sorriso
na memória das sardinheiras quase murchas,
mas ainda vermelhas, mãe,
nas conchas de barro onde as plantavas
Venho,
neste dia da criança,
lembrar-te, mais uma vez,
que te amo, mãe,
e agora,
que não sei se és, nem onde és,
confessar-te que sempre considerei
que olhavas demasiado a superfície das coisas,
que te esquecias de reparar
nas raizes do tempo por detrás das janelas
e nos sonhos
para além da luta pelo abraço imediato
Mas isso era eu, mãe,
eu tão pequenina como as sardinheiras,
tão abraçada às raizes do tempo,
tão estranhamente além das janelas,
esquecida,
também eu,
de não poder julgar-te
porque eras tu, afinal,
quem plantava as sardinheiras e sorria
sem suspeitar, sequer, de que viriam a murchar…
Hoje, dia da criança,
dia em que não sei se és, nem onde és,
mas não esqueço que foste,
uma lágrima, mãe,
só uma, como tu,
que tanto medo tinhas da morte
e te deixaste levar
sem teres percebido
que as sardinheiras murcham
a seguir ao abraço das raizes do tempo…
essas que estavam por detrás das janelas
além da superfície
das coisas- tantas! –
que nunca chegaste a descobrir
E fica-me
o teu sorriso
por detrás da janela,
vermelho como as sardinheiras,
enquanto nesta lágrima,
tão única como tu,
tão eterna quanto o tempo,
hoje, como dantes, Mãe,
tento esquecer a superfície das coisas…
Maria João Brito de Sousa – 01.06.2011 – 09.29h
publicado às 11:31