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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
09
Mar24

CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XX

Maria João Brito de Sousa

sentada nas nuvens pint.jpg

Imagem Pinterest

*

CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XX
*

VÓS QUE, DE OLHOS SUAVES E SERENOS

*


Vós que, de olhos suaves e serenos,

com justa causa a vida cativais,

e que os outros cuidados condenais

por indevidos, baixos e pequenos;
*


Se ainda do Amor domésticos venenos

nunca provastes, quero que saibais

que é tanto mais o amor despois que amais,

quanto são mais as causas de ser menos.
*


E não cuide ninguém que algum defeito,

quando na cousa amada se apresenta,

possa deminuir o amor perfeito;
*


Antes o dobra mais; e se atormenta,

pouco e pouco o desculpa o brando peito;

que Amor com seus contrairos se acrescenta.
*


Luíz de Camões
*


Se Amor com seus contrairos se acrescenta

A si mesmo contrairo Amor será:

Nunca em si mesmo Amor se encontrará

Se em buscar-se a mesmo se contenta
*


Tão mais de si diverge quão mais tenta

Achar-se, por inteiro, onde não está:

Quão mais sincero, mais perjurará

Se assim, de seus contrairos, se sustenta...
*


Ah, que não cuide Amor de ser Perfeito,

Pois se achará contrairo à perfeição

A que não teve nem terá direito:
*


Que humana seja a sua condição,

Que a Amor que d`outrem venha renda preito

E não sucumba Amor, morta a Paixão!
*

 


Mª João Brito de Sousa

07.03.2024 - 11.00h
***

O soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita

07
Mar24

CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XIX

Maria João Brito de Sousa

aónio (1).jpg

Imagem Pinterest

*

CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XIX
*

 

O CÉU, A TERRA, O VENTO SOSSEGADO

*


O céu, a terra, o vento sossegado…

As ondas, que se estendem pela areia…

Os peixes, que no mar o sono enfreia…

O nocturno silêncio repousado…
*


O pescador Aónio, que, deitado

onde co vento a água se meneia,

chorando, o nome amado em vão nomeia,

que não pode ser mais que nomeado:
*


Ondas (dezia), antes que Amor me mate,

torna-me a minha Ninfa, que tão cedo

me fizestes à morte estar sujeita.
*


Ninguém lhe fala; o mar de longe bate;

move-se brandamente o arvoredo;

leva-lhe o vento a voz, que ao vento deita.
*


Luíz de Camões
***


Mas de repente o vento a voz devolve

Num tom que é o da voz da sua amada:

Ergue-se Aónio que não vendo nada

No mar chorado inteiro se dissolve
*


De novo a voz... E no sal que o envolve

Julga rever a face delicada

Dessa que pelo mar fora tragada:

A culpa tanta, dor alguma a absolve!
*


Quão mais o vento intenta consolá-lo,

Mais sofre Aónio, o pobre pescador

Que mais no mar perdeu do que ganhou
*


Cala-te vento, estás a torturá-lo!

Não vês que o enlouquecem pranto e dor

Quando emulas a Ninfa que ele amou?
*

 

Mª João Brito de Sousa

06.03.2024 - 15.50h
***

O soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita

 

 

06
Mar24

CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XVIII

Maria João Brito de Sousa

Liso e Ninfa Pint (1).jpg

Imagem Pinterest

*

CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XVIII
*

 

TODO ANIMAL DA CALMA REPOUSAVA

*


Todo animal da calma repousava,

Só Liso o ardor dela não sentia:

Que o repouso do fogo, em que ele ardia,

Consistia na Ninfa que buscava.
*


Os montes parecia que abalava

O triste som das mágoas que dizia:

Mas nada o duro peito comovia,

Que na vontade de outro posto estava.
*


Cansado já de andar pela espessura,

No tronco de uma faia, por lembrança

Escreve estas palavras de tristeza:
*


Nunca ponha ninguém sua esperança

Em peito feminil, que de natura

Somente em ser mudável tem firmeza.
*


Luíz de Camões
***


(Natércia, confrontando Liso)
*


Se prometi mostrar-me, aqui me vedes

Que o que prometo cumpro. Não ouseis

Escrever sobre quem sou quanto escreveis

Que irada me vereis se em mim não credes!
*


Em outro quis matar as minhas sedes

- bem mais as sedes podem do que as leis -

Não mas matou! Se vós mas matareis,

Nem vós sabeis... Talvez se mas beberdes...
*


Vedes a rosa aberta em meu jardim?

