INTEMPORALIDADE - Coroa de Sonetos - Mª João Brito de Sousa e Lourdes Mourinho Henriques
INTEMPORALIDADE
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Coroa de Sonetos
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Mª João Brito de Sousa e Lourdes Mourinho Henriques
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1.
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Aqui não há passado nem futuro;
O presente é fieira que não finda
E não tem de passar por nenhum furo
Embora a agulha disso não prescinda
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E disto estou seguro, tão seguro
Quanto de não haver ninguém que cinda
A ponta que se afasta e que conjuro
Como se o tarde cedo fosse ainda...
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Onde não há princípio nem há fim
Sou tudo e não sou nada. Este ínterim
É somente ilusão. Paradoxal?
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Talvez sim, talvez não, talvez talvez,
Já não quero saber de outros porquês;
Quem mede esta meada intemporal?
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Mª João Brito de Sousa
01.11.2021 - 10.30h
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2.
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“Quem mede esta meada intemporal?”
Alguém cujo engenho e muita arte
Pintando numa tela sem igual,
Expõe a sua alma em toda a parte.
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Alguém que seus poemas nos of’rece
Cada dia que passa, que beleza,
Qual deles o melhor, e com certeza
Que sua inspiração jamais falece!
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A Musa está presente a toda a hora,
Mas insistindo sempre, vai lutando
Contrariando a falta da visão!
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Eis Morfeu a chegar, e a João
Pára a poesia e lá vai andando
P’rós braços dos lençóis, dormir agora!
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Lourdes Mourinho Henriques
02.11.2021
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3.
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"Prós braços dos lençóis dormir agora (!)"
Como se lá por fora a noite escura
Tentasse convencer-me de que a hora
Se tornou, de repente, mais madura...
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Irei, sim, quando a Lua tentadora
Vier falar-me da sua loucura
E, aproveitando o Sol ter-se ido embora,
Cerrar-me os olhos com toda a candura...
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Mas na verdade, minha boa amiga,
Quando esta minha Musa me castiga
E se recusa à nossa interacção
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Fico de mãos atadas. Pouco crio
Quando, não vendo a Musa, olho o vazio
Criado pela sua rebelião
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Mª João Brito de Sousa
02.11.2021 - 15.40h
4.
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“Criado pela sua rebelião”
A todos os que escrevem, acontece,
Quantas vezes de nós ela se esquece
E nos deixa grande desilusão!
E é enorme então a frustração
Se ao pegar na caneta p’ra ‘screver
A Musa isso não deixa acontecer
Ficando assim inerte a nossa mão!
Mas eis que, de repente, ela aparece
P’ra não pensarmos que de nós se esquece
E vai-nos conduzindo p’la poesia…
Diz-nos o que ‘screver em cada verso
E o nosso pensamento, então imerso,
Vai criando poemas… que alegria!
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Lourdes Mourinho Henriques
02.11.2021
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5.
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"Vai criando poemas... que alegria(!)"
E que bela razão pra se estar vivo
É transformar-se o verbo em sinfonia
Sem da monotonia estar cativo!
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Começa a despontar a melodia;
Se o soneto tem tempo(s) que eu cultivo
Eu sinto-me em completa sinergia
Com estas pautas das quais me não privo.
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Mais pulsam as palavras apressadas,
Mais correm minhas mãos (dantes aladas...)
Em direcção ao fecho, à conclusão
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E este meu remendado e velho peito,
Não sabendo correr fica sem jeito
A ver se lhe não escapa o coração...
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Mª João Brito de Sousa
02.11.2021 - 23.10h
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6.
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“A ver se lhe não escapa o coração”
Que a mente está bem viva e criadora
E vai escrevendo pelo dia fora
O que na alma vai, com emoção.
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Lembranças de quando era criança,
Memórias do tempo da ilusão,
Guardadas na gaveta da esperança
Que hoje são alento do coração!
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Mas vai sempre insistindo, não desiste,
Lindos poemas vai escrevendo… e insiste
Em manter a mente sempre ocupada.
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Por mais que isso lhe custe, persistente,
Os versos vão surgindo de repente
Deixando a nossa mente extasiada!
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Lourdes Mourinho Henriques
03.11.2021
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7.
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"Deixando a nossa mente extasiada",
Tão extasiada quanto o Tempo fica
Quando anda com a Musa de mão dada,
Sem saber bem o que isso significa
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Pois toda a musa é criatura alada
Que tanto o tempo pára quanto estica,
Que tudo pode sem esforçar-se nada,
Que ninguém mede e ninguém quantifica...
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Toma cuidado, ó Tempo intemporal;
Não te quer bem, a Musa, nem quer mal,
Mas é mais livre do que jamais foste
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E se não tens cuidado e te distrais
Ela puxa por ti, pede-te mais;
Tempo, não há quem uma Musa arroste!
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Maria João Brito de Sousa - 04.11.2021 - 08.30h
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8.
