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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
24
Jul22

UMA LUZ - Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa

Maria João Brito de Sousa

UMA LUZ
*

Coroa de Sonetos hendecassilábicos
*

Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa
*

1.
*

Eu tenho uma luz que clareia o olhar

Que cego nasci e cego tenho andado

Mas vou-me encostando bocado a bocado

Assim prosseguindo livre e a cantar
*


Cá dentro nasceu-me este mundo sem par

Com aves voando mais o seu trinado

Um céu com estrelas muito iluminado

Os corgos correndo directos ao mar
*


A cegueira à volta não deixava ver

Cá dentro gerou-se toda a claridade

Que engrandece a vida e me faz viver
*


Com sonhos libertos que me traz a idade

Tantos afazeres dentro do meu ser

Que me enchem a vida de felicidade
*

Custódio Montes
***


2.
*

"Que me enchem a vida de felicidade",

Tanto quanto baste para qu`rer vivê-la

Sem baixar os braços, sem desistir dela

E sem erguer nela templos à saudade
*


Que o tempo não pára, pronto se me evade

Não me dando espaço para o que ergo nela...

Insisto, contudo! Não me prende a trela

Da cegueira imposta, nem da validade
*


Do meu corpo gasto, que eu não tenho idade

Se escrevo ao compasso desta liberdade:

Galopa, galopa, cavalo sem sela,
*


Vai galgando as ruas da minha cidade

Que quando te esgotes, corre uma amizade

A dar-te uma força, a abrir-te a cancela!
*


Mª João Brito de Sousa

23.07.2022 - 10.45h
***


3.
*

“A dar-te uma força, a abrir-te a cancela”

E a palavra avança segue o seu caminho

Há-de haver quem tenha por ela carinho

Já que na escrita fica sempre bela
*

 

E iluminada posta sobre a tela

Exposta em soneto dentro dum livrinho

Alegra em casa e também ao vizinho

Caminha no mundo já fora da cela
*


Em cada paragem vai ser admirada

Já que a palavra bem feita e tratada

Enriquece a história para sempre fica
*


E vai-se a cegueira que aparece luz

Traz o raciocínio, riqueza produz

E a vida prossegue cada vez mais rica
*

Custódio Montes

2.7.2022

***

4.
*

"E a vida prossegue cada vez mais bela"

Quando iluminada por essa luzinha

Que assim que se acende, connosco caminha

Ainda que sendo pequena e singela
*


Como esta que emana da chama da vela

Que derrama aromas nesta sala minha

E que sempre acendo quando estou sozinha

Ou acompanhada, escrevendo na tela...
*


Seja a luz tão sábia e tão protectora

Que, à sombra, conceda uma ou outra hora

De repouso e pausa para os nossos braços
*


Que já percorreram tantas longas milhas

Quantos, no planeta, há de atóis e de ilhas,

Dos profundos mares, milenares terraços.
*

 

Mª João Brito de Sousa

23.07.2022 - 15.15h
***


5.
*

“Dos profundos mares, milenares terraços”

Por onde se anda sempre a divagar

Ou em pensamentos ou a imaginar

Lançando poemas por esses espaços
*


Que somos poetas sem ter embaraços

Compomos palavras no vento e no mar

Com sonhos de amor porque é tão bom amar

E com amizade mandamos abraços
*


A luz que ilumina o nosso pensamento

De dentro promana e é complemento

De toda a magia que dentro irradia
*


E por cá andamos de dia e ao sol posto

Com contentamento a poetar com gosto

Canções que nos trazem enorme alegria
*


Custódio Montes

23.7.2022
***

6.
*

"Canções que nos trazem enorme alegria"

E mais um lampejo da luz que acendemos

Ao juntar os versos com que entretecemos

Uma nova c`roa, como por magia...
*


Metade amizade, metade poesia,

Já cresce a estrutura... Tanto já fizemos!

Nesta nossa barca, ninguém pousa os remos,

Nem nas horas mortas da maré vazia!
*


Mas "depressa e bem" traz sempre um senão:

Queimei o arroz que apurava ao fogão...

Paciência! Que importa s`inda lhe aproveito
*


Quanto baste para uma refeição?

Não me importo nada, garanto que não:

Sou eu quem o come, com ou sem defeito!
*

 

Mª João Brito de Sousa

23.07.2022 - 16.40h
***

7.
*

“Sou eu quem o come, com ou sem defeito”

Eu como de tudo pois tenho vontade

Não falta apetite na realidade

E com um bom copo mais eu me deleito
*


Ao vir para a mesa tudo aproveito

Sou de boa boca sem sobriedade

Como a minha parte sem dificuldade

E durmo a sesta logo que me deito
*


Se o arroz se queima acompanho com pão

Deito algum na sopa sem complicação

E com o presigo o como também
*


E para além disso, fosse eu cozinheiro

Cozia o arroz em novo braseiro

Lavando a panela de novo e bem
*

Custódio Montes

23.7.2022
***

8.
*

"Lavando a panela de novo e bem",

Braseiro não tendo, vou-me contentando

C`o fogo que tenho - eléctrico e brando -

Que, apesar de brando, esturrica também...
*


A culpa foi minha, que culpa não tem,

O pobre aparelho, de eu estar poetando

Em vez de, aprumada, o ficar vigiando,

Mexendo o "risotto" e virando o acém...
*


Da próxima vez, não vou ser descuidada,

Nem virei prá sala até estar terminada

Refeição que tenha já posto no fogo...
*


Isto afirmo agora que estou bem escaldada,

Mas dentro de dias, de novo olvidada,

Não juro cumprir esta regra do jogo...
*

 

Mª João Brito de Sousa

23.07.2022 - 17.55h

***


9.
*

“Não juro cumprir esta regra do jogo...”

Mas falhamos sempre que temos um gosto

Assim como digo, consigo aposto

Que diz isso agora mas não o faz logo
*


Faço-lhe uma aposta que aceite, lhe rogo,

Ao ter muita fome, visível no rosto,

Com o tacho ao lume com conduto posto

Vá para a cozinha e acenda o fogo
*


Com a sua pressa de me responder

Ao ver meu soneto o seu vai fazer

Indo para a sala. Quando acabar
*


Lembra-lhe a panela que deixou ao lume

Mau cheiro inala e, como de costume,

Deixou o conduto de novo queimar
*

Custódio Montes

23.7.2022
***

 

10.
*

"Deixou o conduto de novo queimar",

Diz-me com tal graça que a rir me deixou

Tanto e de tal forma que se me olvidou

Um verso oportuno que pensara usar...
*


Aceito essa aposta que, sei, vou ganhar

Já que prá cozinha, de novo, não vou:

Comerei aquilo que já se queimou,

Não corro mais riscos de o arroz "bispar"...
*


Mas onde a luzinha que connosco estava?

Dela me esqueci enquanto gargalhava,

Mas penso que ainda lhe sinto a presença...
*


Ei-la aqui tingida de cores informais,

Sorrindo às apostas concretas, banais,

Que agora fizemos... sem sombra de ofensa!
*


Mª João Brito de Sousa

23.07.2022 - 19.05h
***

11.
*

“Que agora fizemos …sem sombra de ofensa”

Mas nestas apostas falámos do assunto

Que as nossas ideias em todo o conjunto

A luz pressupõem na sua presença
*


A ideia que chega e que a gente pensa

Não é luz acesa? Isso eu lhe pergunto

E o que nós dissemos é tema adjunto

É isso que penso com sua licença
*


A gente interpreta o seu interior

Pensamos a ideia, damos-lhe valor

Falamos connosco sentimos a vida
*


Voltamos à ideia, torna-se evidente

E assim cá dentro sinto-me contente

A cegueira acaba que vai de vencida
*


Custódio Montes

23.7.2022
***

12.
*

"A cegueira acaba que vai de vencida"

E em boa verdade, tem toda a razão

Pois nascem ideias da tal reflexão

Que nos ilumina. É verdade sabida!
*


Mas a nossa cr` oa, de improviso urdida,

Requer outra garra a que chamo paixão

- talvez raciocínio que ande em foguetão... -,

Veloz como a luz a que demos guarida!
*


Assim a Paixão e a Razão, de mãos dadas,

Tornarão mais belas estas caminhadas

De versos amigos e conversadores
*


Que se entreajudam se a Musa vacila:

Bem certo é que caia uma c`roa que oscila,

Que anda aos solavancos, que nem tem valores...
*


Mª João Brito de Sousa

23.07.2022 - 21.00h
***

13.
*

“Que anda aos solavancos, que nem tem valores...”

E quer que concorde? Não sei se o faça

Que assim o fazendo ninguém leva a taça

Nem nesta coroa seremos doutores
*


E eu que pensava receber louvores

Se assim pensarmos não teremos graça

E a nossa coroa resvala em desgraça

E de ouvir teremos outros professores
*


Ao ter eu pensado ver a claridade

Na luz que me vinha dar felicidade

Afinal não soube erguer este meu canto
*


Mas revendo agora o que se escreveu

Se é mau o meu canto bonito é o seu

E ao lê-lo de novo nele encontro encanto!
*

Custódio Montes

23.7.2022
***

14.
*

"E ao lê-lo de novo nele encontro encanto",

Tal como eu encontro que aquilo que disse

Foi que, solitária, seria tolice

Criar esta c`roa, tecer-lhe este manto
*


E a dois, este pouco, transforma-se em tanto

Que os versos redobram de tagarelice

E escrevo as ideias antes que as previsse:

Isto quis dizer, isso eu lhe garanto!
*


Luminosa e estável se encontra a coroa

Que está quase pronta e que muito bem soa

Ao humano ouvido que a queira auscultar
*


E embora alguns versos se riam à toa

- tonteiras que sei que o leitor me perdoa -,

"Eu tenho uma luz que clareia o olhar" !
*

 

Mª João Brito de Sousa

23.07.2022 - 23.00h
***

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24
Jun22

NÃO ME SAI... - Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa

Maria João Brito de Sousa

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NÃO ME SAI...
*
Coroa de Sonetos
*

Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa
*

1.
*
Não me sai cantiga que possa agradar

A voz que eu tenho só quer brincadeira

Esconde-se às vezes e, namoradeira,

Fala só baixinho, não se quer notar
*

O amor esconde-a, só pensa em amar

Não canta à segunda nem canta à primeira

Só fala baixinho sem ninguém à beira

Não se ouve por perto, não se ouve a cantar
*


Há muito que cala, não quer escrever

Devia contar e contar a valer

Porque se não canta contava uma história
*

Em parte inventada de que se gostasse

E assim fosse lida para que ficasse

Se não fosse em canto, seria em memória
*

Custódio Montes

22.6.2022
***

2.
*

"Se não fosse em canto, seria em memória",

Ou juntos, em ambos... Seria perfeito

Cantar a memória trinada a seu jeito,

Compondo-se o canto ao compasso da história
*

 

Eu, sempre que o faço, não procuro glória,

Só persigo a força que trago no peito

E tento alcançá-la escrevendo a preceito,

Sabendo, contudo, ser meta ilusória
*


Pois não me sai nunca como eu quereria:

Desafino às vezes quando a melodia

Tropeça nas ondas da banda sonora...
*


Só de quando em quando, pra meu desespero,

Sai exactamente o canto que quero

Da pauta invisível que a Musa elabora.
*

 

Mª João Brito de Sousa

22.06.2022 - 12.53h
***
3.
*

“Da pauta invisível que a musa elabora”

Mas não tenho musa sou de trás os montes

Para a alcançar passaria horizontes

E daqui me iria para aí agora
*


Fazer bem queria e de hora a hora

Ia pela estrada passaria pontes

Oh musa ajuda queria que contes

Uma história linda, sê minha editora
*


Um canto cantava se a voz me ajudasse

Se a força viesse, se não me faltasse

Mas estou doente da minha cabeça
*


O canto não surge e o conto não vem

De ajuda preciso que me ajude alguém

Eu estou à espera que a musa apareça
*

Custódio Montes

22.6.2022
***


:)

 


4.
*

"Eu estou à espera que a musa apareça",

Mas a sua Musa já pôs mãos à obra

E nela só vejo saúde de sobra:

Canta como poucas, corre bem depressa!
*


Afinal de contas, que doença é essa,

Que lhe não faz mossa e à Musa não dobra?

É mais dura a minha porque em dor me cobra,

Quando estou doente, tudo o que eu lhe peça...
*


Não me sai da mente que está enganado,

Que dessa maleita está mais que curado

Ou que a sua Musa bebeu café forte!
*


A minha, coitada, bem mais vagarosa,

Está boquiaberta porque nem na prosa

Consegue ser ágil, já não tem tal sorte...
*

 

Mª João Brito de Sousa

22.06.2022 - 14.07h
***

5.
*

“Consegue ser ágil, já não tem tal sorte…”

Diz isso da musa? tem que me explicar

Porque é que diz coisas para enganar

Se ela é vigorosa com seu alto porte
*


E a tudo responde, com belo recorte

E sempre a seu jeito sem nunca faltar

Porque é que a maltrata sem ela falhar

Como a sua dona, sua fiel consorte?
*


Toda a gente sabe que se porta bem

Escolhe as palavras melhor que ninguém

Não insulte a musa que ela não merece
*


Musa tão distinta quem a não queria

Só lhe traz vantagens e tanta alegria

E todos nós vemos como lhe obedece!
*


Custódio Montes

22.6.2022
***

6.
*

"E todos nós vemos como lhe obedece"...