Senti, tocai-lhe o róseo gineceu

E entrai, Liso, matai a sede em mim
*


Que quão mais o tentais, mais gozo eu!

Ai, Liso, a minha sede não tem fim...

Parai, Liso, parai que já morreu!
*

 

Mª João Brito de Sousa

05.03.2024 - 13.00h
***

O soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita

 

03
Mar24

CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XVI

Maria João Brito de Sousa

pena pinterest (1).jpg

Imagem Pinterest

*

CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XVI
*

QUE PODE JÁ FAZER MINHA VENTURA

*

 

Que pode já fazer minha ventura

que seja para meu contentamento,

Ou como fazer devo fundamento

de cousa que o não tem, nem é segura?
*


Que pena pode ser tão certa e dura

que possa ser maior que meu tormento?

Ou como receará meu pensamento

os males, se com eles mais se apura?
*

 

Como quem se costuma de pequeno

com peçonha criar por mão ciente,

da qual o uso já o tem seguro;
*


Assi de acostumado co veneno,

o uso de sofrer meu mal presente

me faz não sentir já nada o futuro.
*


Luíz de Camões
***


Deixai, Senhor, que sobre mim vos fale

De desventura tanta, tal veneno,

Que o vosso mal pareça ser pequeno

Face a tão dura pena e tanto mal.
*


Não credes no que digo? Achais venal

Tal infortúnio? Credes que o enceno

Pra que pareça o vosso mais ameno,

Mais comum do que o meu, mais trivial?
*


Não me tomeis, Senhor, por mentirosa,

Nem por santa, vos peço, me tomeis:

Se santa, as calaria suspirosa,
*


Se falsa, as contaria a grandes reis...

Ouvi-me pois, Senhor, que aguardo ansiosa

Que, mais do que por vós, por mim peneis!
*


Mª João Brito de Sousa

03.03.2024 - 10.50h
***

 

O soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita

 

 

 

02
Mar24

CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XV

Maria João Brito de Sousa

papoila menina pinterest (1).jpg

CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XV

*

AQUEIA FERA HUMANA QUE ENRIQUECE
*


Aquela fera humana que enriquece

A sua presunçosa tirania

Destas minhas entranhas, onde cria

Amor um mal que falta quando cresce;
*


Se nela o Céu mostrou (como parece)

Quanto mostrar ao mundo pretendia,

Porque de minha vida se injuria?

Porque de minha morte se enobrece?
*


Ora, enfim, sublimai vossa vitória,

Senhora, com vencer-me e cativar-me;

Fazei dela no mundo larga história.
*


Pois, por mais que vos veja atormentar-me,

Já me fico logrando desta glória

De ver que tendes tanta de matar-me.
*


Luíz de Camões
***

 

Matar-vos, eu? Disso tirar prazer

Como se fôreis monstro e, abatido,

Orgulho e glória me houvesse trazido

Ver-vos no chão, sem vida, a apodrecer?
*


Que loucuras dizeis, só por dizer?

Se amor houvesse em quanto haveis sentido,

A Amor abraçaríeis já rendido

Em vez de enfurecido o combater!
*


Se cativo estivésseis de quem sou,

Dócil vos mostraríeis noite e dia,

Não mais me exigiríeis do que dou...
*


Não, nunca o meu amor vos cativou!

