Maria João Brito de Sousa
BOM DIA, MEU AMOR!
*
Acordo-me. Acordo-te. Sorrio.
E sobre a tua pele que a minha adora,
navega o meu desejo, esse navio
que sempre parte e nunca vai embora.
*
E como um animal uivando o cio
de um milénio, de um mês, ou uma hora,
não sei se morro ou vivo, ou choro ou rio,
só sei que a eternidade é o agora.
*
E calam-se as palavras, uma a uma,
feitas de sal, saliva, dor e espuma,
com a exacta dosagem da alegria
*
Bom dia, meu amor! O teu sorriso
é tudo o que me falta, o que eu preciso
para acender a luz de cada dia.
Joaquim Pessoa
Inédito
In OS DIAS NÃO ANDAM SATISFEITOS.
***
DESPERTANDO *
"Acordo-me. Acordo-te. Sorrio."
Peço-te alguns minutos de paciência
Até que me agasalhe e espante o frio,
E até que me abandone esta indolência *
"E como um animal uivando o cio"
Invades-me, poema, a transparência
De quanto sinto ser, eu que sou rio,
Da vontade, do ser, da própria essência... *
"E calam-se as palavras uma a uma"
Enquanto, também tu, vestes de bruma
Os versos desnudados que acordei: *
"Bom dia, meu amor! O teu sorriso"
Traz-me a compensação do prejuízo
Do instante em que a acordar me demorei. *
Maria João Brito de Sousa
03.11.2016 - 13.18h ***
publicado às 13:39
Maria João Brito de Sousa
POETA DE COMBATE *
Poeta de combate me chamaram.
De combate serei. Não mercenário!
Poeta de combate é um operário
das palavras que nunca se entregaram. *
Poeta de combate! E porque não?
Sou poeta. Serei também soldado.
O meu canto será um canto armado
e o meu nome de guerra uma canção. *
Poeta de combate me quiseram
os que cedo da luta desertaram
ou aqueles que nunca combateram. *
Poeta de combate eu hei-de ser
até quando o meu povo precisar
ou nada mais houver a combater. *
Joaquim Pessoa
In AMOR COMBATE, Moraes Editora *
POETA *
"Poeta de combate me chamaram"
E combatente fui. Não mais, nem menos,
Do que esses que partiram entre acenos
Para uma guerra de onde não voltaram *
"Poeta de combate! E porque não?"
Que são meus dias, se não são trincheiras?
Que são meus versos, se não são certeiras
Setas que aponto a cada coração? *
"Poeta de combate me quiseram",
Poeta de combate me terão
Ao lado dos que há muito se perderam! *
"Poeta de combate eu hei-de ser"
Porquanto enquanto viva, é por paixão
Que ergo o meu punho em vez de me render! *
Maria João Brito de Sousa
15.09.2016 - 09.32h ***
publicado às 10:12
Maria João Brito de Sousa
QUE AMOR É ESTE AMOR?
*
Amar-te, só amar-te, e construir amor e mais amor no amor já feito, amor quase infinito, amor perfeito, amor em flor, florindo o que há-de vir.
E ao amar-te assim, quero sentir que o meu amor por ti não está no peito: percorre toda a pele, a carne, o leito, regressa à boca a tempo de sorrir.
Que amor é este amor, esta vontade de nunca te perder e de escrever-te sabendo que és a própria liberdade?
E em cada dia que não posso ver-te não tenho vida, tempo, nem idade, não tenho nada que não seja ter-te.
*
(Inédito)
Joaquim Pessoa
(A)PRENDER-TE...
"Amar-te, só amar-te, e construir"
A cada dia, amor, mais vida ainda,
É tudo quanto sei, que a vida é linda,
Mas só enquanto, viva, eu a fruir
"E ao amar-te assim quero sentir",
Ó vida, quanto amor a ti me cinda
Na esp`rança duma vida que não finda
Enquanto o mesmo amor em mim florir...
"Que amor é este amor, esta vontade"
De manter-te a pulsar, de não perder-te,
Mesmo quando essa esp`rança se me evade?
"E em cada dia que não posso ver-te",
Mais desta vida perco em quantidade,
Mas menos morro, à força de (a)prender-te.
Maria João Brito de Sousa - 29.06.2016 - 21.37h
publicado às 11:33