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poetaporkedeusker

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UM BLOG SOBRE SONETO CLÁSSICO

Da autoria de Maria João Brito de Sousa, sócia nº 88 da Associação Portuguesa de Poetas, Membro Efectivo da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores - AVSPE -, Membro da Academia Virtual de Letras (AVL) , autora no Portal CEN, e membro da Associação Desenhando Sonhos, escrito num portátil gentilmente oferecido pelos seus leitores. ...porque os poemas nascem, alimentam-se, crescem, reproduzem-se e (por vezes...) não morrem.
28
Dez16

GLOSANDO LUIZ VAZ DE CAMÕES IV

Maria João Brito de Sousa

semente.jpg

 

 



MUDAM-SE OS TEMPOS...

*


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

*

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

»

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

»

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.


Luiz Vaz de Camões

*

 

 

DIALÉCTICA

*

"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,"

Muda-se o gesto, o modo, o linguajar

E até por não poder se não mudar,

Se mudam, do ser vivo, as qualidades.

*

"Continuamente vemos novidades,"

De que iremos gostar, ou desgostar,

Conforme as consigamos, nós, olhar

Com lucidez que afaste ambiguidades.

*

 

"O tempo cobre o chão de verde manto(,)"

E, o nascimento, a vida de alegria

Que tanta vez se muda em desencanto

*

"E afora este mudar-se cada dia"

De sol brilhante, numa noite em pranto,

A Vida a toda a hora se cambia.

*

 

 

Maria João Brito de Sousa - 28.12.2016 -12.01h

 

 

 

 

 

 

18
Set16

GLOSANDO LUIZ VAZ DE CAMÕES III

Maria João Brito de Sousa

der Fliegende Holander II.jpg

 

JURANDO DE NÃO MAIS EM OUTRA VER-ME

*

Como quando do mar tempestuoso 
O marinheiro todo trabalhado, 
De um naufrágio cruel saindo a nado, 
Só de ouvir falar nele está medroso, 
*
Firme, jura que o vê-lo bonançoso 
Do seu lar o não tire sossegado; 
Mas esquecido já do horror passado, 
Dele a fiar se torna cobiçoso,



Assi, Senhora, eu que da tormenta 
De vossa vista fujo, por salvar-me, 
Jurando de não mais em outra ver-me; 

*

Com alma que de vós nunca se ausenta, 
Me torno, por cobiça de ganhar-me, 
Onde estive tão perto de perder-me. 



Luís Vaz de Camões

In "Sonetos"

***

BRAVATA(S)



"Como quando do mar tempestuoso"

Que engole inteiro o velho galeão,

Emerge o grande vate e traz na mão

Quanto lhe fora em vida mais precioso,

*

"Firme, jura que vê-lo bonançoso"

Chegar às mãos de D. Sebastião,

Lhe justificará toda a aflição

Da luta contra um mar fero e raivoso

*

"Assi, Senhora, eu que da tormenta"

Medo não tenho e vibro de ousadia,

O mesmo irado mar enfrentaria
*

 

"Com alma que de vós nunca se ausenta";

Que tempestade, a mim, me afogaria,

Se aquilo que respiro é Poesia?

*



Maria João Brito de Sousa -17.09.2016 - 21.11h

poesis-raphael-morghen-.jpg

 

 

08
Set15

"ERROS MEUS, MÁ FORTUNA, AMOR ARDENTE"

Maria João Brito de Sousa

digitalizar0041.jpg

 

"Erros meus, má fortuna, amor ardente"...
de erros que me sobrassem, naturais,
fui trocando - de menos, ou demais? -
as quadras por sonetos... dei semente!

"Tudo passei, mas tenho tão presente"
um ror dos pecadilhos mais venais,
dos comuns, cometidos por mortais
que à perfeição aspirem, tão somente...

"Errei todo o discurso de meus anos",
talvez num verso, ou noutro... é natural
porque apenas humana e nunca um deus!

"De amor não vi senão breves enganos",
mas como posso, a Amor, levar a mal,
se, o próprio, erros comete, iguais aos meus?



Maria João Brito de Sousa - 08.09.2015 - 11.47h

 

NOTA - Soneto escrito na sequência da publicação do soneto de Camões com o mesmo título, glosado por Helena Fragoso.

 

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