BARRO

BARRO
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Do barro nascem nuas as ideias

Moldadas pelos dedos generosos

Do assombro dos homens já sem peias

Que ainda estão de ideias sequiosos.
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Sou loba solitária entre alcateias

De barro vivo. Mansos ou raivosos,

Todos são carne e osso e sangue e veias

Que arreganham o dente aos poderosos.
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Escolhemos a maior das aventuras;

Do barro erguemos humanas figuras

Que dão a vida pela própria vida.
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Conhecemos-lhe todas as texturas

E alguns de nós exibem as fissuras

Da argila muito antiga ou mal cozida.
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Maria João Brito de Sousa - 04.11.2020 - 13.20h

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Imagem retirada daqui

publicado às 13:23

NOVE ANOS, POR AMOR, MOLDEI, ESCULPI...

(Soneto em decassílabo heróico)

Nove anos, por amor, moldei, esculpi,

Fui dando forma ao barro da palavra;

Nove anos, sol a sol, servi, qual escrava,

Na voz do verbo, o barro em que nasci!

Nove anos, por opção, não desisti

Dessa labuta que por mim clamava

E nove anos a fio sobrevivi

Dos parcos frutos que esse ofício dava.

Por outros nove, ou mais, resistiria

Se esta vida tão só mos concedesse;

Mais nove vezes nove os moldaria

No barro da palavra... se o pudesse,

Pois quem do barro vive, em barro cria

As palavras, nas quais se reconhece.

Maria João Brito de Sousa - 23.06.2016

publicado às 23:30