21
Abr20
ESTATUETA ANTIGA DE PEQUENO PORTE
Maria João Brito de Sousa
ESTATUETA ANTIGA DE PEQUENO PORTE
*
Já fui menina. Tonta de impossíveis,
Bebi marés de sal, movi montanhas,
Moldei filhos e versos nas entranhas,
Fui-me ajustando ao nível dos desníveis.
*
Se contada, contei-me entre os passíveis
De estranhos serem entre almas estranhas,
Se não contada, ousei, como as aranhas,
Ir fabricando teias invisíveis.
*
Já fui a voz de todas as crianças.
Inspirei belas telas e faianças.
Fui de aguarela e de tinta-da-China.
*
Cresci, envelheci, fiz frente à morte;
Estatueta antiga de pequeno porte,
Eis o retrato desta velha ruína.
*
Maria João Brito de Sousa – 21.04.2020 – 11.30h