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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
07
Set23

ESCREVESSE EU SONETOS GAGOS - Mª João Brito de Sousa e Helena Teresa Ruas Reis (Reedição)

Maria João Brito de Sousa

sonetos gagos.jpeg


ESCREVESSE EU SONETOS GAGOS...
*

Coroa de Sonetilhos
*

Maria João Brito de Sousa e Helena Teresa Ruas Reis
***

1.
*
Escrevesse eu sonetos gagos,

Ou mal falados, ou mudos...

Sonetos machos, barbudos,

Mas tão ternos quanto afagos
*


Que, em tocando, fazem estragos

Nos corações mais sisudos...

Mas não, os meus são veludos

Já pelo tempo esgaçados...
*


Cantasse eu versos que mordem

Como quem com fome beija,

Soubesse eu criar desordem,
*


Drama, ciúmes, inveja...

Acordes meus, não me acordem,

Se nenhum de vós gagueja!
*

 

Maria João Brito de Sousa - 23.06.2021 - 13.06h
*

Ao Fernando Ribeiro

***
2.
*

“Se nenhum de vós gagueja”,

Coisa de somenos vista,

Já eu roo-me de inveja

Porque a gaguez é de artista.
*

Curioso, que ao cantar

Sai-nos tudo de uma vez…

E melhor do que a rimar,

Que aí é que é ver “gaguez”!
*

Embalada em melodia

Pensáveis que eu escrevia

Mas, afinal, só cantava.
*

Porque se eu ga - gaguejasse

Haveria quem não esp’rasse

Para ler esta estopada!
*

Helena Teresa Ruas Reis - 27/06/2021
***

3.
*

"Para ler esta estopada(!)"

Garanto que pagaria

E até ga-gaguejaria

Não sendo gaga nem nada,
*


Só pra marcar a toada

Da rima que se recria

Dia e noite ou noite e dia,

Conforme a hora marcada
*


Se isto soa a pleonasmo,

Ou talvez contradição,

Não me liguem! Eu só pasmo
*


Que, com tanta produção,

Inda não sentisse um espasmo

Dos fatais... no coração.
*


Maria João Brito de Sousa - 27.06.2021 - 17.45h
***
4.
*

“Dos fatais... no coração”

É lá coisa que se diga!

Acaba-se a produção,

Fica fome na barriga.
*


Se soa a comparação,

É que o lanche já marchava

Mas a tal de inspiração

Chovia se Deus a dava…
*

Mas vou-me já à cozinha

Perdoem-me os vates todos

Se não se acharem cómodos.
*

Cenoura, courgette em linha,

Coentros, alguma aguinha,

O meu jantar é sopinha!
*

 

Helena Teresa Ruas Reis - 27/06/2021
***

5.
*

"O meu jantar é sopinha"

Que não "marcha" antes das dez,

Já que almocei - outra vez... -

Bem tarde, quase à noitinha
*


E isto de jantar sozinha

Tem vantagens, traz mercês,

Porquanto, às duas por três,

Viro costas à cozinha
*


E sem razões nem porquês

Vou treinando esta gaguez

Que, por ora, está fraquinha,
*


Mas, bem treinada, talvez

Ganhe aquela solidez

Que, creio, já se avizinha...
*


Maria João Brito de Sousa - 27.06.2021- 19.30h
***

6.
*

“Que creio já se avizinha”

Pelo cheiro que aqui sinto…

E podem crer que não minto,

Que a sopa se acha prontinha.
*

Não sofro já de gaguez

E fome não passo eu já.

Sem comer fico “gagá”

E então gaguejo outra vez!
*

Não queremos ficar fracas

Como velhas matriarcas

Num encontro obsoleto.
*

Nem que use como muletas

Esta sopita de letras,

Sonetilho e não soneto.