Não sei se ela a mim, se muito inversamente

Sou eu quem a segue obedientemente

Sempre que ela ordena, por mais que eu tropece...
*


Se um verso me escapa, logo ela outro tece

E quando eu fraquejo, ela, eficiente,

Engendra um soneto e, assim, num repente,

Depõe-mo nos braços e desaparece...
*


Sem ela não vivo e, sem mim, não existe

A estouvada Musa que não me resiste...

Nem eu lhe resisto, mesmo que zangada
*

 

Me custe aturar-lhe caprichos, manias,

Ausências, amuos e outras avarias:

Sem Musa, confesso, não presto pra nada!
*


Mª João Brito de Sousa

22.06.2022 - 19.50h
***

7.
*

“Sem musa, confesso, não presto pra nada”

E a musa, esperta, se disso souber

Sobe-lhe a parada, ficará a ter

Pose diferente bem mais complicada
*


Então sua dona, muito atarefada

Rodeia a menina para a entreter

Anda à volta dela para a convencer

Que se a ajudar ficará afamada
*


Vai perder seu tempo, fico por aqui

Deixe lá a musa pense mais em si

Que a musa é feita com o que se escreve
*


Deve-lhe mais ela pelo que a gaba

Porque o seu talento nunca mais lhe acaba

Nada deve à musa, ela é que lhe deve
*


Custódio Montes

22.6.022
***


8.
*

"Nada deve à musa, ela é que lhe deve"

E ficamos pagas, que uma perfazemos

Nas duas metades que aqui vos trazemos

Unidas prá vida que é bela mas breve
*


Criando e escrevendo até que nos leve

O dia ou a hora na qual prescrevemos

Com tudo o que somos e tudo o que temos

Desfeito num nada, que assim se prescreve...
*


Amigo, esta Musa é pura abstracção,

Deleite, volúpia, profunda atracção

E muito do pouco de bom que há em mim:
*


Quando digo Musa, digo alma, razão,

Amor, rebeldia, raiva, compulsão,

Êxtase diante de um espanto sem fim...
*

 

Mª João Brito de Sousa

22.06.2022 - 23.00h

***

9.
*

“Êxtase diante de um espanto sem fim…”

E é isso tudo, muito mais diria

E se ela é tristeza, mais é alegria

Para a minha amiga e também para mim
*


Se a musa se inventa, pensa-se em jardim

Em campo de flores envolto em magia

Num canto à noite e ao nascer do dia

Salto em poema como em trampolim
*


Alcança-se um gosto, pinta-se uma imagem

E no seu conjunto segue uma mensagem

Criando-se um mundo mais belo e melhor
*


E neste volteio, nesta criação

Expande-se a alma e ama o coração

Num manto diáfano e de esplendor
*


Custódio Montes

22.6.2022
***

10.
*

"Num manto diáfano e de esplendor"

Que ferve e transborda de imaginação,

Tão depressa brisa quanto furacão,

Moldamos palavras e damos-lhes cor
*


Que c`roa que é c`roa exige labor

E pra nós, poetas, cumpre uma função

De espontaneísmo, quanto à confecção,

De perfeccionismo, quanto ao seu teor
*

Não me sai da ideia, nem quero que saia,

O verso que nasce, desponta e se espraia

Numa imensa c`roa que, por fim, se fecha
*


No exacto ponto em que foi começada:

Circular, perfeita, quando bem fechada

Mas, se entusiasmada, veloz como a flecha!
*

 

Mª João Brito de Sousa

23.06.2022 - 10.20h
***


11.
*

“Mas, se entusiasmada, veloz como a flecha”

Ela então canta, já corre, já voa

Já me sai da mão, um cântico entoa

E Já não se encolhe já não é lamecha
*


Agora encanta e já não se fecha

E diz o que pensa doa a quem doa

E até já crítica e nunca perdoa

Uma má palavra, simples ou complexa
*


Demos rédea solta à imaginação

Porque assim a musa já tem condição

Para dar o salto, podendo cantar
*


Andar com o vento, caminhar no mundo

Envolta em percurso mais lindo e profundo

Para ter no canto uma forma de amar
*

Custódio Montes

23.6.2022
***

12.
*

"Para ter no canto uma forma de amar"

Galopa no verso, febril, apressada,

Que assim é tecida quando apaixonada

Plos versos que engendra num simples tear
*


Não pára, uma C´roa! Pode lá parar

Se os versos que entoa por tudo e por nada

Seguem o compasso da tal galopada

Que dedos e teclas nem tentam frear?
*


Pra si, o jardim, pra mim a floresta...

Por distintos rumos seguimos em festa

E embora distantes sempre nos cruzamos
*


Que o Espaço e o Tempo, nesta imensidão,

São sempre o oposto daquilo que são

Se mudos e quedos, por vezes, ficamos...
*


Mª João Brito de Sousa

23.06.2022 - 12.35h
***
13.
*

“Se mudos e quedos, por vezes, ficamos…”

Mesmo que apeteça cantar e contar

Mas esta preguiça, este mal-estar

Em paz não nos deixa e em guerra estamos
*


Guerra da palavra pela qual lutamos

Que não vence às vezes mas sempre a lutar

Pela paz vencida mas sem se parar

Sem se ter descanso mas sempre voltamos
*


Sem voz não cantamos, então escrevemos

Porque a musa ajuda, a musa que temos

Fica para a história e para recordar
*

 

E imaginando não ficamos sós

O que nós contamos mesmo sem ter voz

Ficará escrito num estro sem par
*


Custódio Montes

23.6.2022
***

14.
*

"Ficará escrito num estro sem par"

E talvez - quem sabe? - a alguém "contamine"

Qual vírus, dos úteis, que passe e sublime

A humana angústia do extremo pesar
*


De alguém que sozinho não saiba encontrar

Palavras pr`aquilo que sente e não exprime,

Mas que um bom poema acalma ou redime

A troco de nada, por nada custar...
*


Sai-me uma cantiga das mais pensativas,

Ou outra que alegra, de notas mais vivas...

Todas as cantigas são pr`aproveitar
*


Mas se uma dor forte, mais forte que a Musa,

Me deixa prostrada, doente e confusa,

"Não me sai cantiga que possa agradar".
*

 

Mª João Brito de Sousa

23.06. 2022 - 14.45h
***

Imagem Pinterest

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

01
Abr22

NO MEU CANTAR - Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa

Maria João Brito de Sousa

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NO MEU CANTAR
*
Coroa de Sonetos

*
Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa
*

1.
*
No meu cantar eu canto a natureza

E canto a tua luz que me alumia

E choro muitas vezes de alegria

Ao ter junto de mim tanta beleza
*

Se canto também choro essa tristeza

Que às vezes é só dela que irradia

A procura de força, de alquimia

Envolta na saudade da grandeza
*

Grandeza que eu canto ao escrever

Os marcos que não quero esquecer

E enfatizo de alma e coração
*

No meu cantar eu canto a despedida

A manta de alabastro esculpida

Castelos que recordo de paixão
*

Custodio Montes

30.3.2022
***


2.
*

"Castelos que recordo de paixão"

Que o tempo ano após ano foi cobrindo

Dos musgos e das flores que vão florindo

Sobre as muralhas da recordação
*


Que, de repente, são também refrão

Deste cantar do qual nunca prescindo,

Que arrebata e que sempre é tão bem-vindo

Quanto os castelos de ontem hoje o são...
*


Mas reluto em glosar tanta harmonia,

Tanta beleza e tanta melodia

A que não sei se posso fazer jus...
*


Os castelos que ergui foram de areia;

Não sei se mos levou a maré-cheia,

Ou se já me nem lembro onde é que os pus...
*


Mª João Brito de Sousa

30.03.2022 - 14.15h
***

3.
*

“Ou se já nem lembro onde é que os pus…”

Mas mesmo assim é bom ao me lembrar

Para os passos vividos recordar

Lembrando ao pormenor com essa luz
*


Dos choros e alegrias se deduz

Aquilo que passámos ao andar

Por cada rua, sítio e lugar

E sensações em que isso se traduz
*


Se todos nos lembramos do pior

O que mais nos alegra é o melhor

E isso encontraremos no castelo
*


Em cada canto, um gosto, uma lembrança

Que nos alegra e faz ter essa herança

Para voltar a olhar o que foi belo!
*

Custodio Montes

31.3.2022
***

4.
*

"Para voltar a olhar o que foi belo"

Basta-nos recordar, olhar pra trás

E trazer ao presente o que nos faz

Nunca deixar ruir o tal castelo
*


E tudo é tão humano e tão singelo

Que qualquer um de nós será capaz

De recriar aquilo que compraz

Este profundo e pertinente anelo...
*


Este nosso cantar faz do passado

Um presente sensível que, encantado,

Revive enquanto dura o nosso canto
*


Ninguém nos priva do que já vivemos,

Ninguém derruba os castelos que erguemos:

Pouco podemos, mas... podemos tanto!
*


Mª João Brito de Sousa

31.03.2022 - 12.30h
***


5.
*

“Pouco podemos, mas podemos tanto !”

Pois que reside em nós esse poder

De sentir o que fomos e o prazer

De o rever e sentir em cada canto
*


Buscamos no passado o encanto

De voltar ao castelo a conviver

Com todo esse nosso acontecer

Que nos serve de capa e de manto
*


Agora durmo a sesta mas respondo

E em cada verso digo e vou repondo

O que vem à lembrança e lhe digo
*


E nesta confissão não há problema

Nem se me põe aqui qualquer dilema

Porque o que aqui lhe digo é como amigo
*

Custodio Montes

31.3.2022
***

6.
*

"Porque o que aqui lhe digo é como amigo"

E eu que tendo um amigo, tudo tenho,

Bem sinto essa amizade sem tamanho

E sei que nela sempre encontro abrigo
*


Mas voltemos agora ao tempo antigo

E aos castelos que erguemos no antanho,

Pois é de um del`s que agora mesmo venho

Para melhor poder cantar consigo
*


Mas não mais com a voz que outrora tinha,

Que agora a minha voz ficou fraquinha,

Rouca e sem graça, tão sem graça agora,
*


Que nunca mais me atrevo - e com razão! -

A entoar de novo uma canção

Nem a jurar que, em tempos, fui cantora.
*


Mª João Brito de Sousa

31.03.2022 - 14.45h
***

7.
*

“Nem a jurar que, em tempos, fui cantora”

Revelação que nunca saberia

Que se ma não dissesse descobria

Sua faceta tão prometedora
*


Mas canta bem é uma professora

Com plena voz ao som da poesia

E o seu cantar é canto, é mestria

Lançada ao vento sempre a cada hora
*


Não se apoquente, nós bem o sabemos

Já porque a escutamos e a lemos

Não se lamente, escreva sempre, amiga
*

O canto tem em si música e letra

Se a voz o canta e a letra mal soletra

Sem letra o canto é mau, como a cantiga
*

Custodio Montes

31.3.2022

8.
*

"Sem letra o canto é mau, como a cantiga",

Por isso escrevo até que as mãos me doam

E amo estas palavras que em mim soam

Como uma voz possante e muito antiga...
*


Cantava em casa, sim, prá gente amiga

E tinha uma voz dessas que alto voam,

Mas há doenças que a ninguém perdoam

E a que tenho é assim que me castiga
*


Por vezes não resisto à tentação

E lá tento cantar, mas tento em vão

Porque mal se ouve a voz que ousou tentar
*


E tão desafinado é esse sopro

Que soa qual martelo sobre um escopro

Teimando em martelar, em martelar...
*


Mª João Brito de Sousa

31.03.2022 - 18.40h
***


9.
*

“Teimando em martelar, em martelar”

E teimar também teimo mas em vão

Mas não é a cantar uma canção

É antes numa letra a harmonizar
*


Que bom seria eu a interpretar

A letra que tivesse em intenção

Com música fazer composição

Seria bem famoso se calhar
*


Se tenho letras lindas como quero

Por músicas espero, desespero

Por amigo, fiel compositor
*


Havia de soar sempre o meu canto

De dia e noite sempre, sempre enquanto

Tivessem mão e voz força e calor
*

Custodio Montes

31.3.2022
***

10.
*

"Tivessem mão e voz força e calor",

Mas mão já tem e a voz bem lha conheço

Que voz como a que tem não tem um preço,

Nunca haverá quem meça um tal valor!
*


É afinada e sobra-lhe o vigor,

Esse vigor que tive e que hoje esqueço

Porque o que me sobrava no começo

Foi-se-me como nuvem de vapor...
*


Mas mesmo estando muda, enrouquecida,

Não estou de mal com esta minha vida

Porquanto a velha Musa me conforta
*


E ainda desafia a sua Musa

Para que eu não me sinta uma reclusa

Inda que se não abra a minha porta
*


Mª João Brito de Sousa

31.03.2022 - 19.50h
***

11.
*

“Inda que se não abra a minha porta”

Aos sons vindos fora a atrapalhar

Que a minha musa aqui sabe cantar

E a música de fora não me importa
*


Esse cantar da musa é que me exorta

E a mim basta-me ouvi-la e ouvir o mar

Que fico noite e dia a escutar

E num contentamento, toda absorta
*


Na vida, havendo gosto, é bom viver

A gente sonha e tem o que quiser

Moldando o tom à musa ao nosso gosto
*


Sentimo-nos alegres e contentes

A força está em nós, somos valentes,

Tudo bem espelhado em nosso rosto
*

Custodio Montes

31.3.2022
***

12.
*

"Tudo bem espelhado em nosso rosto"

E na nossa consciência esta certeza

De tão leve a sentirmos que à leveza

Nada devamos, no seu alto posto
*


Cantemos pois, amigo, que dá gosto

E bastas vezes combate a tristeza,

Este cantar que sem nos dar despesa,

Nos alegra bem mais do que um bom mosto
*


Que à sua Musa não falte energia

E que a minha a acompanhe em melodia

Enquanto o nosso ciclo aberto está
*


A hora é sempre agora e não depois

Do ciclo se fechar para nós dois,

Cantemos que o momento é sempre já!
*


Mª João Brito de Sousa

31.03.2022 - 22.00h
***

13.

