CONVERSANDO COM JOAQUIM SUSTELO - Cabelos brancos
DEMÃOS DE TINTA
Já dei uma demão no meu cabelo
de tinta que era branca, sem mistura
pintando devagar, com pouco zelo,
manchando a outra que era, negra, escura
Dizem "mais vale sê-lo que par'cê-lo..."
E já pareço. E sou. Alguma alvura,
atesta que há um selo no Sustelo
de algum caminho andado... de lonjura...
Darei outra demão. De forma lenta...
a ver se como esta, bem me assenta,
formando um preto e branco, algo cinzento
Ao fim de três demãos estará pintado.
Mas estarei eu por cá, ou abalado?
Será que o tempo vai... deixar-me tempo?
Joaquim Sustelo
(direitos reservados)
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CONVERSANDO...
O meu, que era de um negro de carvão,
Lá se foi, pouco a pouco acinzentando...
Cedo lhe deram primeira demão,
Há tanto tempo que já nem sei quando...
Fosse essa a minha grande frustração,
Fosse esse o tanto que me vai magoando
E eu rir-me-ia, com ou sem razão,
Das mágoas com que a dor me vai brindando.
Mais branco do que teu, o meu vai estando
E, a cada dia, mais se vai pintando
Dessa cor branca, a nossa geração,
Portanto vai sorrindo e poetando!
Pensa que o teu cabelo branqueando
É sinal de que vives, meu irmão!
Maria João Brito de Sousa – 05.09.2017 – 15.35h