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“Tempo, não há quem uma Musa arroste”
Pois ela sem esperarmos aparece
E nem que a encostemos a um poste
Ela só vem quando lhe apetece.
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Mas se a ti se aliar, a ti se encoste
Vê se lhe concedes mais um tempinho,
Não deixes que se perca, se desgoste,
Mesmo que nos visite de mansinho.
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Ah! Tempo, que nos limitas a vida
Que às vezes, é tão curta na partida
E a Musa nem nos chega a visitar…
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Não queiras ser carrasco dessa Musa
Que sempre nos visita e sem recusa
Por vezes nos ajuda a inspirar!
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Lourdes Mourinho Henriques
04.11.2021
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9.
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"Por vezes nos ajuda a inspirar"
E também a sorrir ela auxilia
Tal como nos ajuda a superar
As rasteiras da vida, dia a dia.
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E musas há que gostam de sonhar,
Enquanto outras preferem a magia
De construírem castelos no ar
Ou de acenderem estrelas pr`Harmonia.1)
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São tantas essas musas feiticeiras,
Quantas serão as nossas mãos obreiras
Das coisas que os seus dedos vão criando
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E quando chega a hora da partida
Parte a Musa também, que assim a vida
Por igual Musa e Gente vai tratando.
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Mª João Brito de Sousa
05.11.2021 - 08.30h
1)Harmonia- Deusa da Paz e da Concórdia na Mitologia Grega
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10.
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“Por igual, Musa e Gente vai tratando”
P’ra ele, ambas trata por igual,
E traiçoeiro, o tempo vai passando…
Tantas vezes as leva em vendaval!
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Leva a Musa, tira-lhe a inspiração
Que trazia p’rá Gente… Foi ficando
Cativa... e a matou sem compaixão
Até que a Gente também vai levando!
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Oh! Tempo, que tanto nos magoas,
Nos roubas nossas Musas e Pessoas
Que tanto gostariam de viver!
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Não sejas tão cruel, tem compaixão,
Deixa ambas viver, dá-lhes a mão,
Só querem continuar a escrever!
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Lourdes Mourinho Henriques
05.11.2021
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11.
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"Só querem continuar a escrever"
Estes poetas com sonhos nas veias
Que talvez não consigas entender
Porque te afrontam com suas ideias
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Ó Tempo, nenhum mal te irão fazer!
Não sei, Tempo, não sei por que os odeias
Quando, afinal, te irão enaltecer
Ainda que o não saibas ou descreias...
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Aqui irei cessar de interceder
Por poetas e musas, que morrer
Cabe a todos os vivos, afinal.
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Só tu, ó Tempo, irás permanecer
Sempre a fluir e às vezes a correr,
Porque só tu nasceste intemporal.
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Mª João Brito de Sousa
05.11.2021 - 15.00h
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12.
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“Porque só tu nasceste intemporal”
Só tu nos vês chegar, também partir,
Só tu nos vês lutar e bem ou mal
Nos vais acompanhando… vês-nos ir…
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Muitas vezes seguindo por caminhos
Nunca por nós sonhados, quando em quando…
Às vezes vais-nos dando uns miminhos
Mas noutras, vais-nos deixando chorando!
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A vida inteira tu nos acompanhas
Ao lado do Destino e suas manhas
Pregando quando em vez suas partidas.
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A ti, ó Tempo, que és intemporal,
Ninguém te vence e não existe mal
Que te atinja, como nas nossas vidas.
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Lourdes Mourinho Henriques
05.11.2021
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13.
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"Que te atinja, como nas nossas vidas",
As breves vidas que tu nos concedes,
Nem sempre alegres e bem sucedidas
E tão curtinhas face ao que tu medes
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Que se as ambicionamos mais compridas,
Compreensíveis são as nossas sedes
De ti, Tempo, que ditas as partidas,
De ti, que não as vês nem as impedes...
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Assim vamos vivendo enquanto passas
Sem dar conta das vidas que ameaças,
Nem das vidas que aqui viste nascer
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Por isso, se em verdade és Tempo/Espaço,
Seremos nós quem passa, passo a passo,
Por ti, sem te sabermos entender...
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Mª João Brito de Sousa
06.11.2021 - 10.15h
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14.
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“Por ti, sem te sabermos entender”
Somos nós que passamos algum tempo
Numa curta viagem, sem saber
Se ela será normal… ou a destempo!
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Uns vivem longa vida, quantas vezes
Pedindo que se aproxime o seu fim,
Mas outros vão passando por revezes
E partem sem querer, sina ruim…
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Ó Tempo, tu que és intemporal
E por vezes vês por nós passar o mal
Podias poupar-nos tempo tão duro.
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Chegamos e partimos deste mundo
Que dominas, é um mistério profundo,
“Aqui não há passado nem futuro”!
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Lourdes Mourinho Henriques
06.11.2021
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