*

“Cantemos que o momento é sempre já”

Cantar o que se quer em sintonia

Com gáudio, com paixão, com alegria

Que seja para nós como um maná
*


Andarmos sempre assim, melhor não há

Seguir ao nosso gosto em harmonia

Mesmo que algo nos sobre em fantasia

Andando por aqui por acolá
*


Que o amor nunca falte à nossa musa

Seja ela estrangeira ou seja lusa

Cantar aqui e além em toda a parte
*


Encontra-se no canto o que se quer

Encontros entre o homem e a mulher

Mas com toda a pureza, orlada em arte
*

Custodio Montes

31.3.2022
***

14.
*

"Mas com toda a pureza, orlada em arte"

Que assim é a amizade entre poetas

Quando se tecem c`roas tão completas

Que os seus versos repartem, parte a parte...
*


Nosso recreio e nosso baluarte,

Este Cantar suavíssimo de estetas,

Torna-se Sol e nós somos planetas

Onde a verso (im)plantou o seu estandarte
*


Olho as estrelas álgidas, serenas,

Vejo brilhar uma das mais pequenas

E a ela, por instantes, fico presa
*


Depois venho fechar o ciclo de hoje

Pra garantir que nenhum verso foge:

"No meu canto eu canto a natureza"!
*


Mª João Brito de Sousa

31.03.2022 - 23.30h

***

09
Mar22

SÓ MAIS UM MOMENTO, QUE TUDO É TÃO BELO!

Maria João Brito de Sousa

Fotografia de meu pai.jpg

Fotografia de António Pedro Brito de Sousa, 1952

*

SÓ MAIS UM MOMENTO, QUE TUDO É TÃO BELO!
*

Coroa de Sonetos
*

Custódio Montes e Maria João Brito de Sousa

1.
*

Ó tempo amigo que vais a fugir

Não vás tão depressa que quero olhar

O sol cristalino que está a brilhar

Ali sobre o monte já todo a florir
*


E aquela avezinha com asas a abrir

Que leva sustento para alimentar

O seu filho amado no ninho a piar

Pára um instante, deixa-me sorrir

*

Fica aqui comigo que ao longe o poente

Vai iluminado a encantar a gente

Com o mar ao fundo, não estás a vê-lo?

*

Apressado tempo, uns segundos mais

Que o que vejo agora não vejo jamais

Só mais um momento que é tudo tão belo!
*

Custódio Montes

7.3..2022
***

2.
*
"Só mais um momento que tudo é tão belo"

Aos humanos olhos e aos da Poesia

Que tudo contempla, que tudo (re)cria,

Que tudo interpretra pra poder escrevê-lo...
*


Dá-nos tempo, Tempo, pra melhor vivê-lo;

Cada tarde quente, cada noite fria,

Cada madrugada será fonte e guia

De grande alegria, de um cantar singelo
*


Se o meu coração fraco e remendado

Sugerir que é tempo de parar... cuidado!,

Estando avariado, nem sabe o que diz,
*


E eu inda que esteja fraca e consumida,

Tropeço mas peço um pouco mais de vida;

Por pouco que seja, far-me-ás feliz!
*


Mª João Brito de Sousa

07.03.2022 - 12.45h
***

3.
*

“Por pouco que seja, far-me-á feliz”

Que o tempo alegra, prende o coração

A gente olha o tempo, presta-lhe atenção

Em toda a idade, já desde petiz
*


Vem a tempestade, verga-se a cerviz

Recolhe-se a casa para protecção

Mas vai-se à janela e vê-se o trovão

O tempo ensina e é-se aprendiz
*


Se chove por vezes, também nos agrada

Ao sentir-se o cheiro a terra molhada

O sol que nos cobre, as flores a abrir
*

O mar ondeando e a bater na areia

À volta a andorinha, a voar passeia

Crianças que saltam contentes a rir
*


Custodio Montes

7.3.2022
***

4.
*

"Crianças que saltam contentes a rir"

Fomos noutros tempos que não voltam mais

Que avós nos tornámos - duas vezes pais...-

De crianças, outras, que hoje são porvir
*


Pois é sempre tempo de substituir

Plantas já esgotadas, velhos animais...

Mas abranda, Tempo, não corras demais,

Dá-me mais um tempo pra te usufruir!
*


Não te peço nada que dar-me não possas

Sem quebrar a sina destas vidas nossas;

Vivi muitos anos, vou para os setenta,
*


Mas se um poucochinho lhes acrescentares,

Não me zango - juro! - quando mos cobrares;

Em versos tos pago, se o seu preço aumenta!
*

 


Mª João Brito de Sousa

07.03.2022 - 15.40h
***

5.
*

“Em versos tos pago, se o seu preço aumenta!”

Anda, sê bonzinho mas mais devagar

Ao me dares tempo para eu sonhar

O sonho ao vir o poema acalenta
*


Se a vida for longa mesmo aos oitenta

O verso melhora, tem de melhorar

Com experiência a forma de amar

É muito mais rica e mais suculenta
*


Rodeia-se o campo, andando ao redor

Enfeita-se o prato, com graça e amor

Com tudo o que vemos vem-nos o poema
*


O tempo que passa, vai sempre a correr

E devagar indo melhora-se o ver

Assim se encontrando bem melhor o tema
*

Custodio Montes

7.3.2022
***

6.
*

"Assim se encontrando bem melhor o tema",

Que o vate envelhece tal qual o bom vinho

Que encorpa e que adoça nas pipas de pinho

Ao longo dos anos e ao som de um poema...
*


Dá-nos mais um tempo! Vês nisso um problema?

Desprezas-nos tanto que num minutinho

Vejas um milénio? Vá, vem de mansinho

Dar-nos, Tempo infindo, essa graça suprema!
*


Enquanto decides se sim ou se não,

Nós aproveitamos, dessa hesitação,

Segundos que sejam... Tudo se aproveita
*


Se o tempo que temos promete ser escasso,

Um verso sem Tempo transforma-se em Espaço

No qual se semeia, fecunda, a colheita
*


Mª João Brito de Sousa

07.03.2022 - 17.30h
***

7.
*

“No qual se semeia, fecunda, a colheita”

Para dar bom fruto tão apetitoso

Que ao comê-lo a gente fica mais guloso

E, saboreando-o, mais satisfeita
*


À vista, o poema é que nos deleita

Ao ver-lhe os detalhes e o porte pomposo

O tempo o eterniza e torna famoso

E o leitor ao lê-lo todo se deleita
*

Para isso o tempo é o principal

Que às vezes sem tempo conjuga-se mal

Estão as palavras, o verso aparece
*


Sem os ornamentos que merece ter

Com sobejo tempo melhor se há-de ver

E o próprio poema até envaidece
*

Custodio Montes

7.3.2022
***

8.
*

"E o próprio poema até envaidece"

Se o tempo lhe sobra em vez de em corrida

Fazer seu cantante percurso de vida

Até que no fim se cala e fenece
*

Mas este poema correndo se tece

Temendo que o Tempo lhe pregue a partida

De o parar a meio da estrofe tecida,

Que às manhas do Tempo, nem ele as conhece...
*


Ou será a Musa, essa aventureira,

Que o vai empurrando de qualquer maneira,

Sem deixar que cuide da sua aparência?
*


Não sei quem comanda este absurdo galope

Que nada respeita - nem sinais de "STOP"-

Como se um poema fosse uma emergência!
*


Mª João Brito de Sousa

07.03.2022 - 19.25h
***

9.
*

“Como se um poema fosse uma emergência”

Atrás de corrida sempre sem parar

Sem seu condimento para alimentar

A beleza à volta como numa urgência
*


Para que o poema tenha competência

Ao ser burilado deve contemplar

O que o rodeia e depois brilhar

Para ser amado na sua envolvência
*


Tudo tem um tempo para se tecer

E a dobadoira sempre em seu correr

O fio envolvendo para o seu destino
*


Sempre, sempre a jeito com muita alegria

Mostrando na forma toda a harmonia

E no conteúdo gosto genuíno
*

Custodio Montes

7.3.2022
***

10.
*

"E no conteúdo gosto genuíno"

De que seda ou linho não vão prescindir

No momento exacto de o ver, de o sentir,

De lê-lo em silêncio, de cantá-lo em hino,
*


Quem sabe "a capella", ao toque do sino,

Sem hora marcada, mas pronto a servir

Quem souber ouvi-lo sem lhe resistir,

Tal qual fosse débil choro de menino...
*


E é desta surpresa que alimento o verso,

Que o tomo nos braços, que o deito no berço,

Que o vejo partir e que lhe digo adeus
*


Porque os versos partem, seguem seu caminho

E logo outros vêm muito de mansinho

Deitar-se nos berços que tomam por seus
*

 

Mª João Brito de Sousa

07.03.2022 - 22.10h
***
11
*

“Deitar-se nos berços que tomam por seus”

Mas ao se deitarem sem ver o colchão

Coitados dos versos como se verão

Sem cama nem tecto à chuva dos céus
*


E acorrentados presos como réus

Assim espalhados deitados ao chão

Tão abandonados sem muita atenção

Lá se vão embora, dizem-nos adeus
*


Eu quero que fiquem enramalhetados

Presos uns aos outros como enamorados

Todos misturados e engrandecidos
*


Não os quero soltos e ao deus-dará

Antes em poemas como um bom maná

Muito apreciados quando forem lidos
*

Custodio Montes

7.3.2022
***

12.
*

"Muito apreciados quando forem lidos",

Vão fintando o Tempo enquanto se espraiam

Na tela ou na folha, conforme nos saiam

Nervosos dos dedos por vezes doridos
*


E quando na tela formam coloridos

Padrões tentadores e sons que desmaiam

Ou sobem crescendo até que enfim caiam

Ficando gravados nos nossos sentidos...
*


Que tempo nos resta antes que Morfeu

Tente vir impor-nos um tempo que é seu

E estes nossos olhos se cerrem cansados?
*


Hei-de resistir-lhe não sei até quando

Embora, confesso, vão já hesitando

Os versos que há pouco corriam estouvados
*


Mª João Brito de Sousa

07.03.2022 - 23.50h
***

13.
*

“Os versos que há pouco corriam ‘stouvados”

Mas agora o tempo já está a findar

Começou a noite e é melhor sonhar

E parar os versos que andam cansados
*


Ao vir a manhã com eles acordados

Damos outra volta pra recomeçar

Uns atrás dos outros ou a par e par

Muito bem compostos, bem emalhetados
*


Mas tudo sem pressa como um passatempo

E bem divertidos dando tempo ao tempo

Burilando o verso a dar graça ao poema
*

Que o poeta encante e faça divertir

Teça bem a teia, fazendo sorrir

Que a palavra encante como é seu lema
*

Custodio Montes

8.3.2022 (mesmo a começar…)
*

14.
*

"Que a palavra encante como é seu lema",

Que nos apaixone e nos abra horizontes

Jorrando graciosa de todas as fontes,

Gotinha a gotinha, fonema a fonema,
*


Até transformar-se num belo poema

Que derrube muros, que construa pontes,

Que atravesse rios, campinas e montes

E os demais percalços que o verso não tema
*


Hesito, dormito, que o sono já pesa

Até sobre a Musa que jaz sobre a mesa

Exausta, rendida, deitada a dormir...
*


Vês o que me arranjas só porque te peço

Mais um tempo, um nada que em momentos meço,

"Ó Tempo amigo que vais a fugir"?
*


Mª João Brito de Sousa

08.03.2022 - 01.25h
***

 

07
Mar22

CONVERSANDO SOBRE O TEMPO

Maria João Brito de Sousa

 

CONVERSANDO SOBRE O TEMPO
*


Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa
*

 

Chove, muda o tempo, anda tudo a mudar

Sem sol sopra o vento e vem a invernia

Vai longa a manhã é quase meio dia

Cubro o meu chapéu e saio a passear
*


Vou neste bocanho, o tempo a melhorar,

Foi-se a tempestade que tanto chovia …

Por sobre o telhado a chuva que caía!

