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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
03
Mai24

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXX

Maria João Brito de Sousa

Em claro espelho (1).jpg

Imagem Pinterest

"A Morte de Safo" - Miguel Carbonell Selva

*

*

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXX
*

 

Formosos olhos, que na idade nossa

Mostrais do Ceo certissimos signais,

Se quereis conhecer quanto possais,

Olhai-me a mim, que sou feitura vossa.
*


Vereis que do viver me desapossa

Aquelle riso com que a vida dais:

Vereis como de Amor não quero mais,

Por mais que o tempo corra, o damno possa.
*


E se ver-vos nesta alma, emfim, quizerdes,

Como em hum claro espelho, alli vereis

Tambem a vossa angelica e serena.
*


Mas eu cuido que, só por me não verdes,

Ver-vos em mim, Senhora, não quereis:

Tanto gôsto levais de minha pena!
*

Luís de Camões.
***


Tal como pelo Céu, por vós aspiro

Não tão serena quanto imaginais

Porquanto inda de vós não vi signais

E em minha solidão por vós suspiro
*


Tão queda estou, Senhor, neste retiro

Onde mal chega o canto dos pardais

Que não posso entender porque julgais

Que dessa vossa pena gôsto tiro
*

 

Não podendo fugir de penas tantas

Suplico-vos, Senhor: Não me julgueis

Sem que antes tenhais vindo confirmar
*


Que presa à terra vivo como as plantas

E só almejo o dia em que volteis

Para nos vossos olhos me mirar.
*

 

Mª João Brito de Sousa

03.05.2024 - 10.530h
***

O soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita

 

 

30
Abr24

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXIX

Maria João Brito de Sousa

Febo e diana (1).jpg

Imagem Pinterest

*

LAMIA AND THE KNIGHT

John William Waterhouse

*

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO
*

 

DIANA PRATEADA, ESCLARECIA

*


Diana prateada, esclarecia

com a luz que do claro Febo ardente,

por ser de natureza transparente,

em si, como em espelho, reluzia.
*


Cem mil milhões de graças lhe influía,

quando me apareceu o excelente

raio de vosso aspecto, diferente

em graça e em amor do que soía.
*


Eu, vendo-me tão cheio de favores

e tão propinco a ser de todo vosso,

louvei a hora clara, e a noite escura,
*


pois nela destes cor a meus amores;

donde colijo claro que não posso

de dia para vós já ter ventura.
*


Luís de Camões

***


Enganais-vos, Senhor. A qualquer hora

De um dia claro ou de uma noite escura,

Estou pronta a conceder-vos a ventura

Que em carícias se acende e se demora
*

 

Não vedes que o desejo me devora?

Aplacai-me esta sede, esta secura,

Que eu prometo levar-vos à loucura

Com a graça e o ardor que Diana ignora...
*

 

Que Febo e ela juntos se consolem

Enquanto vindes consolar-me a mim

Que mais sedenta estou que qualquer deus
*


Derramai sobre mim o vosso pólen,

Tomai-me toda inteira até que, enfim,

Vos jure que me haveis levado aos céus.
*

 

Mª João Brito de Sousa

30.04.2024 - 10.00h
***


O soneto de Camões foi transcrito do Blog Sociedade Perfeita

 

29
Abr24

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXVIII

Maria João Brito de Sousa

mulher nuvem pinterest (3).jpg

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*

 

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXVIII
*

 

CHORAI, NINFAS, OS FADOS PODEROSOS

*


Chorai, Ninfas, os fados poderosos

Daquela soberana fermosura!

Onde foram parar ? Na sepultura?

Aqueles reais olhos graciosos?
*


Ó bens do mundo, falsos e enganosos!

Que mágoas para ouvir! Que tal figura

Jaza sem resplendor na terra dura,

Com tal rostro e cabelos tão fermosos!
*


Das outras que será, pois poder teve

A morte sobre cousa tanto bela

Que ela eclipsava a luz do claro dia?
*


Mas o mundo não era digno dela;

Por isso mais na terra não esteve:

Ao Céu subiu, que já se lhe devia.
*

Luíz de Camões
***


Chorando estamos. Nada nos consola

E se julgais infinda a vossa dor

A nossa é com certeza bem maior

Pois não só nos tortura como imola
*


Porque correis pra nós pedindo a esmola

De um choro que julgais consolador

Se somos meras nuvens de vapor

Suaves visões que a dor em vós empola?
*


E se entendeis que o Céu lhe era devido

Porque a chorais na Terra onde ora jaz?