*

Helena Teresa Ruas Reis - 27/06/2021
***

7.
*

"Sonetilho e não soneto"

Se chama a esta estrutura,

Mais curtita na largura

Mas igualmente completo.
*


Será do soneto neto

Mas mantém-se à sua altura;

Belo como uma escultura,

De muitos será dilecto
*


E mantém toda a lisura

Do avô cuja postura

Vai imitando, discreto.
*

Não gagueja, nem descura

Ser um marco prá Cultura

E, para o poeta, um repto!
*


Maria João Brito de Sousa - 27.06.2021 - 21.30h
***

8.
*

"E para o poeta, um repto",

Provocação, desafio

Que só provoca arrepio

De usá-lo como um inepto.
*

Ancestralmente falando

Não sei onde fui buscar

Tal forma de versejar

Que ando para aqui usando.
*

Enfim, ao correr da pena

Vem-me à tona outro tema:

A poesia multiforme.
*

Se eu gaguejasse em poesia

Nem sei que graça acharia

Essa Musa que não dorme...

*

Helena Teresa Ruas Reis - 27/06/2021
***

9.
*

"Essa Musa que não dorme"

E que nunca foi "gágá"

Pode achar graça - eu sei lá...-

A quem gagueje ou performe
*


Verso gago que transforme

Uma graçola em maná...

Ou essa gaguez será

Coisa que muito a transtorne?
*


Só nos resta exp`rimentar

E se a Musa se irritar,

Assobiamos pró lado;
*


Eu nem sequer ga-gaguejo...

Foi talvez um bo-bocejo

De um verso mais ensonado
*


Maria João Brito de Sousa - 28.06.2021 - 11.25h
***

10.
*

“De um verso mais ensonado”

Fica a “gaguez” de um bocejo

Que sem pedir ou ter pejo

Surge, sem ser desejado.
*

Mas se vem à revelia,

Verdade é que se finou…

Pois depois que descansou

Acordou em novo dia.
*

Se a Musa se transtornar,

Depressa a vamos lembrar

Que dormir é bom remédio
*

Pois, ficar a bocejar

É pior que gaguejar:

Dá-te sono e dá-te tédio.
*

Helena Teresa Ruas Reis - 28/06/2021
***

11.
*

"Dá-te sono e dá-te tédio"

Ta-ta-tanto bocejar

E Morfeu, sempre a rondar,

Faz-me pensar em assédio...
*


Contudo, neste meu prédio,

Toda a gente é de fiar...

Morfeu que se vá lixar;

Está na hora do remédio!
*

Engulo duas pastilhas

Mais rijas do que cavilhas

Que "empurro" c`um copo d`água
*


E, do almoço esquecida,

Ve-versejo embevecida;

Vem o verso e vai-se a mágoa!
*


Maria João Brito de Sousa - 28.06.2021 - 14.36h
***

12
*

“Vem o verso e vai-se a mágoa”,

Que se lixem gargarejos,

P’ra eles os meus bocejos

Ferventes na pouca água!
*

Ora, não querem lá ver?!

Se eu tiver dor de cabeça

Não será porque mereça

Mas porque estou a ferver...
*

Pastilhas eu não engulo…

Podem colar-se ao casulo

Da minha pobre garganta.
*

Porém, se for necessário,

Deixo aqui um corolário

Que ajude a pintar a “manta”

 

Helena Teresa Ruas Reis - 27/06/2021
***

13.
*

"Que ajude a pintar a manta"

Com cor que seja bem viva

Pois, se é viva, a cor cativa

Quem pela manta se encanta
*


E se acaso essa cor espanta

Por ser muito apelativa,

Ga-ga-gagueja a comitiva

Que, ao olhá-la, se ataranta;
*


- Mas que pre-preciosidade!

Nada vi que mais me agrade!

Que manta tão-tão-tão bela!
*


Se não a confeccionou,

Di-di-diga onde a comprou,

Quanto pa-pagou por ela?
*


Maria João Brito de Sousa - 28.06.2021 - 17.42h
***

14.
*

“Quanto pa… pagou por ela?”

Paguei por ela… eu sei lá

Se aquilo que valerá

Faz jus a coisa tão bela!
*

Eu até fico amarela

Por estar quase a gaguejar

Que p’ra manta apregoar

Até me falha a goela…
*

Tem colorido a preceito!

A nossa manta tem jeito

‘Inda que feita aos bocados.
*

Quem quiser igual assim

Aprenda porque aqui vim:

“Escrevesse eu sonetos gagos”!
*


Helena Teresa Ruas Reis - 27/06/2021
***

 

NOTA - Tema inspirado no "Fado Mal Falado" de Hermínia Silva e no "Fado Gago" de Sérgio Godinho
*

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