Vou sair agora lá fora e andar
*


É assim o tempo muito sol às vezes

Chuva mas bom tempo existe em muitos meses

Andamos ao tempo ao sol ou a chover
*


Mas bendito o tempo sem a despedida

Que sem ela o tempo é tempo de vida

E que corra o tempo que tempo é viver
*


Custódio Montes

8.11.2021
*

***

Fala-me de um Tempo que é destroutro irmão,

Que comanda e rege as nossas sementeiras

E a dança das foices nas mãos das ceifeiras

Nos campos de trigo, nos templos do pão...
*


Há Sol e há Chuva nesta comunhão

Da Terra e das nuvens que são as torneiras

Das cinzentas nuvens. Riem-se as ribeiras,

Vibra a terra inteira numa comoção!
*


Cai agora a chuva sobre o chão que piso,

Vejo abrir-se a terra num largo sorriso

Que inteira me anima, que me faz sorrir
*


E quase me irmana à chuva redentora

Da sedenta fauna, da mortiça flora;

Sê bem-vinda, ó chuva que vejo cair...
*

 

Mª João Brito de Sousa

05.03.2022 - 18.00h
***

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07
Fev22

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA - Mª João Brito de Sousa e Custódio Montes

Maria João Brito de Sousa

 


ENSAIO SOBRE

A CEGUEIRA
*

Coroa de Sonetos
*

Mª João Brito de Sousa e Custódio Montes
*

1.
*

Num rio de uma gota, numa gota só,

Viriam banhar-se a mulher de vapor,

O homem sem corpo, sem suor, sem dó,

E a dor sem tamanho de quem não tem dor
*

 

De quem foi esmagado pela grande mó,

De quem foi comprado por nenhum valor

Que a realidade, se desfeita em pó,

Ao vendar-te os olhos, lança-te em torpor
*

 

E eu, inda que cega, rasgo essoutra venda

De rosada seda rematada a renda,

Entro nas fileiras da luta de classes
*

 

Que também tem sonhos, ideais concretos

Que são bem mais belos mas que estão repletos

Da crua dureza dos grandes impasses.
*

 

Mª João Brito de Sousa

05.02.2022 - 14.15h
***
2.
*

“Da crua dureza dos grandes impasses”

A luta medonha que se vai travar

Difícil será mas temos que a ganhar

Contra quem nos rouba, malditos rapaces
*


Se quando tu vias bem melhor olhasses

Agora bem vias só a recordar

Não vês o que queres mas imaginar

É mais criativo talvez te ultrapasses
*


Que o ver vem de dentro lá da nossa alma

E ao trazê-lo à luz ganhar-se-á a palma

Se o que nós dissermos for lindo ao lê-lo
*


Então nossos olhos por dentro rirão

Sentindo o poema com o coração

E mesmo não vendo vai senti-lo belo
*

Custódio Montes

6.2.2022
***

3.
*

"E mesmo não vendo vai senti-lo belo"

E talvez entenda que é mais importante

Que essoutra beleza que há no Sete-Estrelo

Por muito que seja pungente e brilhante
*

 

O "homem sem corpo" não saberá lê-lo

E a "mulher de nuvens" `stará tão distante

Que não mais verá que um ponto singelo,

Pequeno, ilegível e algo intrigante,
*


Mas o operário da escura oficina

E o mineiro em risco nos túneis da mina,

Conseguirão lê-lo, irão decifrá-lo
*

 

Sob a luz que é parca mas que os ilumina

E a vida que é dura mas que tanto ensina...

Quem os calaria se eu, cega, o não calo?
*

 

Mª João Brito de Sousa

06.02.2022 - 12.30h
***


4.
*

“Quem os calaria se eu, cega, o não calo?”

Ninguém, penso eu, o que diz é verdade

Mas eu continuo que a claridade

Tê-la sem os olhos é bem um regalo
*


Paramos às vezes tendo um intervalo

E vemos as coisas com realidade

Com gosto acrescido e mais à-vontade

Não é tudo a vista melhor é pensá-lo
*


A amiga bem sabe que ser-se pujante

Como é nos poemas de modo brilhante

É ser-se completa, uma grande artista
*


Por isso, não deixe aqui tanto lamento

Que tudo o que escreve é um monumento

Pare, não lamente ter tão pouca vista
*

Custódio Montes

6.2.2022
***

5.
*

"Pare, não lamente ter tão pouca vista";

Assim o farei porque alguma me resta

E à miséria, a essa, há quem não resista,

Que a miséria é dura, cruel e funesta
*


Mas é necessário que o tema persista

Pois é a cegueira que o tema me empresta

Pra tecer a c`roa e pra dar-me uma pista

Sobre algo que dura, que humilha, que empesta
*


O homem explorado sobre este planeta

Que tanto trabalha e tão pouco colecta;

Migalhas das mesas dos grandes senhores
*


São tudo o que sobra e as sobras não bastam

Prós tornar pessoas. Assim pouco gastam

E são humilhados os trabalhadores!
*

 

Mª João Brito de Sousa

06.02.2022 - 14.45h

 

6.
*

“E são humilhados os trabalhadores”

E os que os humilham são todos tratantes

Uns são manda-chuvas, outros governantes

Que lhes levam tudo e armam-se em doutores
*


Porque se sentissem todas essas dores

De pão não o terem nem outros sobrantes

De passarem fome e outros males restantes

Não seriam eles tão exploradores
*


Mas prendem-se muito à sua avareza

Que nunca reparam em tanta pobreza

São homens avaros de toda a maneira
*


Cegos, maltrapilhos são uma cambada

Pensam-se importantes mas não valem nada

Não vêem por perto com tanta cegueira
*

 

Custódio Montes

6.2.2022
***
7.
*

"Não vêem por perto com tanta cegueira",

Só a si se vêem contando a riqueza

Que outros produziram numa vida inteira

De trabalho duro, de extrema pobreza
*


Subindo a calçada, descendo a ladeira

De casa ao trabalho, do trabalho à mesa

Pra comer à pressa, talvez sem cadeira,

Um caldo apurado na lareira acesa...
*


E, do outro lado, é tanta a abundância

Que nem causa inveja, causa repugnância

O imenso abismo que as classes divide
*


Que sempre assim foi, dir-me-ão sorrindo

Os que estando "a meio" não o estão sentindo...

Mas o Povo, um dia, será quem decide!
*


Mª João Brito de Sousa

06.02.2022 - 17.30h

***

8.
*

“Mas o Povo, um dia, será quem decide”

O povo é cego ou então não quer ver

Prometem-lhe tudo mas já no poder

É só propaganda como o sabão Tide
*


Mesmo assim o povo no erro incide

Apenas elege quem nunca vai ter

Pena da pobreza… quer enriquecer.

É assim o povo e nunca progride
*


Vejo bem as coisas que eu não sou cego

O homem só quer alimentar seu ego

Dá pouca importância a cada irmão
*


Não pensa na fome, não vê a miséria

Só pensa no corpo e na vil matéria

Às vezes sem alma e sem coração
*

Custódio Montes

6.2.2022
***

9.
*

"Às vezes sem alma e sem coração"?

Só se ambos tiverem sido confiscados,

Que tudo nos levam (até a paixão!)

E eu, que sou povo, estou entre os visados...
*


Não falei das urnas nem da votação,

Falei dos futuros povos libertados,

Dos que já caminham nessa direcção

Inda que tropecem nos erros passados
*

Porque ao que foi escrito não retirarei

Nem uma palavra, pouco mais direi

Que o sono já pesa mais do que a vontade
*


E assim desarmada, sonolenta e tonta,

Só diria coisas de pequena monta,

Só faria versos de má qualidade...
*


Mª João Brito de Sousa

06.02.2022 - 22.30h
***


10.
*

“E faria versos de má qualidade”

Se fosse outra gente vivendo no espaço

Lá longe lá longe sem desembaraço

Sem ter qualquer jeito nem ter liberdade
*


Se a vejo a rimar com todo esse à vontade

Eu não acredito só se por cansaço

Tiver de parar. Já sei é o que faço

Paro e recomeço com fraternidade
*


É sobre a cegueira que a coroa versa

Vamos ao assunto mude-se a conversa

Que siga o poema por sobre esse embate
*


Doutra forma penso talvez, se calhar,

Quem a ler nos venha nos possa acusar

Que em vez de coroa se faz disparate
*

Custódio Montes

6.2.2022
***


13.
*

"Que em vez de coroa se faz disparate"

E em boa verdade os faço amiúde

Se meio da frase ou no seu remate

Me falha a memória ou me falta a saúde...
*


A Morfeu me oponho; que não me arrebate

Prá terra dos sonhos a que agora alude,

Que a Musa, mais forte, sobre mim se abate

E exige-me garra, lucidez, virtude...
*


Assim me proponho não render-me ainda

À branca cegueira que não é bem-vinda

Porquanto os tercetos não estão terminados
*


E se me proponho, não torço, nem cedo!

Tropeço, gaguejo, mas num arremedo

Termino sem gralhas nem ossos quebrados
*


Mª João Brito de Sousa

07.02.2022 - 00.26h

***

12.
*

“Termino sem gralhas nem ossos quebrados”

Então aproveito a sua correria

Por ver no poema tamanha alegria

Que se descortina nos versos rimados
*


Fomos progredindo meios ensonados

Disse que parava até vir o dia

Foi-se-lhe a cegueira enquanto eu dormia

E só se enganou nos versos numerados
*


O seu é o onze sendo o meu o doze

E só faz mais um e eu farei o catorze

Termina a coroa e acaba a cegueira
*

Esta sugestão que agora aqui trago

Não é novo ensaio - o do Saramago

É cá entre nós mais uma brincadeira
*

Custódio Montes

7.2.2022
***

13.
*

"É cá entre nós mais uma brincadeira"

Das nossas, humanas, que sabem a pouco...

Quem dera acabasse de vez a cegueira

E o mundo dos homens não andasse louco
*


Com tanta clivagem, tanta roubalheira

E mil teorias que soam a ôco...

Porém, pouco a pouco - assim Homem queira! -,

Verá quem é cego, ouvirá quem é mouco!
*


Não é nova a obra, nem nova é a tela

Que há mais de vinte anos pintei para ela,

Mas o que traduz é bem contemporâneo
*


E eu, meio cega, ceguinha de todo

Não estou com certeza; bem vejo esse lodo

Que aspergem - disfarçam!- com "sprays" de gerânio
*


Mª João Brito de Sousa

07.02.2022 - 10.50h
***

14.
*

“Que aspergem - disfarçam!- com "sprays" de gerânio”

Não tem fim a luta que há muita ganância

“Eles comem tudo” não dão importância

Engordam o corpo sem nada no crânio
*


Querem mostrar graça, mas em sucedâneo

Apenas ostentam muita ignorância

Olhando à volta com a petulância

De reles amigos do seu conterrâneo
*


E à volta a miséria sempre a alastrar

Sem que a gente veja que vai acabar

Tudo mesmo tudo desfeito em pó
*

 

Labutam os homens e é só miséria

A banhar-se em vida sem rumo sem féria

“Num rio de uma gota, numa gota só”
*


Custódio Montes

7.2.2022

***

magritte 2.jpg

Tela de René Magritte

***

01
Fev22

COM OS ANOS - Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa

Maria João Brito de Sousa

eu e Pedrito.jpg

COM OS ANOS - Custódio Montes e Mª João Brito de Sousa
*
COROA
*

1.
*

Com os anos a gente nem dá conta

Um dia e mais outro lá se vão

Inverno, primavera e o verão

Às vezes mais um dia até encanta
*

Contentes quando o sol vem e levanta

Os verdes anos fogem, sem travão

Enruga a pele e ama o coração

E a alma às vezes salta e se agiganta
*

Somos tudo: grandeza e poder

Fraqueza, sem pensar mas a fazer

A descida da íngreme ladeira
*


Seguimos o caminho sempre em frente

Às vezes sem olhar e de repente

Sem contar, vai-se tudo, a vida inteira
*


Custódio Montes

31.1.2022
*

2.
*

"Sem contar vai-se tudo, a vida inteira"

Se quase por inteiro foi vivida,

Mas isto que nos sobra ainda é vida

Que tenta ir convertendo a tal ladeira
*


Num espaço de amizade e brincadeira

Ou mesmo numa rampa tão comprida

Que leve uns anos a ser percorrida

E a lançar-nos, por fim, na ribanceira...
*


Por azar e por sorte em simultâneo

Já vi desse penhasco um sucedâneo;

Jovem - tão jovem! - da primeira vez,
*


Já nada jovem, quando da segunda...

Passam os anos mas, se a sorte abunda,

Talvez se alongue a rampa... Sim, talvez!
*


Mª João Brito de Sousa

31.01.2022 - 14.00h

***


3.
*

“Talvez se alongue a rampa…sim, talvez”

Enquanto com saúde cá se andar

Estou no hospital a esperar

Consulta e a aguardar a minha vez
*


Não tenho mau aspecto e a minha tez

Sem rugas e de aspecto regular

Ninguém descobre em mim um mal-estar

Mas tenho dor nas costas lés a lés
*


Não vou ligar agora à minha queixa

E ver se a dor acaba e me deixa

Porque esquecer os males é melhor
*


Enquanto cá andarmos dia a dia

Assim a gente tem mais alegria

E não nos lembra tanto a nossa dor
*

Custódio Montes

31.1.2022
***

4.
*

"E não nos lembra tanto a nossa dor"

Enquanto conversamos, como agora...

Pode até ser que a sua vá embora

E, a minha, perca algum do seu ardor
*


Que isto, pra mim, também não vai melhor,

E à minha tez, deitá-la-ia fora

Se outra tivesse, mais inspiradora,

Menos inchada e com menor rubor...
*


Mas, meu amigo, s`isto lhe é penoso,

Não escreva porque pode ser perigoso

Esforçar-se em vez de estar a repousar!
*


Não se sinta obrigado a responder...