Vociferai, então! O que vos guia

Se um dia abriu em flor, hoje murchou!
*

 

Mª João Brito de Sousa

02.03.2024 - 10.45h
***

 

O soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita

01
Mar24

CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XIV

Maria João Brito de Sousa

1972 (1).jpg

Eu, fotografada por Abel Simões

 

DOS ILUSTRES ANTIGOS QUE DEIXARAM

*

Dos ilustres antigos que deixaram

tal nome, que igualou fama à memória,

ficou por luz do tempo a larga história

dos feitos em que mais se assinalaram.
*


Se se com cousas destes cotejaram

mil vossas, cada üa tão notória,

vencera a menor delas a mor glória

que eles em tantos anos alcançaram.
*


A glória sua foi; ninguém lha tome.

Seguindo cada um vários caminhos,

estátuas levantando no seu Templo.
*


Vós, honra portuguesa e dos Coutinhos

ilustre Dom João, com melhor nome

a vós encheis de glória e a nós de exemplo.
*


Luíz de Camões

***


Joões conheço alguns, mas Dom não têm

Senão os dons que a todos nós, humanos,

Vão cabendo à nascença e esperam anos

Até que um dia em chamas se incendeiem...
*


Coutinhos não conheço. Se provêm,

Ou não, dos mais ilustres dos decanos,

Não sei, Senhor... Ledos são meus enganos

E frágeis as memórias que os retêm.
*


Nestas vénias da verve não sou forte:

Admiro os nobres de uma outra nobreza,

Uma em que eu creio, nunca esta do porte
*


De quem tem servos pra servi-lo à mesa,

Corcéis de pura raça por transporte

E botins importados de Veneza.
*

 

Mª João Brito de Sousa

01.03.2024 - 13.00h
***

 

O soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita

28
Fev24

CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XII

Maria João Brito de Sousa

SNOWHITE (1).jpeg

Imagem fotografada de um velho calendário meu

*

 

CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XII
*

 

POIS MEUS OLHOS NÃO DEIXAM DE CHORAR

*


Pois meus olhos não cansam de chorar

Tristezas não cansadas de cansar-me;

Pois não se abranda o fogo em que abrasar-me

Pôde quem eu jamais pude abrandar;
*


Não canse o cego Amor de me guiar

Donde nunca de lá possa tornar-me;

Nem deixe o mundo todo de escutar-me,

Enquanto a fraca voz me não deixar.
*


E se em montes, em prados, e em vales

Piedade ainda mora e vive Amor

Em feras, plantas, aves, pedras, águas;
*


Ouçam a longa história de meus males,

E curem sua dor com minha dor;

Que grandes mágoas podem curar mágoas.
*

 

Luiz de Camões
***


E credes, meu Senhor, que a dor imensa

Curada possa ser por dor igual,

Ou que juntando um mal a outro mal

Possa sanar-se a dor? Que recompensa
*


Poderá receber quem assim pensa?

Se sofre o sofredor, de que lhe vale

Multiplicar-lhe a dor juntando sal

A gangrena que a si lhe não pertença?
*


Mas se, como dizeis, vos ouve o mundo,

Se há realmente amor em planta e besta

Ou nas águas do poço mais profundo
*


Segui-me! Amordaçai a voz funesta

Que vos condena à dor cada segundo,

E vinde contemplar a vida em festa!
*

 

Mª João Brito de Sousa

28.02.2024 - 11.15h
***

O soneto de Camões foi retirado do blog Sociedade Perfeita

25
Fev24

CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XI

Maria João Brito de Sousa

camões xi pint.jpg

Imagem Pinterest

*

CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO XI
*

 

QUANDO CUIDO NO TEMPO QUE, CONTENTE...

*


Quando cuido no tempo que, contente,

vi as pérolas, neve, rosa e ouro,

como quem vê por sonhos um tesouro,

parece tenho tudo aqui presente.
*


Mas tanto que se passa este acidente,

e vejo o quão distante de vós mouro,

temo quanto imagino por agouro,

porque d’imaginar também me ausente.
*


Já foram dias em que por ventura

vos vi, Senhora (se, assi dizendo, posso

co coração seguro estar sem medo);
*


Agora, em tanto mal não mo assegura

a própria fantasia e nojo vosso:

eu não posso entender este segredo!
*

 

Luíz de Camões
***


Não cuideis tanto de tudo entender

que, às vezes, pode mais quem não sabendo

intui apenas sem ficar sofrendo

aquilo que dizeis estar a sofrer...
*

 

Porém... que digo eu, se sou mulher,

de nojo recoberta e, não vos vendo,

às lágrimas me entrego e só atendo

a quem, de vós, notícias me trouxer?
*


Haveis podido agora perceber-me?