Porque não exultais, se assim o credes?
*


Chorai, porém, se o choro vos apraz:

Pra vós, mortais, o choro faz sentido

Mas não sacia as nossas duras sedes.
*

 

 

Mª João Brito de Sousa

29.04.2024 - 13.00h
***

O soneto de Camões foi transcrito do Blog Sociedade Perfeita

26
Abr24

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXVII

Maria João Brito de Sousa

looking at the stars (1).jpg

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*

 

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXVII
*

 

 

DOCE CONTENTAMENTO JÁ PASSADO

*


Doce contentamento já passado,

em que todo o meu bem já consistia,

quem vos levou de minha companhia

e me deixou de vós tão apartado?
*


Quem cuidou que se visse neste estado

naquelas breves horas de alegria,

quando minha ventura consentia

que de enganos vivesse meu cuidado?
*

 

Fortuna minha foi cruel e dura

aquela, que causou meu perdimento,

com a qual ninguém pode ter cautela.
*


Nem se engane nenhüa criatura,

que não pode nenhum impedimento

fugir do que lhe ordena sua estrela.
*


Luís de Camões
***

 

Sobre os mandos de estrelas nada sei

Mas conheço as pulsões que, imperativas,

Chamo de musas e dão directivas

Aos versos que já fiz e aos que farei.
*


Chorais a que partiu, mas eu fiquei...

Nem sempre uso palavras assertivas,

Ou sinto as vergastadas punitivas

De quem cuidar dos passos que não dei
*


Apenas passo como tantos mais

Por essa vossa estrela e, se me invento

Dentro ou fora do Tempo, aqui estou eu
*


Na projecção de mim pra que saibais

Que vos devolvo à vida e que lamento

Que o Amor que chorais não seja o meu.
*

 

Mª João Brito de Sousa

26.04.2024 - 20.45h
***

 

O soneto de Camões foi transcrito do Blog Sociedade Perfeita

 

21
Abr24

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXVII

Maria João Brito de Sousa

CAMÔES CASTELHANO.jpg

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*

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXVII
*

 

EL VASO RELUCIENTE Y CRISTALINO

*

 


El vaso reluciente y cristalino,

de Ángeles agua clara y olorosa,

de blanca seda ornado y fresca rosa,

ligado con cabellos de oro fino,
*


bien claro parecía el don divino

labrado por la mano artificiosa

de aquella blanca Ninfa, graciosa

más que el rubio lucero matutino.
*


Nel vaso vuestro cuerpo se afigura,

raxado de los blancos miembros bellos,

y en el agua vuestra ánima pura.
*


La seda es la blancura, y los cabellos

son las prisiones y la ligadura

con que mi libertad fue asida dellos.
*


Luís de Camões
***


A mí, Señor, me habías prometido

Entero el corazón... Cómo creer-te

Si ahora oigo que vas a perder-te

¿Por otra, qué seguro te ha mentido?
*


Así me quedo sola, así te olvido

¡Sin lloros, que no quiero detener-te!

Solo palabras podré devolver-te

Y serán todas las que te he oído
*


Quédate con tu vaso reluciente

Que pronto quebrarás a puñetazos

Porque se te habrá vuelto indiferente
*


Ya no me embromarás con tus abrazos,

Ahora sé que puedo hacerte frente:

¡Jamás me romperás en mil pedazos!
***

 

Mª João Brito de Sousa

21.04.2024 - 15.00h
***


O soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita

21
Abr24

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXVI

Maria João Brito de Sousa

water pint (1).jpg

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*

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXVI
*

 

DOCES E CLARAS ÁGUAS DO MONDEGO

*


Doces e claras águas do Mondego,

Doce repouso de minha lembrança,

Onde a comprida e perfida esperança

Longo tempo apos si me trouxe cego,
*


De vós me aparto, si; porém não nego

Que inda a longa memoria, que me alcança,

Me não deixa de vós fazer mudança,

Mas quanto mais me alongo, mais me achego
*


Bem poderá a Fortuna este instrumento

Da alma levar por terra nova e estranha,

Offerecido ao mar remoto, ao vento.
*


Mas a alma, que de cá vos acompanha,

Nas azas do ligeiro pensamento

Para vós, águas, vôa, e em vós se banha.
*


Luís de Camões

***


Também pra mim, Senhor, esse Mondego

Tem tantas graças, tão doces mistérios

Que o ouço a marulhar nos céus etéreos

Nos quais passeio o meu desassossego
*


Ó rio que és de meu pai, nada te nego

E, se os tivesse, dar-te-ia impérios

Dos que, feitos de amor, são deletérios

Pra todo o que ao amor se mostre cego...
*


Ponho-te ao lado do meu Tejo manso

E se recordo, agreste, o velho Douro,

Três sois, se está correcto o meu balanço:
*


Tu, meu Tejo moreno, és o meu mouro,

Tu, Douro, a minha garra e o seu remanso

E tu, Mondego, o meu gentil calouro.
*

 