Há-de ter muito tempo pró fazer

Quando essa lombalgia lhe passar!
*

 

Mª João Brito de Sousa

31.01.2022 - 20.22h

***

5.
*

“Quando essa lombalgia lhe passar”

Há-de ser bem melhor mas por agora

Fraqueza não se quer, que vá embora

Porque a dor não se agrava por pensar
*


Até talvez melhore se calhar

Estando distraído hora a hora

E até - é o que penso - não piora
*

Que a rima até nos dá para alegrar

Que bom passar o tempo, os nossos dias

Envoltos em poemas e alegrias

A rirmo-nos na vida e a meter graça
*

E aos vermos no poema algum talento

Sentimos alegria no momento

E não nos custa o tempo enquanto passa
*

Custódio Montes

31.1.2022
***

6.
*

"E não nos custa o tempo enquanto passa"

Porquanto a amarga dor, quase esquecida,

Sente-se desprezada e "vai à vida"

Enquanto a minha estrofe a sua enlaça
*


E a sua enlaça a minha que acha graça,

Tornando-se a conversa divertida

Muito mais forte do que a dor sentida

Que, enfraquecida, já nos não trespassa...
*


Com os anos, amigo, o que aprendemos!

Somos mais fortes do que a dor que temos;

Palavra com palavra, rima a rima,
*

Podemos muito mais do que o expectável,

Pois trocar dor por riso, assim, saudável,

É obra! E talvez seja uma obra-prima...
*


Mª João Brito de Sousa

31.01.2022 - 21.30h
***

7.
*

“É obra! E talvez seja uma obra-prima…”

A minha não, a sua com certeza

E ao pé da sua a minha trina e reza

Para que puxe a minha mais pra cima
*


É claro que a minha também rima

Mas a mesma riqueza não aveza

Eu tento rodeá-la de beleza

E ela à sua sombra se arrima
*

Não estou a gabá-la, é verdade

Nem eu assim o digo por maldade

Digo isto de alma e coração
*

A fazer as coroas foi consigo

Que aprendi e ao sentir o seu abrigo

Ganhei alguma graça e atenção
*


Custódio Montes

31.1.2022
***
8.
*

"Ganhei alguma graça e atenção"

Tecendo as c`roas de que tanto gosto

Pois rasga-se um sorriso no meu rosto

Quando, ao tecê-las, me encho de paixão
*


Já que são arte em plena construção

E nisso, meu amigo, sempre aposto!

Fermentou, com o tempo, o nosso mosto

Já transformado em néctar de eleição...
*


Sou poeta e o poema importa assim,

Ao ponto de eu estar nele e ele em mim

Numa fusão tão pura quanto estranha
*


E a si, que sei que entende o que lhe digo,

Só posso agradecer-lhe, meu amigo,

Por dar-me uma alegria tão tamanha.
*

 

Mª João Brito de Sousa

31.01.2022 - 23.00h
***
9.
*

“Por dar-me uma alegria tão tamanha”

Nos versos que escrevemos debruçados

Na tela que pintamos aos bocados

Para se ver no fim a obra ganha
*

O verso dentro dela lá se entranha

Ficando todos eles irmanados

Bem juntos com sorrisos espalhados

Cada um a contar sua façanha
*

A vida continua e nós a ver

Jardins de belas flores a crescer

Metidas lá no meio e a florir
*


Um cravo e uma rosa ou o que for

Alheios à doença e à dor

Envoltos nessa obra a emergir
*


Custódio Montes

1.2.2022

***

10.
*

"Envoltos nessa obra a emergir"

Tal como emerge o Sol da noite escura,

Em rasgos de talento - ou de loucura...-

Chegam poemas pra nos redimir
*


Dos anos que passaram a fugir

Pela pele engelhada de madura

E duma ou de outra dor qu`inda tortura

Por muito que a queiramos desmentir...
*


Com os anos que passam, também passa

Toda a frescura, agilidade e graça

Próprias da Primavera duma vida
*


E aquilo que se ganha em lucidez

Cresce c`os anos pra murchar de vez

Quando soar a hora da partida.
*

 

Mª João Brito de Sousa

01.02.2022 - 09.40h
***

11.
*

“Quando soar a hora da partida”

Nós já cá não estamos para ver

Que importa a despedida acontecer

Se só já há lembrança à despedida ?
*


É curta esta passagem e a vida

É breve muito breve e o viver

Por tão curto e breve deve ser

Uma etapa de amor e bem vivida
*


Os dias e as noites de passagem

A voar vão e não deixam imagem

Momentos que não vemos nem passar
*

Mas depois ao olharmos de repente

Ficamos a pensar e a nossa mente

Sem tempo passa o tempo a recordar
*


Custodio Montes

1.2.2022

***

12.
*

"Sem tempo passa o tempo a recordar"

Em viagem pelos anos já passados

Que assim é a memória cujos dados

Ora fazem sorrir, ora chorar...
*

 

Pra mim, é construção este sonhar

Sem precisar de estar de olhos fechados

Que os versos vão crescendo encadeados

Naquilo que eu sentir quando pensar...
*


Aproveitemos pois estes instantes

Para lembrar-nos do que fomos dantes

E melhor conhecer-nos, no presente,
*


E - por que não? - com esp`rança num futuro

Que seja bem mais justo e menos duro,

Não para nós, mas para toda a gente!
*

 

Mª João Brito de Sousa

01.02.2022 - 15.30h
***

13.
*

“Não para nós, mas para toda a gente”

Que bom que se deseje a vida inteira

Haver apenas gente de primeira

Sem fome, sem miséria somente
*


Com pão, tecto e futuro pela frente

E tempo para andar na brincadeira

Ter calor e conforto à lareira

Sem barreiras e ser independente
*


Os anos passariam devagar

E toda a vida a gente a se lembrar

Daquilo que melhor houve na vida
*


Assim, oh que beleza, era melhor

Viver até ao fim cheios de amor

E menos custaria a despedida
*

Custódio Montes

1.2.2022
***

14.
*

"E menos custaria a despedida"

A quem feliz passasse pelos anos,

Sem que a pobreza lhe causasse danos,

Sem que a miséria lhe encurtasse a vida
*


Fosse a riqueza bem distribuída

Por todos os que nascem dos humanos

E fossem seus direitos soberanos

A luz de uma razão jamais perdida...
*


Com os anos ganhamos e perdemos,

Somos fruto daquilo que aprendemos

E enquanto jovens nada nos afronta;
*

 

Pela vida passamos e corremos

Sem percebermos bem porque vivemos,

"Com os anos a gente nem dá conta"...
*

 

Mª João Brito de Sousa

01.02.2021 - 17.30h
***

05
Nov21

SENTO-ME À JANELA - Coroa de Sonetos

Maria João Brito de Sousa

sento-me à janela.jpg

SENTO-ME À JANELA
*

Coroa de Sonetos
*

Custódio Montes, Lourdes Mourinho Henriques e Mª João Brito de Sousa
*

1.
*


Sento-me à janela e olho para a porta

Atento escuto o bater do ferrolho

Abro as tuas cartas delas uma escolho

O amor nelas leio só isso me importa
*

Vejo linha a linha que tudo me exorta

Voa o pensamento, lágrima no olho

Do tempo passado a imagem recolho

Espero, espero e nada me aporta
*

Mas daqui não saio e o teu olhar terno

Aqui o espero por tempo eterno

Por noites e dias, o tempo que for
*

De volta te sinto numa caravela

Daqui eu não saio da minha janela

Que se abra o ferrolho, vem oh meu amor
*

Custódio Montes

2.11.2021
*
2.
*

“Que se abra o ferrolho, vem oh meu amor”!

Com mágoa e saudade o amigo Custódio

Vertendo uma lágrima recorda, com dor,

Ao ler uma carta de amor e não ódio.

 

Mas eis que o passado ficou lá p’ra trás

E as cartas apenas são recordações…

Momentos vividos cheios de emoções

Que o tempo sem tempo nunca mais desfaz!

 

Ainda que seja ao ler uma carta

Lembrando um amor que nunca mais se aparta

Do seu coração, é assim a vida!

 

Recordar é viver, sentir o carinho,

Trilhando por vezes o mesmo caminho…

Ao ler uma carta que não foi esquecida!
*

Lourdes Mourinho Henrirques
*

3.
*
"Ao ler uma carta que não foi esquecida"

O passado ganha a dimensão presente

E o que era saudade passou, de repente,

A ser coisa viva, palpável, sentida...
*


A leitura é chama que, reacendida,

Ilumina a vida e a alma da gente;

Sabe-o quem o escreve e sabe-o quem o sente

No corpo inocente e na alma rendida.
*


O tempo não pára mas essa janela

Não vive no tempo, vive só pra ela

E para o momento em que ela há-de voltar
*


Está escuro lá fora, mas brilham-lhe os olhos;

Vê estrelas brilhando em vez de ver escolhos

No papel da carta que abrira a chorar...
*


Mª João Brito de Sousa

02.11.2021 - 18.30h


***
4.
*

“No papel da carta que abrira a chorar..”

Relembrou uns olhos duma claridade

Que ainda os recorda com tanta saudade

Que ao entrar na porta os quer de novo olhar
*


Mas andam tão longe que tardam voltar

E eram tão lindos: era a mocidade

A força, a alegria, o carinho, a vontade

De lhe querer tanto, de tanto os amar
*


Sento-me à janela fico à sua espera

Que quem muito ama nunca desespera

Mesmo que a espera se torne ilusão
*


Mas relendo as cartas lembra-se o calor

Dos beijos ardentes e plenos de amor

E fica-se preso, freme o coração
*

Custódio Montes

2.11.2021
*

5 .
*

“E fica-se preso, freme o coração”

Como se o passado voltasse outra vez…

E serão as cartas, quem sabe, talvez

Alvo de alguns beijos cheios de emoção!
*

São o testemunho de um amor feliz

Que um dia partiu e nunca mais voltou,

As boas lembranças foi o que deixou,

Também a tristeza, a vida assim quis.
*

Mas ficar à espera é pura ilusão,

Enquanto se espera, sofre o coração

A mágoa contida sem remédio ter.
*

E as cartas velhinhas aqui recordadas

São tudo o que resta, ficarão guardadas

Com muito carinho p’ra não as perder.
*

Lourdes Mourinho Henriques

02.11.2021
***

6.
*

"Com muito carinho pra não as perder"

Guarda-as na gaveta do seu coração

Junto das saudades e do medalhão

Contendo o retrato dela, da mulher...
*


Sentado à janela, já nem quer esquecer,

Já só disso vive, da recordação

Do que recebera de amor, de paixão,

Desse tanto querê-la que foi mais que qu`rer...
*


E agora relendo, mais próximo está

Dessa que em palavras toda se lhe dá

Como se lhe dera nos tempos distantes
*


Não fecha a janela muito embora o vento

Sopre através dela louco e turbulento

Como fora em tempos, como ele era dantes...
*


Mª João Brito de Sousa

02.11.2021 - 21.30h

***

7.
*

“Como noutros tempos, como ele era dantes”

Mas forte que fosse eu ia junto dela

Não havia rosa que fosse mais bela

E bastava vê-la por poucos instantes
*


E ao ler a carta há imagens distantes

De caminho andado por rua ou viela

É essa lembrança que por mim apela

A paixão sentida que une os amantes
*

Ponho-me à janela quero relembrar

Voltando ao passado, voltamos a amar

Estendem-se os braços e lançam-se ao vento
*

Voamos no espaço, estendemos as asas

A paixão regressa pisamos as brasas

E sobre elas voa nosso pensamento
*

Custódio Montes

2.11.2021
***
8.
*

“E sobre elas voa nosso pensamento”…

E tal como outrora o amor acontece,

Momentos vividos que nunca se esquece

Que são recordados, momento a momento!
*

E a vida ao passar é por vezes tormento,

Mas deixa alegrias para recordar,

Momentos de vida do tempo de amar

Que ‘oje são saudade, da alma alimento!
*

E nessa janela que tanto lhe diz

O amigo Custódio vai sendo feliz,

Saudoso recorda todo o seu passado.
*

Que assim continue, com boa lembrança

Mesmo que a sonhar, não perca a esperança

E guarde a cartinha com muito cuidado.
*

Lourdes Mourinho Henriques

03.11.2021
***
9.
*

"E guarde a cartinha com muito cuidado",

No bolso do peito onde pode ir buscá-la

A qualquer momento. Se a carta lhe fala

Ganhou-lhe o presente, vencendo o passado
*


No instante preciso, à janela sentado,

No quarto de cama, na copa ou na sala,

Falará a carta, que amor não se cala

Se, em tempos vivido, ora for recordado.
*


Que a velha cadeira em que agora se senta

Seja a testemunha que os versos sustenta

No pinho ou nogueira em que alguém a talhou.
*


Que todos os dias a todas as horas

Lhe fale essa carta de amor e de amoras,

Dos beijos e abraços com que o cativou!
*


Mª João Brito de Sousa

03.11.2021 - 14.25h
***

10.
*

“Dos beijos e abraços com que o cativou”

Mas não têm cartas como eu recebidas

De amores de outrora, pessoas queridas

Ou de amores perdidos apenas eu sou ?
*


Ao que tenho ouvido e alguém me informou

Também as amigas andaram perdidas

E foram amadas em tochas ardidas

Por muito amor que de certo as queimou
*

Contemos a história que não a negamos

Recordamos tempos, todos nós amamos

Todos nós tivemos o nosso desejo
*

Quem não teve cartas que agora não lê

Teve bem mais sorte, teve o amor ao pé

E pôde de certo enchê-lo de beijos
*

Custódio Montes

3.11.2021
***

11.
*

“E pôde de certo enchê-lo de beijos”

Mas ficou mais pobre de recordações,

Nem todas as cartas são desilusões,

São troca de amor confessando os desejos.