Isto que sofro nunca foi segredo

muito embora teimeis em desdizer-me
*


E, sim, de vos perder me perde o medo:

Enquanto não voltardes, só render-me

me resta ao enfrentar um tal degredo.
*

 

Mª João Brito de Sousa

25.02.2024 - 11.50h
***

 

O soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita

 

24
Fev24

CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO X

Maria João Brito de Sousa

camões x (1).jpg

Imagem Pinterest

*

CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO X
*

 

SE DE VOSSO FERMOSO E LINDO GESTO

*

 

Se de vosso fermoso e lindo gesto

nasceram lindas flores para os olhos,

que para o peito são duros abrolhos,

em mim se vê mui claro e manifesto:
*

 

pois vossa fermosura e vulto honesto

em os ver, de boninas vi mil molhos;

mas se meu coração tivera antolhos,

não vira em vós seu dano o mal funesto.
*

 

Um mal visto por bem, um bem tristonho,

que me traz elevado o pensamento

em mil, porém diversas, fantasias,
*

 

nas quais eu sempre ando, e sempre sonho;

e vós não cuidais mais que em meu tormento,

em que fundais as vossas alegrias.
*


Luíz de Camões
***


Cuidais que de tormentos cuido apenas?

Bem enganado estais! Cuidai então

De não voltar a dar-me um tal sermão

Ou muito aumentarão as vossas penas
*

 

As que afirmais não serem tão pequenas

Que às fantasias não derrubem, não...

E chamais-me funesta? Maldição!

Mais mentiroso sois do que as hienas!
*


Ide com vossas loucas fantasias

E vossos elevados pensamentos,

Mas deixai-me sozinha! Ide veloz
*


Que não me cabe a mim achar as vias

Pr`ó mal de que sofreis: vossos tormentos

São tudo o que engendrais se estais a sós!
*

 

Mª João Brito de Sousa

24.2.2024 - 15.00h
***

 

O Soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita

23
Fev24

CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO IX

Maria João Brito de Sousa

baleia voadora pinterest (1).jpg

Imagem Pinterest

*

CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO IX
*

 

NUNCA EM AMOR DANOU O ATREVIMENTO

*

Nunca em amor danou o atrevimento;

Favorece a Fortuna a ousadia;

Porque sempre a encolhida cobardia

De pedra serve ao livre pensamento.
*


Quem se eleva ao sublime Firmamento,

A Estrela nele encontra que lhe é guia;

Que o bem que encerra em si a fantasia,

São umas ilusões que leva o vento.
*


Abrir-se devem passos à ventura;

Sem si próprio ninguém será ditoso;

Os princípios somente a Sorte os move
*.


Atrever-se é valor e não loucura;

Perderá por cobarde o venturoso

Que vos vê, se os temores não remove.
*


Luiz de Camões

***

Removei, pois, Senhor, vosso temor:

Se me atrevo a convosco conversar

Não posso ao vosso tempo recuar

Mas sempre terei dado o meu melhor
*


Atrevida serei, mas... por favor,

Vede bem que tentei não macular

O verso heroico puro e exemplar,

Em que vos expressais, Mestre e Senhor.
*


Não sei se a vossa estrela alcançarei

Nem se ouvireis aquilo que vos digo,

Mas posso-vos jurar que o tentarei
*


E ainda que tentá-lo seja um p`rigo,

A esse p`rigo nunca o temerei

Se em vós, Senhor, achar um bom amigo
*

 

Mª João Brito de Sousa

23.02.2024 - 11.50h
***

 

O soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita

 

22
Fev24

CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁIO VIII

Maria João Brito de Sousa

menina com pombas pinterest.jpg

Imagem Pinterest

*

 

CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÀRIO VIII
*

 

PENSAMENTOS, QUE AGORA NOVAMENTE

*


Pensamentos, que agora novamente

cuidados vãos em mim ressuscitais,

dizei me: ainda não vos contentais

de terdes, quem vos tem, tão descontente?
*


Que fantasia é esta, que presente

cad’ hora ante meus olhos me mostrais?