Mª João Brito de Sousa

20.04.2024 - 10.00h
***

Memorando o poeta António de Sousa, por Vitorino Nemésio apodado de "poeta dos três rios" por ter nascido no Porto, estudado e casado em Coimbra onde o meu pai nasceu, e vivido os seus últimos anos junto ao Tejo, no Concelho de Oeiras.

*

O soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita

 

17
Abr24

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXV

Maria João Brito de Sousa

balouço na lua pint.jpg

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*

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXV
*

 

DOCE SONHO, SUAVE E SOBERANO

*

 

Doce sonho, suave e soberano,

se por mais longo tempo me durara!

Ah! quem de sonho tal nunca acordara,

Pois havia de ver tal desengano!
*

Ah! deleitoso bem! ah! doce engano,

se por mais largo espaço me enganara!

Se então a vida mísera acabara,

de alegria e prazer morrera ufano.
*

 

Ditoso, não estando em mim, pois tive,

dormindo, o que acordado ter quisera.

Olhai com que me paga meu destino!
*

Enfim, fora de mim, ditoso estive.

Em mentiras ter dita razão era,

pois sempre nas verdades fui mofino.
*


Luís de Camões
***


Que haveis sido mofino nas verdades

Sempre eu o soube e sempre o perdoei

Que embora resmungasse, bem o sei,

Nunca vos quis ter preso atrás de grades
*


Pra mim, ora o ciúme, ora as saudades

Ditaram penas que por vós penei,

Mas vós nem destes conta, reparei,

De haverdes cometido atrocidades...
*


Amai damas ou deusas, mas calai-vos

Antes de me mentirdes novamente:

Esquecei-me de uma vez, deixai-me em paz!
*


Tem a mentira da verdade uns laivos

Que me traem, às vezes, corpo e mente

E eu de escapar-vos já não sou capaz...
*

 

Mª João Brito de Sousa

17.04.2024 - 13.30h
***

 

 O soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita

17
Abr24

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXIV

Maria João Brito de Sousa

hands in the clouds pint (1).jpg

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*

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXIV
*

MUDAM-SE OS TEMPOS, MUDAM-SE AS VONTADES

*

 

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

Muda-se o ser, muda-se a confiança;

Todo o mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades.
*


Continuamente vemos novidades,

Diferentes em tudo da esperança;

Do mal ficam as mágoas na lembrança,

E do bem, se algum houve, as saudades.
*


O tempo cobre o chão de verde manto,

Que já coberto foi de neve fria,

E enfim converte em choro o doce canto.
*


E, afora este mudar-se cada dia,

Outra mudança faz de mor espanto:

Que não se muda já como soía.
*


Luís Vaz de Camões

In "Sonetos"
***

 

"Que não se muda já como soía"

Tudo quanto é mudado e permanece

Na extrema rapidez em que se tece

Qual fio sempre a brotar da mão que o fia
*


E tão depressa o gesto se abrevia

Que a mão exausta toda se entorpece

E faz nascer o mal de que padece

Do que antes fora o bem de que fruía...
*


O que ontem era novo, hoje é passado,

Ninguém vê nele alguma utilidade,

Fatalmente é esquecido, abandonado
*


Porque mal se fareje a novidade

Todos porão de lado o bom trocado

Plo espaventoso e fraco em qualidade.
*


Mª João Brito de Sousa

17.04.2024 - 01.20h
***

16
Abr24

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXIII

Maria João Brito de Sousa

- oEIRAS, eVENTO NAS PALMEIRAS, POESIA, 2021 (1).jpg

Eu, fotografada por Rogério V. Pereira

*

DIVERSOS DÕES REPARTE O CÉU BENINO
*

 

Diversos dões reparte o Ceo benino,

E quer que cada huma alma hum só possua;

Por isso ornou de casto peito a Lua,

Que o primeiro orbe illustra crystallino;
*


De graça a Mãe formosa do Menino,

Que nessa vista tẽe perdido a sua;