 

E são essas cartas que há quem não as tenha,

Que dão o conforto, que dão a ilusão

De sentir agora a mesma paixão

Um dia sentida e que hoje a retenha.

 

Os altos e baixos que nos dá a vida

São provas de fogo que logo à partida

Nos vão ensinando a escolher o caminho.

 

Bem cedo encontrei o meu no passado

Guardei-o com ‘sprança, até que ao meu lado

Surgiu o amor que esperei, com carinho.
*

Lourdes Mourinho Henriques

03.11.2021
***

12.
*

"Surgiu o amor que esperei com carinho"

Bem cedo, tão cedo que ainda que aponte

Os dias e as noites, não há quem os conte

Entre as muitas gentes que achar no caminho
*


E eu que escrevia sobre pergaminho,

Que pintava as linhas de um novo horizonte

Por dentro de um rio ou atrás de uma fonte,

De amor nunca tive nem um postalzinho.
*


De amor estive perto e de amores me perdi

Num tempo em que a sorte de amar descobri...

Para quê escrevê-lo se assim tão de perto
*


Podia vivê-lo? Passaram-se os dias,

Os meses, os anos... surgiram magias;

Perdi-me das cartas neste desconcerto...
*


Mª João Brito de Sousa

03.11.2021 - 19.00h

***
13.
*

“Perdi-me das cartas neste desconcerto”

Mas encontrei uma entre todas elas

Abri-a e li-a era das mais belas

Devagar olhei-a cada vez mais perto
*


E fiquei contente de a ter aberto

Havia passagens lindas e singelas

Que me deslumbraram como luz de estrelas

Ao ler linha a linha um e outro excerto
*


E tinha nos olhos a mesma esperança

Dos dias passados, agora lembrança,

Que tanto queria tornar a rever
*


Recordei seus olhos e os seus cabelos

Momentos vividos tão lindos tão belos

Recuei no tempo, parei para os ter
*

Custódio Montes

3.11.2021
***

14.
*

“Recuei no tempo, parei para os ter”

E tal como outrora vivi os momentos

Como se hoje fosse, tantos sentimentos,

Paixão e carinho que nos fez viver.
*

Vivemos um amor que não é p’ra esquecer

Ambos percorremos um longo caminho,

Com altos e baixos, mas muito carinho

E que hoje num sonho voltei a rever.
*

E junto à janela eu vejo, sem fim,

Uma longa ‘strada onde esperas por mim

Quando um dia partir, quando? Pouco importa!
*

 

Só sei que acordei desta minha apatia

Que a ti me juntou… mas já vai longe o dia…

“Sento-me à janela e olho para a porta”.
*

 

Lourdes Mourinho Henriques

03.11.2021

***

Reservados os direitos de autor

 

 

 

 

 

 

 

 

27
Out21

DIA - Coroa de Sonetos - Custódio Montes, MJBS e Lourdes Mourinho Henriques

Maria João Brito de Sousa

DIA.jpg

DIA
*

Coroa de Sonetos
*

Custódio Montes, Maria João Brito de Sousa e Lourdes Mourinho Henriques
***
1.
*

A noite foi passando e chega o dia

Pois já se vê a luz da alvorada

Do dia vem a luz iluminada

E luz que cada vez mais alumia
*

Os olhos se distendem e a magia

Invade-nos a alma encantada

Que a este céu aberto, irmanado,

Se junta, refulgente de alegria
*


O dia pinta o monte, mostra a serra

E também a beleza que ela encerra

E vai beijar a flor que envaidece
*


E tudo isto eu vejo da janela

Encanto desta luz que é tão bela

Enquanto o dia vem e amanhece
*

Custódio Montes

23.10.2021
***

2
*

"Enquanto o dia vem e amanhece"

Procura a noite um espaço recatado

Para dormir o sono descansado

Que traz consigo e tanto lhe apetece.
*


A noite, ao dia em nada desmerece

E até foi dela que nasceu o fado,

O que se vive e o outro que é cantado

Como quem rasga a alma numa prece...
*


A noite traz lampejos cor de prata,

Cantigas de embalar e uma cascata

De carícias que o dia amordaçou
*


E traz-me, a mim que vou estando velhinha,

A maravilha de, estando sozinha,

Sonhar com versos que ninguém glosou...
*

 

Maria João Brito de Sousa - 22.10.2021 - 14.55h

***
3
*

“Sonhar com versos que ninguém glosou”

É maravilha que a minha mente ocupa

Enquanto o coração se preocupa

Sonhando com a vida que passou.
*

 

Recorda tudo o que o tempo levou

Noite fora, até ser de madrugada,

Por fim, com a cabeça já cansada

Rendo-me ao sono… a noite terminou…
*


E eis que nasce o dia… e a natureza

Se envaidece, e mostr’ a sua beleza

Ao ser banhada pela luz do sol.
*

E às vezes, quando acordo a meio do dia

Eu penso que vou ter a alegria

De ver uma vez mais o arrebol!
*

Lourdes Mourinho Henriques

22.10.2021
***

4
*

“De ver uma vez mais o arrebol”

Sonhava e acordei era já dia

Voltei de novo então à alegria

Por ver a clara luz vinda do sol
*

Na montanha a cair como farol

Tão lindo como há muito eu não via

Assim, olhando em frente descobria

Também a cirandar um girassol
*


Todo o dia amanhece e vai andando

O sol que o acarinha vai girando

Até ao seu ocaso a iluminar
*


Trabalha muita gente e o jardim

Encanta todo o dia até ao fim

E anda-se na rua a passear
*

Custódio Montes

22.10.2021
***

5
*

"E anda-se na rua a passear",

Ou fica-se por casa poetando

Como eu há vários dias vou ficando

Por falta de dinheiro pra pagar
*


O que café da esquina me cobrar

Por um "pingado" claro, fumegando;

Este mês não está fácil, vou pensando

Enquanto escrevo versos sem parar...
*


De qualquer forma, não caminharia

Mais do que os poucos passos que daria

Pra poder chegar (viva...) à minha meta
*


E assim, escrevendo "até que a voz me doa",

Chego muito mais longe! O verso voa

Sempre que sai das teclas de um poeta.
*

 

Maria João Brito de Sousa - 22.10.2021 - 21.50h


***

6
*

“Sempre que sai das teclas de um poeta”

Os versos que escreveu, para cantar

Talvez lhe chegue a voz… e a tocar,

Até confunde as teclas com a caneta.
*

Os versos e a música sem meta

Que às vezes vão saindo sem cessar

Aliviam a alma, e ao cantar

Dão alegria ao músico/poeta.
*

P’rá música, inspiração vai faltando,

Uns versos, vão saindo quando em quando

P’ra não deixar entrar o “Alemão”.
*

Hoje, cantar “Até que a voz me doa”

Não consigo, já sou outra pessoa,

P’rós versos, vai faltando inspiração!
*

Lourdes Mourinho Henriques

23.10.2021.

***

7.
*

“P’rós versos, vai faltando inspiração!”

É verso a rimar mas é gracejo

Porque pelo que escreve, como vejo,

Não foge o verso e a rima à sua mão
*

Oh Lourdes, desafio é empurrão

Que leva a sua musa ao versejo

E o que escreve é lindo, lho invejo

Que escreve com a mente e o coração
*

Mas voltando ao tema, lhe diria

Que só começou ontem, nesse dia

E decerto vai hoje terminar
*

A Maria João e a Mourinho

Trouxeram ao meu “dia” tal carinho

Que quero nesta altura destacar !!!
*

Custódio Montes

23.19.2021
***

8.
*

"Que quero nesta altura destacar(!!!)"

Que o dia amanheceu de azul vestido

E que o mar está de rendas guarnecido

Por espumas acabadas de bordar...
*


Acabo agora mesmo de acordar

De um sono justo, muito bem dormido

E faz, dizer bom-dia, mais sentido

Do que ficar calada a matutar;
*


Bom dia, meus amigos, companheiros

Dos versos cultivados nos canteiros

Dos nossos jardinzinhos pessoais!
*


Que as vossas musas vos sejam propícias

Nesta manhã de versos e delícias;

Trazei vossos sonetos, quero mais!
*


Maria João Brito de Sousa - 23.10.2021 - 10.15h
***

9
*

“Trazei vossos sonetos, quero mais”

Por sua vez diz Maria João,

Não sei se chego lá, a inspiração

Por vezes só me dá rimas banais…
*

Mas vejo que o Custódio entendeu

Que apesar do que escrevo ser banal

É tudo o que sinto, e afinal

São versos que demonstram o “meu EU”.
*

Aos dois eu agradeço a paciência

Pois engenho e arte, na essência,

É coisa que me falta, na verdade.
*

Vamos ver se consigo terminar

Esta “batalha” que me faz pensar…

E aqui vos deixo a minha amizade.
*

Lourdes Mourinho Henriques

23.10.2021

***

10.
*

“E aqui vos deixo a minha amizade”

Que tão bem a expressa no soneto

Manifestá-la aqui também prometo

Embora sem engenho e habilidade
*

A Mourinho é amiga de verdade

E por isso amizade lhe remeto

Apesar desta assim morar num gueto

Que a sua essência é a liberdade
*

Ao escrever a gente apenas diz

Aquilo que a pena dizer quiz

E ela não diz tudo ao escrever
*

Mas vou ditar daqui esta sentença:

A amizade é lonjura e é presença

E ambas como amigas quero ter
*

Custódio Montes

23.10.2021
***

11
*

"E ambas/os como amigas/os quero ter"

Inda que isso me obrigue a saltitar

Entre o computador, pra vos saudar,

E a água do arroz, quase a ferver
*


Porque hoje é dia de tudo fazer

Não me posso esquecer de cozinhar

Frango estufado, arroz a acompanhar,

E um chá de camomila pra beber
*


Nestas nossas conversas "sonetadas"

Partilhamos até pequenos nadas

E confesso sentir-me entristecida
*


Por não poder servir-vos um pouquinho

Do que vou descrevendo e que cozinho;

- "Custódio, quer?" ou "Milú, é servida?"
*

 

Maria João Brito de Sousa - 23.10.2021 - 14.10h
***

2
*

- “Custódio, quer?” ou “Milú, é servida?”

Tem graça partilhar com harmonia

Em “poemas”, o qu’ é o nosso dia,

Afinal tudo faz parte da vida
*


Que por nós, tantas vezes é esquecida…

Pensando em altos voos, com alegria,

Sem vermos que esses voos são utopia,

Deixando a humildade adormecida!
*


Quantas vezes o que a vida nos dá

Não é o que sonhamos… mas é lá

Que encontramos a nossa f’licidade.
*

Amigos do passado? Aonde estão?...

A vida nos contempla e em sua mão

Nos traz outros amigos de verdade!
*

Lourdes Mourinho Henriques
*

23.10.2021
***
13.
*

“Nos traz outros amigos de verdade”

Que o dia nos ajuda a conquistar

Quem diz dia diz noite par a par

Que juntos ambos são a unidade
*


De trevas é o dia e claridade

E cada parte dele é para amar

Amarmos tudo e todos sem parar

Que o amor é o cerne da amizade
*


O dia, o claro dia empolga a gente

Dia pela manhã e ao sol poente

E depois vem a noite e a escuridão
*


Surge a lua no céu e as estrelas

Depois vem o alvor, coisas tão belas

De noite e ao vir o dia e o seu clarão
*

Custódio Montes

24.10.2021
***

14
*

"De noite e ao vir o dia e o seu clarão"

Que inundará de luz o nosso sono

Para afastar, num sopro, o abandono

Da nossa adormecida solidão,
*


O dia, azul na sua imensidão,

Traz-nos o Sol no alto do seu trono

Que incita a Vida à base de carbono

A recriar-se em espanto e dimensão...
*


Ah, tudo em nós renasce ou se renova

E a cada instante a Vida é posta à prova,

Primeiro o choro, logo uma alegria,
*


E enquanto isto constacto e deixo expresso

No ciclo inacabado a que regresso,

"A noite foi passando e chega o DIA"
*


Maria João Brito de Sousa - 24.10.2021 - 10.50h
***

 

 

 

29
Jun21

NÃO SEI - Custódio Montes, Maria João Brito de Sousa e Helena Teresa Ruas Reis

Maria João Brito de Sousa

NÃO SEI.jpg

NÃO SEI
*

Coroa de Sonetos
*

Custódio Montes, Maria João Brito de Sousa e Helena Teresa Ruas Reis
***


1.
*
Não sei o que fazer…. o que farei ?

