CONVERSANDO COM SÁ DE MIRANDA - III
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QUE FAREI QUANDO TUDO ARDE?
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*
Desarrezoado amor, dentro em meu peito,
tem guerra com a razão. Amor, que jaz
i já de muitos dias, manda e faz
tudo o que quer, a torto e a direito.
*
Não espera razões, tudo é despeito,
tudo soberba e força; faz, desfaz,
sem respeito nenhum; e quando em paz
cuidais que sois, então tudo é desfeito.
*
Doutra parte, a Razão tempos espia,
espia ocasiões de tarde em tarde,
que ajunta o tempo; enfim vem o seu dia:
*
Então não tem lugar certo onde aguarde
Amor; trata traições, que não confia
nem dos seus. Que farei quando tudo arde?
*
Sá de Miranda
in 'Antologia Poética'
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QUE MAIS PRETENDES TU, SE TUDO ARDE?
*
Sempre que em chamas arde este meu peito,
É certo que um poema irá nascer
Qual cavalo de fogo a percorrer
Um novo espaço que eu tão só aceito
*
Da razão não me aparto e estou sujeito
À tentação de nela me perder
Se acaso o fogo não parar de arder
E eu me consumir nesse ígneo leito
*
Mas Amor e Razão vivem em paz,
Jamais os vi, sequer, fazer alarde
E qualquer um dos dois é bem capaz
*
De ao parceiro pedir que se resguarde
Enquanto indaga a chama mais voraz:
- Que mais pretendes tu, se tudo arde?
*
Mª João Brito de Sousa
03.01.2025 - 22.00h
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