GLOSANDO NATÁLIA CORREIA - Reedição
SOBE O PANO
*
Onde se solta o estrangulado grito,
Humaniza-se a vida e sobe o pano.
Chegam aparições dóceis ao rito
Vindas do fosso mais fundo do humano.
*
Ilumina-se a cena e é soberano,
No palco, o real oculto no conflito.
É tragédia? É comédia? É, por engano,
O sequestro de um deus num barro aflito?
*
É o teatro: a magia que descobre
O rosto que a cara do homem cobre
E reflectidos no teu espelho - o actor -
*
Os teus fantasmas levam-te pr`a onde
O tempo puro que te corresponde
Entre as horas ardidas está em flor.
*
Natália Correia.
***
DESCE O PANO
*
"Onde se solta o estrangulado grito"
Das algemadas mãos do desengano,
Redobra em esforço insano o ser convicto
Que actua, invicto, até que caia o pano.
*
"Ilumina-se a cena e é soberano"
O esforço (des)humano. Eu acredito
Porquanto a fundo o fito, em"mano a mano",
Qual de nós mais tirano... ou mais constrito?
*
"É o teatro: a magia que descobre"
O primeiro a esvair-se, o que se dobre,
Sobre esse seu reflexo - outro, afinal... -
*
"Os teus fantasmas levam-te pra onde"
Nem mesmo o teu reflexo te responde...
Desce o pano. O fantasma era o real.
*
Maria João Brito de Sousa
13.11.2016 -19.18h
***