Divago lentamente ao som da avena

Escrevo o que sair da minha pena

E aquilo que escrever logo verei
*


Avanço linha a linha mas não sei

Se a peça que vier, trazida à cena

Será grande essa obra ou pequena

Para me envergonhar perante a grei
*


Não sei não sei não sei…vou escrever

E tu leitor amigo vais dizer

Depois de ver e ler com atenção
*


Se merece um aplauso este poema

Se só merece encomio pelo tema

Ou se nem vale dar opinião
*

Custódio Montes

27.6.2021
***


2.
*

"Ou se nem vale dar opinião",

Pergunta-me o poeta companheiro

Do verso que criado a tempo inteiro,

Traz no celeiro do seu coração.
*


E está pronto a glosar, que em profusão

Se vai multiplicando, bem ligeiro,

Épico às vezes, noutras mais brejeiro,

Mas jamais sem sentido e nunca em vão!
*


Não sente o tal "bichinho-carpinteiro"

Que sempre exige um verso e, feiticeiro,

Faz renascer o espanto e a paixão?
*


Estou certa de que o sente vir, certeiro,

Pedir verso que nasça do primeiro

E outro e mais outro... até à exaustão!
*

 

Maria João Brito de Sousa - 27.06.2021- 13.42h
***

3.
*

"E outro e mais outro... Até à exaustão!"

Porém, a exaustão não chega aqui.

Se há um que mal vê ou dói-lhe a mão,

Há outro que aparece qual escanção...
*


E saboreia assim o melhor bago,

Depois de já maduro para o dente.

Poeta só degusta, num afago,

Palavras que se escapam do que sente.
*


Na mesa de um café pus-me a teclar

Sorvi o dito cujo sem dar conta

Mas sei que o que paguei foi pouca monta.
*


Antes que uma razão me possa achar

Agora, sem rever o que escrevi,

Receio ver-me já sair daqui.
*

Helena Teresa Ruas Reis - 15.20h
***

4.
*

“Receio ver-me já sair daqui”

Não fuja amiga Ruas que é bem-vinda

Porque se eu não sabia bem ainda

O que ia escrever, agora vi
*


Porque este belo encontro tido aqui

É conjugar poesia bela e linda

E pôr os três autores na berlinda

E nela aqui estou, já a senti
*


Poema é mesmo assim, como cereja

Seguindo-se um ao outro em peleja

Combate sim mas só de amizade
*


Discute-se a palavra com certeza

Mas sendo alinhada com beleza

Com graça e também simplicidade
*

Custódio Montes

27.6.2021
***

5.
*

"Com graça e também simplicidade"

Não faltando o tempero do talento,

Os versos voam mais que o próprio vento

Que hoje açoita os telhados da cidade.
*


Em cada verso, um gesto de amizade

Vem galgar a distância, sempre atento,

Não vá algum de vós perder alento,

Ou eu, a habitual temeridade...
*


Um verso chama o outro que, ao ouvi-lo,

Corre para o soneto e faz aquilo

Que um verso melhor faz, quando liberto;
*


Se achar lugar no peito de um irmão,

Logo o abraçará num gesto são

Deixando, para os mais, um espaço aberto.
*

 

Maria João Brito de Sousa - 27.06.2021 - 19.05h
***

6.
*

“Deixando, para os mais, um espaço aberto”

Onde o talento possa prorromper

Sem nunca se cansar ou se perder,

Mesmo tendo passado pelo deserto.
*


Que há mãos e pensares na amizade

Para te retirar à inacção,

Levando a construir, na emoção,

Por laços fraternais e de vontade.

*

Um verso atento a outro e a outros chama.

A muda e calma voz que assim proclama

Só ouves no bater do coração…

*

Sonoro, dentro em ti porque palpita,

É vida, e se procria, Deus permita

Que seja sempre eterna a criação.

*

Helena Teresa Ruas Reis - 27/06/2021
***

7.
*

“Que seja sempre eterna criação”

E há-de ser pois nele há liberdade

E diz o que quiser e à vontade

Pois não tem o poema um travão
*


Diz o que quer e sempre com razão

Imagina e descreve a realidade

Escreve sobre o campo e a cidade

E cria um mundo novo em construção
*


E a gente lê o texto que se cria

Todo o seu conteúdo e fantasia

E acha graça e fica-se contente
*


E nesta criação e a inovar

O mundo ganha forma e outro andar

Com isso ganha muito toda a gente
*

Custódio Montes

27.6.2921
***

8.
*

"Com isso ganha muito toda a gente"

Porquanto esta arte a todos nos eleva

E não será apenas a quem escreva,

Pois quem o ler alegra-se igualmente
*


E aprende a sentir... pois quem não sente

Aquilo que um poema a ninguém nega?

Ah, todos nós sentimos esta entrega

Que o verso faz brotar, como semente.
*


Assim se multiplica a poesia

Como se uma infindável sinfonia

Fosse, de geração em geração,
*


Galvanizando toda a humanidade;

Reparem bem no verso que se evade,

Que voa e vem pousar nesta canção!
*


Maria João Brito de Sousa - 27.06.2021 - 22.07h
***


9.
*

“Que voa e vem pousar nesta canção”

Qual pássaro nos ramos do arvoredo,

Que esconde, no seu ninho, mais segredo

Que aquele que fez esta construção.

*

E as penas pequeninas a forrá-lo

De conforto e de amor bem maternal,

A terra feita em barro filial

Como argamassa forte a preservá-lo,

*

Nada são, comparand’ à fantasia

Que surge como nova melodia

Nas palavras que irrompem em registo.

*

Ficará sempre mais do que se escreve

Do que a frase ou o verso quase breve,

Riscos, rimas saídas de um rabisco.

*

Helena Teresa Ruas Reis - 28/06/2021
***
10.
*


“Riscos, rimas saídas de um rabisco”

Mas feito com a arte e a mestria

De quem olhando as coisas vê e cria

Como construção feita em obelisco
*


Palavra ornamentada posta em disco

Canção que integrada em sinfonia

Enche e engrandece a alma de alegria

E sabe tão bem como um petisco
*


Poemas que umas vezes divertidos

São outras bem mais sérios e sentidos

Com arte com destreza com glamor
*


Tem tudo a poesia é ingente

Tem graça, sentimento anima a gente

E é também ternura paz e amor
*

Custódio Montes

28.6.2021
***

11.
*

"E é também ternura paz e amor"

Isto que os nossos dedos vão criando

Enquanto os vamos, nós, (des)comandando,

Já que ninguém comanda um verso em flor
*


Que voa como o vento e, ao seu sabor,

Pode ser ora forte, ora tão brando

Quanto o que a poesia for ditando

E conseguirmos, nós, depois compor...
*


Então, por um momento, o tempo pára

Para dar tempo ao verso que dispara

Como uma flecha rumo ao ponto exacto
*


Em que outro verso o espera e, sem saber,

Sabe contudo como o preencher,

Concretizando o que antes fora abstracto.
*

 

Maria João Brito de Sousa - 28.06.2021 - 14.08h
***

12.

*

“Concretizando o que antes fora abstracto”,

Há coisas que a poesia nos ensina

Por vezes, não fosse ela feminina,

Tem um sexto sentido imenso e lato.

*

E vem assim amena, p’la tardinha

Na hora de uma sesta disfarçada

Em sonho bem real, duma assentada,

Trar-te-á a cor-de-rosa numa linha.

*

Tal linha contornada a ponto flor

Borda tudo a seu jeito e com amor

Remata esse bordado à perfeição.

*

Artífices dos bilros, finas rendas,

Desejo de um artista é que aprendas

E que nunca se canse a tua mão!

*

Helena Teresa Ruas Reis - 27/06/2021
***
13.
*

“E que nunca se canse a tua mão”

Mão sem género não só feminina

Masculino o poema e que rima

Da poesia gémeo e seu irmão
*


Macho e fêmea a mesma condição

O poeta é assim que nos ensina

E não temos que sair dessa doutrina

Que une e agiganta o coração
*


Mas mais “não sei” agora o que dizer

O pensamento está-me a esmorecer

E vou deixar que outrem esclareça
*


Talvez eu já não veja ao redor

E quem venha a seguir veja melhor

Dando a opinião que lhe pareça
*

Custódio Montes

28.6.2021
***

14.
*

"Dando a opinião que lhe pareça"

Mais própria deste tema e do momento,

Chega o próximo verso muito atento

(que um verso sempre cumpre uma promessa!)
*


Isto vos comunica e vos confessa

O verso - ora em sorriso, ora em lamento -

Que ainda que fervilhe em sentimento,

É fiel à harmonia que professa.
*


E agora que está quase a terminar

O soneto que assim o fez cantar

Bem mais alto e melhor do que eu sonhei,
*


Não pára o verso de me pressionar

E a cada instante vem-me perguntar;

"Não sei o que fazer... o que farei?"
*

 

Maria João Brito de Sousa - 28.06.2021 - 18.42h
***

 

(Reservados os Direitos de Autor)

 

 

 

 

17
Jun21

SEM ÁGUA - CUSTÓDIO MONTES E MARIA JOÃO BRITO DE SOUSA

Maria João Brito de Sousa

SEM ÁGUA.jpg

SEM ÁGUA
*
Coroa de Sonetos
*
Custódio Montes e Maria João Brito de Sousa
***

1.
*
Sem água não há vida não há nada

Água pura de rio a correr

De fonte cristalina a nascer

Da serra altaneira iluminada
*


Freáticos lençóis de água filtrada

Reserva de nascentes e do ser

Que dessenta quem nelas vai beber

Irriga o campo e a horta cultivada
*


Ri-se a flor com as chuvas a cair

A papoila regada e a florir

No jardim anda a abelha divertida
*


Os rapazes no lago a brincar

A gente na cozinha a cozinhar

Água pura ….sem ela não há vida
*

Custódio Montes

15.6.2021
***

2.
*

"Água pura... sem ela não há vida"

Sobre o planeta azul em que nascemos;

Barcos tristes sem velas e sem remos,

Nem porto de chegada ou de partida,
*


São tão inúteis quanto a despedida

De algo que nunca vimos nem tivemos...

Nós que existimos, dessa água viemos,

Sopa primordial, berço e guarida
*


Daquilo que antes fomos, sem sabê-lo;

Qualquer pocinha d`água era um castelo

Prós nossos diminutos ancestrais
*


E aí fomos crescendo, evoluindo,

Multiplicando enquanto dividindo

Esse líquido, informe e velho cais.
*


Maria João Brito de Sousa - 15.06.2021 - 14.36h
***

3.
*

“Esse líquido, informe e velho cais”

Que bom querida amiga em responder

Assim podemos nós desenvolver

O tema e falarmos muito mais
*


A água não faz mal aos animais

Que, mesmo impura, podem-na beber

O homem não que para o fazer

Só pura sem resíduos fecais
*


Mas esta nossa gente do governo

Vai buscar argumentos ao inferno

Para poluir a água que nós temos
*

 

Em nome de negócios de milhões

Prejudicando a gente e regiões

E sem água nós não sobrevivemos
*

Custódio Montes

15.6.2021
***

4.
*

"E sem água nós não sobrevivemos"

Por mais que um dia ou dois, é bem sabido,

Mas o imperialismo empedernido

Pouco se importa desde que paguemos
*


Cada gotinha de água que bebemos

Antes de sede termos nós morrido...

Mas isto não fará qualquer sentido

Para quem não veja aquilo que nós vemos
*


Nem vislumbre o fascismo a renascer

Gritando por justiça pra esconder

A crueza que move os seus sequazes
*


E há lobos que de ovelhas mascarados

Juram vir defender os desgraçados

Que esmagarão depois como a torcases.
*

 

Maria João Brito de Sousa - 15.06.2021 - 20.42h

***

5.
*

“Que esmagarão depois como a torcazes.”

E dizem defender a nossa terra

Mas só produzem mal e causam guerra

Ocultos através de capatazes
*

 

Fazem-no lentamente só por fases

Mentindo no valor que o chão encerra

Esventram-nos as águas e a serra

Com loa mentirosa e lindas frases
*


Na minha terra há água nas barragens

Freáticos lencóis lindas paisagens

Campos verdes giestas a florir
*


Em vez de primavera é o inverno

Que augura para aqui este governo

Com lamas para a água poluir
*

Custódio Montes
*

15.6.2021
*

6.
*
"Com lamas para a água poluir"

E as eternas prebendas à mistura,

Em vez de termos água fresca e pura,

Vemos marés de espuma a confluir
*


Num rio que ninguém pode garantir

Ser benesse presente... nem futura!

Ah, pobre rio coberto da loucura

De quem nunca hesitou em destruir
*


O que ao povo pertence por direito

E, desprezando as águas do teu leito,

Te enlameia, conspurca e abandona
*


Como se foras coisa descartável...

