Maria João Brito de Sousa
UM FADO À MINHA PORTA
Quando um fado vier bater-me à porta
Não lhe peço respostas prá razão
Que faz da voz magoada em que se exorta
Mais do que simplesmente uma canção.
Se a sua silhueta se recorta
Na escada onde se apoia ao corrimão
E vislumbro a guitarra que transporta,
Abro-lhe a porta, não lha fecho, não.
Talvez, por uma tarde, conversemos
De coisas que ninguém tem de saber,
Talvez me contagie e então cantemos
Aquilo que em poema acontecer,
Ou talvez simplesmente ambos sonhemos
Até Morfeu chegar pra nos render.
Maria João Brito de Sousa – 06.04.2018 – 11.10h
NOTA – Na sequência do soneto “Há Algo no Fado”, da autoria de MEA.
publicado às 11:51
Maria João Brito de Sousa
(Em decassílabo heróico)
Eu quero-te abraçar na voz cantante
De um soneto qualquer desmoronado
Em pavimento alheio, à hora errante
De um tropeçar que é sempre inusitado
E, depois, confessar, já confiante,
Que, às vezes, também sei cantar-te em fado,
Desses menos banais, mas “navegante”,
Dos que andam pelo mar, no mar criado…
No beijo que te dou, canção distante,
Acidental, mas firme em teu traçado,
Direi, agora, ser desconcertante
A palavra a brotar do som escutado
Que se me veio impor no justo instante
Em que te ouvi trinar, na casa ao lado
Maria João Brito de Sousa – 07.02.2014 – 18.21h
publicado às 11:58
Maria João Brito de Sousa
O meu fado não tem fado,
Nem tem cama onde dormir;
Só o escuta quem, calado,
O procure e o saiba ouvir…
Se, às vezes, soar magoado,
Se vos parecer pedir,
É, na verdade, culpado
De quanto faça sentir…
O meu fado é solitário;
Se abraçasse uma guitarra,
Seria pr`a desmentir-se
Dizendo tudo ao contrário,
Cortando a última amarra,
Pr`a, no fim, poder sumir-se…
Maria João Brito de Sousa
IMAGEM - "O Fado", Paula Rego
publicado às 14:57