SÁBADO, DOMINGO E SEGUNDA FEIRA XX
A GESTAÇÃO DA NORMA
Escreve-me uma cartinha pessoal
- meia dúzia de linhas bastarão -
E eu talvez te escreva uma outra igual.
[ou talvez, afinal, não escreva, não…]
Possivelmente irás levar-me a mal,
Mas, quase nunca tenho um só tostão
E essa situação é tão normal
Que nem lhe presto já muita atenção…
Só quero que, no fim, te identifiques
E, sabendo que eu sou muito esquecida,
Te tornes bem preciso e que me indiques
Referências no espaço, tempo e forma,
Ou responder-te-ei estando perdida…
[é que esta recorrência gera a norma!]
Maria João Brito de Sousa
IMPONDERÁVEIS...
Com quanta imponderável descobrires
E quanta calma, em ti, possas achar,
Acabarás por ter quanto pedires
Para reconstruíres esse teu lar
Mas se, acaso, outra vez, tu me mentires,
Me tentares – como tentas – enganar,
Melhor teria sido nem sentires
Que haveria uma forma de mudar.
Não te posso ajudar, sabe-lo bem.
Eu vivo no limite o dia-a-dia
[tantas vezes além do que é possível…]
Quem poderia dar-te o que não tem?
Mas posso sempre ouvir-te e bom seria
Tornares-te mais sensato e mais sensível…
Maria João Brito de Sousa
PUZZLE II
Devagar se vai longe, alto se voa,
De repente se encontra o já perdido,
Se ri, se grita “até que a voz nos doa”
[…e se esvai, gota a gota, o pretendido…]!
Quanto mais devagar, melhor se escoa
Vosso espanto [por todos desmentido…]
Nessa rua sombria aonde ecoa
Novo Dó musical, mal pressentido…
Longe ou perto se alcança o que, sem pressa,
Pelo amor, pela fé, pela promessa,
Mais se vai destacando entre os comuns
E o Puzzle, construído peça a peça,
Retomando funções, lá recomeça
[muito embora invisível para alguns…]!
Maria João Brito de Sousa