Pallas de sciencia não maior que a tua:

Tẽe Juno da nobreza o imperio dino.
*


Mas junto agora o largo Ceo derrama

Em ti o mais que tinha, e foi o menos

Em respeito do Autor da natureza.
*


Que a seu pezar te dão, formosa dama,

Seu peito a Lua, sua graça Venos,

Sua sciencia Pallas, Juno sua nobreza
*


Luís de Camões
***


Eu que formosa fui em tempos idos

Mas despojada estou dessoutros dões,

Não sei por que converso com Camões

Se o grande vate não quer dar-me ouvidos...
*


Ainda que me cubra de vestidos,

De jóias de quilate e de galões,

Este corpo é tão falho em atracções,

Quão fértil em maleitas e pruridos!
*


De infindos dões, contudo, fui dotada

P`lo já citado Autor da natureza

Que mui pródigo foi para comigo
*


Ao dar-me a voz que deu, pra ser cantada,

Ao deixar-me morrer voltando ilesa

E ao ceder-me um tal Mestre enquanto amigo.
*

 

Mª João Brito de Sousa

16.04.2024 - 11.00h
***

 

 

O Soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita

28
Mar24

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXIII

Maria João Brito de Sousa

estranho par pinterest.jpg

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*

 

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXIII
*

 

COMO QUANDO DO MAR TEMPESTUOSO

*


Como quando do mar tempestuoso

O marinheiro todo trabalhado,

De hum naufragio cruel sahindo a nado,

Só de ouvir fallar nelle está medroso:
*

Firme jura que o vê-lo bonançoso

Do seu lar o não tire socegado;

Mas esquecido ja do horror passado,

Delle a fiar se torna cobiçoso:
*


Assi, Senhora, eu que da tormenta

De vossa vista fujo, por salvar-me,

Jurando de não mais em outra ver-me;
*


Com a alma que de vós nunca se ausenta,

Me tórno, por cobiça de ganhar-me,

Onde estive tão perto de perder-me.
*

Luíz de Camões

***

 

Se vos haveis ganhado onde perdido

Estivestes quase, quase, em fúria tanta,

Cuidai de vos cuidar que se alevanta

Tormenta bem maior que a que heis sentido
*


Imensa em força, doble em arruído

E capaz de vergar mesmo Atalanta,

Esta a todas as outras as suplanta

Pois mais de mil borrascas há vencido
*


Fugi então de ouvir novas de mim:

Se da fúria primeira vos salvastes,

Quiçá duma segunda o não possais...
*


Fugi com vosso frágil bergantim

Da extrema indignação que provocastes

Conquanto de inocência vos cubrais!
*


Mª João Brito de Sousa

28.03.2024 -11.00h
***

 

O soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita

24
Mar24

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXII

Maria João Brito de Sousa

terra longinqua pinterest (1).jpg

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*

DIALOGANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XXII
*

 

CANTANDO ESTAVA UM DIA BEM SEGURO

*

 

Cantando estava um dia bem seguro,

Quando passava Silvio, e me dizia:

(Silvio, pastor antiguo que sabia

Por o canto das aves o futuro)
*


"Méries, quando quizer o Fado escuro,

A oprimir-te virão em um só dia

Dois lobos; logo a voz e a melodia

Te fugirão, e o som suave e puro."
*


Bem foi assi; porque hum me degolou

Quanto gado vacum pastava e tinha,

De que grandes soldadas esperava.
*

E, por mais dano, o outro me matou

A cordeira gentil, que eu tanto amava,

Perpétua saudade da alma minha!
*

Luíz de Camões
***


Se dura foi de Sílvio a profecia,

Imaginai quão mais dura será

A isenta narrativa de quem está

Hoje a quinhentos anos desse dia...
*


Plo nome que escolheis vos chamaria

E assim vos chamarei se tal vos dá

Prazer... Ah, que prazer inda haverá

Pra quem, morto, não chore nem se ria?
*


Sílvio não sou. Tampouco sou profeta,

Mas sei que na miséria haveis morrido,

De pouco vos valeu serdes poeta
*


Que, enquanto vivo, tudo haveis perdido!

Haveis cantado a Pátria como um esteta

Mas só depois de morto fostes lido.
*


Mª João Brito de Sousa

24.03.2024 - 14.00h

***

 

O soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita

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FÁBRICA DE HISTÓRIAS

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