E tu que todo foste água potável

Trazes agora espuma e lodo à tona.
*


Maria João Brito de Sousa - 16.06.2921 - 09.05h
***
7.
*

“Trazes agora espuma e lodo à tona”

E os caciques em grupo a conversar

Com esses maiorais a escavar

As fontes e à volta dessa zona
*


Sem juízo sem tino e sem mona

Só pensam no seu bolso acumular

Aquilo que é do povo e a tirar

O que é da natureza, sua dona
*


Há já guerras por água disputadas

Não se bebem as águas salgadas

Evaporam-se e vão para a natura
*


Cai no solo e depura-se ao chover

E ninguém deve andar a desfazer

Este modo de termos água pura
*

Custódio Montes

16.6.2021
***

8.
*

"Este modo de termos água pura"

Cuja viab`lidade é garantida,

Deve ser respeitado para a vida

Porque é vida, afinal, o que assegura,
*


Mas quando a própria chuva se satura

De enxofres e de azotos, poluída,

Decerto há que encontrar uma saída

Ou essa mesma vida pouco dura...
*


Sem água não há vida, é ponto assente,

E o que é essencial a toda a gente

Tem de, por todos, ser salvaguardado.
*


Poupá-la é importante, mas não basta

E sendo um bem que toda gente gasta,

Justo é que a todos seja assegurado.
*

 

Maria João Brito de Sousa - 16.06.2021 - 18.20h
***

9.
*

“Justo é que a todos seja assegurado”

Não se deve ceder à economia

A pureza da água na sangria

De ver o monte inteiro esburacado
*


Com tiros e veneno infiltrado

E não termos a água dia a dia

A correr como a gente dantes via

Com o cheiro e sabor purificado
*

O homem deve ser um zelador

Do bem comum, do ar exterior

Da água e dos bens que se consomem
*


Nós somos passageiros nesta vida

Nossos actos que dêem guarida

Ao futuro do bem de todo o homem
*

Custódio Montes

16.6.2021
***

10.
*

"Ao futuro do bem de todo o homem"

Deve esse mesmo Homem estar atento

E deve garantir quanto é sustento

Da pureza da água que consomem
*


Antes que outros int`resses a transformem

Num bem que em vez de puro é virulento

E acabe o pobre por morrer sedento

Das águas que eram suas mas se somem
*


Nas mãos da meia dúzia que as controlam;

Neste mundo há cobiças que desolam

E contra as quais teremos de lutar.
*


Quem poderá ficar indiferente

A esta distorção do meio ambiente

Sem mesmo erguer um dedo pró salvar?
*

 

Maria João Brito de Sousa - 17.06.2021 - 09.30h
***

11.
*

“Sem mesmo erguer um dedo pró salvar”

Ministros há que não deviam ser

Eles sem mais ninguém a escolher

O que em cada local ir minerar
*


Deviam os peritos consultar

O modo, as pessoas, o viver

E o maior cuidado também ter

Com a água e não a conspurcar
*


Potável pouca existe pelos canos

E a salgada vem dos oceanos

Com tantos barcos lá a ir e vir
*


Ora a pouca que temos que é potável

Devia resguardá-la o responsável

E não a conspurcar e poluir
*

Custódio Montes


17.6.2021
***

12.
*

"E não a conspurcar e poluir",

Nem deixá-la à mercê dos insensatos

Peritos nos maiores dos desacatos

Que já vieram e que estão por vir...
*


Da responsab`lidade, não fugir

Tal como dos naufrágios fogem ratos,

Ter a coragem de enfrentar os factos

E a capacidade de assumir
*


A gestão desse bem essencial

Que a todos cabe e deve, por igual,

Por cada um de nós ser partilhada.
*


Sim, há que defender a natureza

Dessa insensata predação burguesa

Que a tenta reduzir a... tudo e nada!
*

 

Maria João Brito de Sousa - 17.06.2021 - 11.37h
***

13.
*

“Que a tenta reduzir a tudo e nada”

E, claro, aproveitar-se do minério

Por modo esquisito e não sério

Com gente pelos media enganada
*


Com o monte a a serra profanada

A céu aberto la vai o desidério

Por culpa do governo e ministério

Com a água, que é vida, conspurcada
*

Lutemos com a força que pudermos

Por forma a impedir que nestes termos

Se poluam as fontes e os ribeiros
*


A água deve andar no coração

Assim de geração em geração

Porque é nossa e também é dos herdeiros
*

Custódio Montes

17.6.2021
***

14.
*

"Porque é nossa e também é dos herdeiros"

Daquilo que nós fomos construindo,

Deve essa água ser recurso infindo

Que se renova em ciclos de aguaceiros.
*


Se os prepotentes, como arruaceiros,

Tentarem subverter o que é tão lindo,

Saibamos nós mostrar não ser bem-vindo

O disfarce que envergam, de "aguadeiros",
*


Para esconder a pura realidade

Que os torna geradores de insanidade

E predadores furtivos na caçada
*

 

Que roubam, que conspurcam, que nos mentem...

Mas por mais falsidades que eles inventem,

"Sem água não há vida não há nada"!
*

 

Maria João Brito de Sousa - 17.06.2021 - 13.25h
***

 

*

RESERVADOS OS DIREITOS DE AUTOR

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

08
Out20

COROA DE SONETOS

Maria João Brito de Sousa

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CHAMAR A MUSA
*
- Coroa de Sonetos -
*

Maria João Brito de Sousa e Custódio Montes
*

1
*

Onde estás tu, ó Musa por quem nutro

Tanto respeito e tal cumplicidade?

Não te procuro mais porque, em verdade,

Sei que ressurgirás num verso abrupto,
*

Pois num só verso guardas o produto

Do verbo (in)conjugado que me invade;

Passeias-te nas ruas da cidade

Que em tempos idos foi o meu reduto?
*

Por ti nunca desci da luta ao luto,

Contigo fui poeta sem idade,

Em ti depositei a flor, o fruto,
*

E a semente gestada em castidade;

És aquela que sou, em estado bruto,

E terra e mar e sonho e realidade!
*

Maria João Brito de Sousa - 06.10.2020 - 13.31

**
2
*

“E terra e mar e sonho e realidade”

E tudo é a musa: descuidada

Aérea, flor singela e amizade

Também inspiração orientada
*

A musa não tem mãos e é calada

E, claro, só se sente na verdade

Quando traz ao ouvido a charada

Confusa mas com plena eternidade
*

Poeta só quem tem habilidade

E tem inspiração e alma alada

E tem dentro de si acuidade
*

Escuta-se o acorde e a balada

A musa anda aí pela cidade

E anda nos seus versos espelhada
*

Custódio Montes

(6.10.2020)

**

3

*

"E anda nos seus versos espelhada"

Como se irmã lhe fora... e siamesa!

Juíza sábia, jovem camponesa

Cuidando da colheita ameaçada,
*

Tecedeira imparável, mas cansada,

Dona de casa, mulher da limpeza,

Mãe que chama os seus filhos para a mesa

Se fez um prato que a todos agrada...
*

Ah, quantas musas cabem nesta Musa?

Quantas vidas viveu, por onde andou

Esta que tão dif`rentes capas usa
*

E vai cantando as capas que envergou?

A esta, que hoje assim se me recusa,

Devo mais que a ninguém isto que sou.
*

Maria João Brito de Sousa - 06.10.2020 - 17.35h
**


4
*

"Devo mais que a ninguém isto que sou."

A musa é apenas feminina ?

Então bem arrumado eu estou

Que não posso acorrer a essa mina
*


As tarefas que aí enumerou

Retiram-me a graça bem como a sina

De poder versejar e acabou

Com a inspiração que não atina
*

Talvez não: cada um puxa a seu lado

Aquilo que mais quer e mais deseja

E dizer-se sem musa é engraçado
*

Mas sempre que uma ideia se verseja

Deve ter-se a cautela e o cuidado

De não meter a musa na peleja
*

Custódio Montes

(6.10.2020)

**

5
*

"De não meter a musa na peleja"

Não vejo forma nem encontro jeito

Se tem, a C`roa, título escorreito

E cada verso o título coteja...
*

Posso, porém, fazer como deseja

E passará um muso a ser sujeito

Desta conversa em soneto perfeito;

Agora que está dito, que assim seja!
*

Juíz ou lavrador ou engenheiro

Ou, como Aleixo, génio popular

E grandioso poeta-cauteleiro,
*

Médico, pasteleiro, homem do mar,

Caixeiro-viajante ou empreiteiro...

Não sei que encargos deva ao muso dar!
*


Maria João Brito de Sousa - 06.10.2020 - 19.18h

**

6
*

Não sei que encargos deva ao muso dar

Amiga tem piada neste evento

Fartou-se de sorrir e de gozar

Mostrando a sua garra e talento
*

Mas tenho agora mesmo que lembrar

Que um muso, a existir, neste momento,

Não fica a si sujeito ... que mandar

Manda ele e inspira o pensamento
*

Já vi que ao dizer que não tem musa

Não é verdade é uma imprecisão

Queria antes dizer que a tem reclusa
*

E fazer assim dela mangação

Porque se manda nela ela é obtusa

Que musa é musa mesmo, inspiração
*

Custódio Montes

(6.10.2020)
**

7
*

"Que musa é musa mesmo, inspiração"

Que só inspira aquilo que ela entende,

Que nos sopra ao ouvido e que nos prende

Pois toda ela é pura sedução...
*

Digo, porém, que não tive intenção

De brincar tanto quanto disto impende

E penso que, decerto, compreende

Que foi espontânea a minha reacção

*
E é bem verdade que me tem fugido

A musa, minha eterna companheira,

A guardadora do verso perdido
*

Que desde sempre orbita à minha beira;

Ah, nunca percas, Musa, o teu sentido

Pois sozinha não venço esta quebreira!
*


Maria João Brito de Sousa - 07.10.2020 - 10.53h

**

8
*


"Pois sozinha não venço esta quebreira"

Claro que há-de vencer tenho a certeza

Que a gente quando pensa e quando queira

Acaba por vencer a tibieza
*

É preciso acabar com a tristeza

Que mais não é que uma maluqueira

É.bom pensarmos antes na grandeza

Que nos traz um poema à nossa beira
*

Compõe-se uma quimera a alcançar

Rodeia-se de estrelas luminosas

Envolve-se com flores a ondear
*

Conjunto de harmonias glamorosas

De encanto que nos levam a sonhar

E fica-nos à volta um cheiro a rosas
*

Custódio Montes

(7.10.2020)

**

9
*

"E fica-nos à volta um cheiro a rosas"

E a cravos vermelhos e alfazema

Que sempre emana de qualquer poema

Composto em notas muito harmoniosas
*

Porém, num dia cardos, noutro prosas, (1

Que sempre engendra a vida algum dilema

E bastas vezes disso faz emblema

Criando as situações mais dolorosas...
*

Enquanto o tempo nos não cicatriza

A chaga de uma dor que era escusada,

Foge uma musa à sua poetisa,
*

E fica a poetisa desolada

Ao ver que o verso das mãos lhe desliza

Para cair no chão desfeito em nada.
*


Maria João Brito de Sousa - 07.10.2020 - 17.43h

*

1) Referência a um poema de Miguel Esteves Cardoso cantado por Manuela Moura Guedes

**

10
*

"Para cair no chão desfeito em nada."

Mas isso é do desgosto que se sente

Da vida que parece atribulada

Por coisa que aparece de repente
*


Mas o poema fica e a dor passada

Voltamos a reler e ao vê-lo à frente

Não nos lembra a tristeza acorrentada

Ao desgosto que teve então a gente
*

Escreve-se o que a alma nos aponta

Quer quando haja tristeza ou alegria

O estado bem se nota mas não conta
*

A quem lê ou escreve poesia

Quem a lê vê apenas uma ponta

Quem a escreve anda nela dia a dia
*

Custódio Montes

(7.10.2020)

**

11
*

"Quem a escreve anda nela dia a dia"

Como quem desenrola um fio que finda,

Sem saber quanto tempo falta ainda

Para findar-se o fio de quem o fia...
*

Mas tudo tem seu tempo e a alegria

A seu tempo ressurge... e como é linda,

E com que f`licidade ela nos brinda

Com coisas que só ela engendra e cria!
*

Pra ela há espaço... e também prá tristeza

Que bate à porta de todas as vidas

E, ora de manso, ora com rudeza
*

Nos mostra que apesar de haver saídas,

Há que assumir com toda a singeleza

Todas as emoções por nós sentidas.
*


Maria João Brito de Sousa - 07.10.2020 - 19.49h

**

12
*

"Todas as emoções por nós sentidas"

Boas e más mas sempre diferentes

Originais vivências acrescidas

Que ora nos fazem tristes ou contentes
*

Então vive o poeta várias vidas

E em cada uma delas frequentes

Luzes e emoções que assim vividas

Nos trazem versos lindos e excelentes
*

Que a musa a inspire e lhe dê graça

Ou mesmo com a musa adormecida

Escreva seus poemas e nos faça
*

Sentir as emoções na nossa vida

Esquecendo a amargura que nos passa

E queremos bem longe e esquecida
*

Custódio Montes

(7.10.2020)
**

13
*

"E queremos bem longe e esquecida"

Essa memória ainda tão recente

Que me roubou a Musa, essa eloquente

Guardadora dos versos sem guarida.
*

Voltou, porém, de versos guarnecida

E pronta pra cantar, como é corrente

Que as musas façam quando encontram gente

Disposta a encarar de frente a vida
*

Mas se as tristezas tiver que calar

E me mostrar alegre quando triste,

Sei que traio o que entendo por criar...
*

Garanto; não vos quero amargurar

Mas posso lá esconder que a dor existe

Se a dor nalgum momento me esmagar?

*

Maria João Brito de Sousa - 07.10.2020 - 21.57h
*


14
*

"Se a dor nalgum momento me esmagar"

Eu hei-de resistir que a resistência

É bom remédio, pode-nos salvar

Se nós tivermos garra e paciência
*

A gente pode às vezes fraquejar

Mas se lançarmos mão dessa valência

Que dentro de nós temos a morar

Havemos de encontrar resiliência
*

Nessas alturas vem querida musa

Agarra-te ao meu peito impoluto

Mas que à felicidade se recusa
*

Sê minha conselheira, dá-me o fruto

Para eu te adorar como uma deusa

“Onde estás tu ó musa em quem (me) nutro”?
*
Custódio Montes

(7.10.2020)

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