OS ABRAÇOS DOS COMETAS
Já não como, já não bebo,
Já não há nada a fazer
E, tanto quanto eu percebo,
É assim que tem de ser.
Fomos mães, somos poetas
E sentimos sempre mais
Os abraços que os cometas
Sabem dar aos animais!
Percorri mil madrugadas
Vestida de cinza e prata,
De viver fiquei cansada,
Mas, mesmo assim, estou-te grata…
Fosse noite ou fosse dia
Eu contei c`o teu carinho
E, mesmo nesta agonia,
Sinto que estou no meu ninho…
Fomos mães, somos poetas
E sentimos sempre mais
Os abraços que os cometas
Sabem dar aos animais!
Também eu fui oportuna,
Dei todo o amor que tinha
E tu tiveste a fortuna
De te não sentires sozinha.
Nesta vida que vivemos,
Ambas nos demos inteiras,
Of`recendo o que pudemos
De mil dif`rentes maneiras…
Sei que também estás doente,
Tenho-te ouvido gemer.
Tu, de mim, não és dif´ rente
Estamos ambas a morrer…
Fomos mães, somos poetas
E sentimos sempre mais
Os abraços que os cometas
Sabem dar aos animais!
Quem me dera que ficasses,
Que escrevesses sobre mim,
Que depois lhes ensinasses
Que este Amor nunca tem fim!
Diz-me adeus, dá-me um abraço,
Sabes bem que vou partir.
Levo comigo um cansaço
Que tu não tens de sentir…
Fica tu por mais um tempo!
Talvez possas recordar-te
Do que eu, a cada momento,
Aqui fiz, para ensinar-te:
- Nunca havemos de lembrar
Nem poderemos `squecer
Esta pureza lunar
Do que, pr´a nós, foi viver!
Fomos mães, somos poetas
E sentimos sempre mais
Os abraços que os cometas
Sabem dar aos animais!
Poema dedicado à minha amiga Minerva.