SÁBADO, DOMINGO E SEGUNDA FEIRA XV
FERRUGEM
Era uma vez um cão, simples rafeiro,
Que foi mais do que um príncipe encantado,
Que foi meu guardião, a tempo inteiro,
Que viveu, dia e noite, a nosso lado.
Um cão de carne e osso, verdadeiro,
Capaz de obedecer sem ser mandado,
Capaz de, abocanhando, ser certeiro
E entregar-me o que fora abocanhado…
Ferrugem, de seu nome, um simples cão
De pelo raso e de porte altaneiro,
Meu conselheiro- o melhor que já tive…-
Dos muitos que me lêem, quais serão
Capazes de entregar-me – sem dinheiro… -,
De forma tão total, quanto em si vive?
Maria João Brito de Sousa – 31.07.2010 – 17.33h
SENHOR DO MEU LUAR
Encontrei-te, senhor do meu luar,
Depois de uma tragédia, sob escombros,
Depois deste naufrágio do meu mar,
Depois desta invenção dos desassombros.
Cerquei-te, meu senhor, do meu cantar,
Tomei as tuas mágoas sobre os ombros
E tudo o que pedi foi um lugar
Que albergasse a razão de tais assombros,
Mas tu, senhor das luas que eu alcanço,
Deixaste, por momentos, que eu esquecesse
Que havia, ainda, espaço pr`a quem sou
E o mesmo naufrágio, num remanso,
Veio chamar-me pr`a que não perdesse
Memória do tal mar que me afogou…
Maria João Brito de Sousa – 30.07.2010 – 20.00h
DEPOIS, SEMPRE DEPOIS...
Se num dia qualquer, sempre depois
Do dia que por nós foi combinado,
Acontecer juntarmo-nos, os dois,
Falando sobre as coisas do passado…
Se a conversa for longa, se sorrirmos
Lembrando o nosso absurdo e “ledo engano”
E se, apesar de tudo, conseguirmos
Que nada disso cause qualquer dano,
Então – e só então – teremos sido
Amigos de verdade e em verdade
Poderemos dizer que sempre o fomos
Por enquanto o melhor é este olvido
E esta ausência total de uma saudade
Enquanto eu nem sequer souber quem somos.
Maria João Brito de Sousa