Com sonhos e com sombras atentais

quem nem por sonhos pode ser contente?
*


Vejo vos, pensamentos, alterados

e não quereis, d’esquivos, declarar me

que é isto que vos traz tão enleados?
*


Não me negueis, se andais para negar me;

que, se contra mim estais alevantados,

eu vos ajudarei mesmo a matar me.
*

 

Luíz de Camões
***


Pra preservar-vos, pensamentos meus

que sois dos meus sonetos a matriz,

far-me-ei mais liberta e mais feliz

do que as aves que cruzam estes céus
*


Mas s`inda assim teimais em ser incréus,

moldar-vos-ei dos ramos à raiz

pois se bem o pensei, melhor o fiz:

Serei juiz e vós sereis os réus!
*


Ah, não me negareis o que não nego

ao meu direito de permanecer

enquanto não for surdo e mudo e cego
*


De vós farei aquilo que entender:

se vos não confiar talento e  Ego

sei que serei eterna até morrer.
*

 

Mª João Brito de Sousa

22.02.2024 - 13.00h
***

 

O soneto de Camões foi transcrito do blog Sociedade Perfeita

19
Fev24

CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO VI

Maria João Brito de Sousa

camões VI final.jpg

Imagem Pinterest

*

CONVERSANDO COM CAMÕES NO SEU QUINGENTÉSIMO ANIVERSÁRIO - VI
*

 

PORQUE QUEREIS,SENHORA, QUE OFEREÇA

*


Porque quereis, Senhora, que ofereça

A vida a tanto mal como padeço?

Se vos nasce do pouco que mereço,

Bem por nascer está quem vos mereça.
*


Entendei que, enfim, por muito que vos peça,

Poderei merecer quanto vos peço;

Pois não consente Amor que em baixo preço

Tão alto pensamento se conheça.
*


Assim que a paga igual de minhas dores,

Com nada se restaura, mas deveis ma,

Por ser capaz de tantos desfavores.
*


E se o valor de vossos amadores

Houver de ser igual convosco mesma,

Vós só convosco mesma andais de amores.

*

Luiz de Camões
***

I
*

Que só comigo mesma ando de amores?

Haveis enlouquecido, Luiz Vaz?

Eu vos direi o quanto não me apraz

De vós ouvir pior do que aos piores
*


Mas já que vos ouvi tais despudores,

Ouvi-me a mim que vos não fico atrás

E até ao despudor sou bem capaz

De desmontar sem honras nem louvores...
*


A todas cortejais de igual maneira

E a todas mentis todos os dias

Porque a cada dizeis ser a primeira
*


E a única também. Ah, felonias

Que a tantas ferem co`a lança certeira

Das vossas mentirosas cortesias!
*

II
*

E que compensação posso dever-vos

Se nunca seta alguma vos lancei

E, à vossa, bem depressa a rejeitei

Porquanto me fazia mal aos nervos?
*


Vedes-me porventura entre mil servos

Gabando-me de quantos conquistei?

Ama não sou e serva não serei

Que antes corça seria entre os mais cervos!
*


Ah, sim, amei em tempos, loucamente,

Que tudo tem seu tempo e a Primavera

Da vida que nos cabe e que se sente
*


Terminou antes que eu me precavera

Mas deixou-me no peito uma semente

Que num dia abre em flor e noutro em fera.
*

 

Mª João Brito de Sousa

No Décimo Nono Dia do Ano da Graça de MMXXIV
***

 

O soneto de Camões foi retirado daqui

 

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