GLOSANDO ANTÓNIO GEDEÃO
Soneto
Ao Luís Vaz, recordando o convívio da nossa mocidade.
Não pode Amor por mais que as falas mude
exprimir quanto pesa ou quanto mede.
Se acaso a comoção concede
é tão mesquinho o tom que o desilude.
Busca no rosto a cor que mais o ajude,
magoado parecer os olhos pede,
pois quando a fala a tudo o mais excede
não pode ser Amor com tal virtude.
Também eu das palavras me arredeio,
também sofro do mal sem saber onde
busque a expressão maior do meu anseio.
E acaso perde, o Amor que a fala esconde,
em verdade, em beleza, em doce enleio?
Olha bem os meus olhos, e responde.
António Gedeão
in Colóquio Letras, nº55, Maio de 1980
IMENSURABILIDADE(S)
"Não pode Amor, por mais que as falas mude",
Muito objectivamente ir-se explicando,
Pois perde-se em razões, nunca encontrando,
Quando se quantifica, uma atitude.
"Busca no rosto a cor que mais o ajude";
Quando se lilude, é porque a foi esboçando
E invariavelmente a vai cambiando
Conforme se lhe impõe essa, a que alude...
"Também eu das palavras me arredeio"
Sempre que de Amor falo e, reconheço,
Que da(s) palavra(s) tenho algum receio
"E acaso perde, o Amor que a fala esconde,"
Dessa chama, ou centelha, o alto preço,
Por mais que, ao zero, o preço se arredonde?
Maria João Brito de Sousa - 25.12.2016 - 12.11h